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Que Jogo É Esse: Flamengo x Palmeiras: um duelo que transformou o Brasileirão em disputa padrão europeu

18/10/2025 10:01 O Globo - Rio/Política RJ

Um dos melhores campeonatos do mundo quando o quesito é disputa de título, o Brasileirão sempre flerta com o equilíbrio, mas a verdade é que, lá no alto da tabela, o campeonato de 2025 virou uma conversa de dois - com um intruso mineiro querendo, mas não conseguindo entrar. Palmeiras e Flamengo vão se encontrar domingo, às 16h, no jogo que talvez ajude a definir quem é o dono do ano. São líder e vice-líder, separados por três pontos e por tudo o que têm em comum: elencos milionários, técnicos de ponta, torcida numerosa e uma rotina de decidir títulos como quem decide o almoço de domingo. O resto do país observa de longe, entre o espanto e a resignação, enquanto os dois maiores orçamentos do futebol brasileiro, e os melhores times na última década, transformam o campeonato em um duelo particular. E o curioso é que, no fim das contas, quem perder não vai exatamente fracassar — vai apenas esbarrar na excelência alheia. Um tropeço por excesso de qualidade do outro, um vice de luxo num campeonato que parece ter virado uma disputa de quem é mais campeão que o outro.
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Se você torceu a cara ao ler a última frase, adianto logo a sessão THALESPÉDIA pra cá: os números explicam tudo. O que Palmeiras e Flamengo estão fazendo em 2025 é estatisticamente absurdo — o maior domínio conjunto desde que o Brasileirão virou pontos corridos. Juntos, somam 119 pontos em 27 rodadas, o que dá 73,5% de aproveitamento de média, marca que supera até o ritmo do certame de 2019, aquele do recorde histórico de pontos do Flamengo de Jorge Jesus e do “campeonato resolvido em outubro”. Em nenhum outro ano da era moderna dois clubes andaram tão juntos, tão acima da média e tão distantes do resto.
Pra se ter uma ideia, o segundo melhor desempenho somado veio justamente naquele 2019 (71,9%), e o terceiro em 2021, com 68%. Em 2025, a média dos dois, projetada para 38 rodadas, dá algo na casa dos 84 pontos. Ou seja: em qualquer outro Brasileirão recente, qualquer um dos dois, se seguirem nesse ritmo, seriam campeões folgados. Este ano, não. O que um faz, o outro copia — e quem tropeçar no caminho vai acabar perdendo não por demérito, mas por falta de espaço no topo. Um campeonato de luxo, com dois campeões convivendo no mesmo andar do prédio. Só que a taça só vai pra um.
Agora, se você voltar no tempo até 2009, dá até pra achar que estamos falando de outro esporte. Naquele ano, o somatório dos dois primeiros colocados — Flamengo e Inter — foi de 132 pontos, um aproveitamento de 57,9%, o pior da era dos pontos corridos. Ou seja: o mesmo campeonato, com as mesmas 38 rodadas, a mesma tabela, as mesmas regras, mas com outro astral. Parecia um Brasileirão em ritmo de ressaca, em que o líder tropeçava tanto quanto o lanterna, e o título foi decidido mais na base da emoção do que da excelência. Em 2025, o cenário é o oposto: o campeonato é o mesmo, mas o nível é outro — se em 2009 dava pra ser campeão com um certo improviso, agora é preciso jogar no modo “Super Trunfo” todo domingo.
E o domínio não para na tabela de pontos — ele transborda em todas as estatísticas possíveis. Flamengo e Palmeiras são, literalmente, os donos do campinho: têm os dois melhores ataques (53 gols rubro-negros e 51 alviverdes, mesmo com um jogo a menos), duas das três defesas menos vazadas, e lideram em praticamente tudo o que dá pra medir — chances criadas, finalizações certas, gols esperados, passes no terço final… É quase um Brasileirão particular, onde o resto do país corre pra ver se ainda dá pra enxergar o retrovisor.
Mesmo em segundo lugar, o Flamengo flerta com um recorde que ele mesmo estabeleceu: o maior saldo de gols da história dos pontos corridos, +49 em 2019. Hoje, o time de Filipe Luís já tem +40, e, curiosamente, em 2019, na mesma 28ª rodada, o saldo era +36. Ou seja, o Rubro-Negro está em ritmo de quebrar o próprio recorde — e se for campeão, deve fazê-lo com números ainda mais impressionantes. O Palmeiras, por sua vez, faz menos gols, toma mais, mas é mais competente: não perde a liderança nem se for derrotado, e está em ritmo que parece que nem o rival mais competente é capaz de pegar. É um duelo entre Rio e São Paulo em dois estilos diferentes, um mesmo resultado: um domínio que deixa o campeonato com cara de campeonato europeu disputado no horário das quatro da tarde.
Se a comparação parece ousada, os números tratam de colocá-los lado a lado: Palmeiras e Flamengo estão jogando em ritmo europeu, dos tais campeonatos que só dois disputam e os outros observam. Com 73,5% de aproveitamento em média, os dois superam, por exemplo, o desempenho dos líderes da Premier League de 2023/24 (Liverpool e Arsenal, 69,3%) e ficam logo atrás dos picos de 2021/22 e 2022/23 — os anos em que City e Arsenal correram lado a lado com aproveitamentos

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