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Safra de sambas para o carnaval 2026 é mediana; leia a crítica

05/11/2025 08:05 O Globo - Rio/Política RJ

E o disco de sambas-enredo, quando sai mesmo?
Não é bem um disco, mas saiu. Os 12 sambas das escolas do Grupo Especial para o carnaval de 2026 já estão disponíveis nas plataformas de streaming, e suas versões oficiais podem ser comparadas com aquelas que já estavam disponíveis no YouTube — que até satisfaziam a ansiedade do bloco dos apressadinhos, mas eram distantes do que se ouvirá na Avenida. As gravações extraoficiais foram resenhadas no GLOBO no dia 14 de outubro, e muitas opiniões ali expressas ainda valem (resumindo: a safra continua mediana). Mas agora o papo é oficial, com gravações 100% profissionais.
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Pela ordem: a estreante Acadêmicos de Niterói abre o carnaval das grandes escolas no dia 15 de fevereiro com uma passeata, aliás, uma homenagem ao presidente Lula com “Do Alto do Mulungu surge a esperança: Lula, o operário do Brasil”. Bem puxado por Emerson Dias (ex-Salgueiro e Grande Rio), com canja de Teresa Cristina, uma das autoras, trata-se de um belo samba-enredo. Conta a história de Lula, da pobreza em Pernambuco ao poder, com menções a bastiões da esquerda, do combate à fome a “Ainda estou aqui”. Quem for anti-Lula vai conseguir separar as coisas e cair na folia? Certamente não. Mas o dever de casa niteroiense foi feito com louvor. Vai segurar a escola no Grupo Especial? Certamente não, também.
Num domingo cheio de pesos-pesados, a Imperatriz Leopoldinense vem em seguida com a homenagem ao astro Ney Matogrosso, em “Camaleônico”, e os problemas constatados na audição via YouTube continuam lá: uma fusão de sambas resultou numa obra desigual, que abusa das citações de sucessos do cantor e não vai muito longe. Ney participa cantando versos da “Balada do louco” — o que pode causar uma certa confusão, já que a canção é de autoria de Rita Lee (com Arnaldo Batista), enredo da coirmã Mocidade Independente de Padre Miguel. O refrão da Imperatriz, sem referência ao enredo, pode até pegar.
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Wagner Rodrigues/Imperatriz Leopoldinense
Já se disse que o domingo é da pesada? Pois lá vem a Portela e seu “O mistério do Príncipe do Bará — A oração do negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande”, agora na voz de Zé Paulo Sierra, que veio às pressas substituir a fera Gilsinho, morto às vésperas da escolha do samba. Pois a canção, que já soava bem de forma improvisada, chega mais redonda ao disco, com a alegria de Zé Paulo contrastando com o tradicional tom dolente dos sambas da Portela.
Amapá não rende
Para encerrar o domingo, a Mangueira vai ao Amapá homenagear Mestre Sacaca, o guardião da Amazônia Negra. O tema interessante não rendeu um samba inspirado, e a versão do YouTube já era com Dowglas Diniz, voz oficial da verde e rosa. Pouco mudou.
Partiu segunda-feira, e lá vem a bateria da Mocidade Independente. Ao microfone, um estreante com profundas raízes na escola: Igor Vianna, que há anos milita em divisões inferiores. É filho do lendário Ney Vianna, uma das vozes mais identificadas com a agremiação. Apesar do bom trabalho do cantor, o samba não decola: mais uma vez, menções a sucessos da homenageada, guitarras de leve temperando a gravação, tudo muito simpático, mas difícil de estourar na Avenida.
O papo fica sério com a chegada da campeã Beija-Flor de Nilópolis: ao som dos atabaques, a soberana da Baixada vem com um dos melhores sambas do ano, mergulhado na África, via Bahia, em “Bembé”, sobre o maior candomblé de rua do mundo. Aposentado, Neguinho da Beija-Flor deixa saudade, mas os eleitos Nino do Milênio e Jéssica Martin não fazem feio. A rima de “retumba” com “macumba” não é exatamente inspirada, mas a Beija-Flor tem tudo para sacudir.
Uma das homenagens mais emocionantes do ano vem de Niterói. Quem vê o clipe da Viradouro (foram produzidos filminhos oficiais para as 12 escolas, todos ótimos, disponíveis no YouTube) sem prestar muita atenção pode pensar que o velho Estácio de Sá voltou ao Grupo Especial, mas não é exatamente isso: a escola tem como enredo o Mestre Ciça, seu diretor de bateria e cria da escola do Morro de São Carlos. O clipe, no entanto, é melhor do que o samba — que fala mais do Estácio do que do tema propriamente dito. Wander Pires, que, ano após ano, vem domando seus exageros vocais, tem boa performance.
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“Muda essa história, Tijuca!/ Tira do meu verso a força pra vencer”, canta Marquinhos Art’Samba (que, de óculos e colete no clipe, está lembrando Jamelão, lenda de sua antiga escola, a Mangueira) em um dos refrãos mais emocionantes do ano. Se já era bom com Wander Pires na versão antiga, o samba do Borel em homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus chegou ao ponto perfeito, embala

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