
A cidade dos gatos: conheça a relação milenar entre Istambul e seus felinos
Caminhar pelas ruas de Istambul é encontrar felinos selvagens, belos e enigmáticos. Eles se aproximam, esfregando-se uns nos outros sem pressa. É comum avistá-los em vitrines ou ambientes fechados, dormindo profundamente ou observando com interesse quem se aproxima. Os gatos da cidade têm uma característica única: não têm medo de humanos.
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“O Gato de Três Pernas” é o título poético da 18ª Bienal de Istambul. Centenas de milhares desses animais chegaram à cidade em navios cargueiros há séculos e vivem nesta metrópole reluzente, que recentemente sediou a feira internacional de arte contemporânea Contemporary Istanbul, cuja inauguração coincidiu com o início da Bienal.
Em Istambul, as pessoas cuidam e respeitam os gatos, chegando a construir casas para eles nas ruas. O "gato de três patas" simboliza resiliência, adaptação e sobrevivência. Aqui, os felinos não são considerados animais de estimação ou vadios: fazem parte da vida urbana como vizinhos silenciosos e guardiões, legado da tradição islâmica e da história portuária, representando liberdade, coexistência e identidade turca.
A cidade que acolhe felinos
Em todos os bairros, os moradores colocam casas de madeira nas calçadas, deixam tigelas de água e comida ou simplesmente acariciam o gato que cruza seu caminho. O Estado também instalou dispensadores automáticos de comida em praças e parques, e pequenas casas formam verdadeiros complexos felinos. Um gato pode entrar em uma loja, museu ou livraria sem ser expulso: ele é respeitado.
“Oscilando entre a brincadeira e a ameaça, o gato carrega consigo um espírito inquieto que o guia por passagens sombrias. Em uma paisagem devastada, isso pode lhe custar caro, até mesmo uma pata. 'O Gato de Três Pernas' desliza silenciosamente, aparecendo e desaparecendo. Seu andar torto carrega os ecos de um horror indizível”, afirma a Bienal. “Relatando sobre três pernas, entre 2025 e 2027, a 18ª Bienal de Istambul se torna inteiramente felina.”
A primeira fase da Bienal, que vai até 23 de novembro e acontece em oito prédios históricos diferentes, apresenta uma exposição com quase cinquenta artistas de todo o mundo, além de performances, exibições e palestras sobre autopreservação e futuro. A artista argentina Celina Eceiza participa com uma grande instalação.
Gatos como parte da vida urbana
Os gatos de Istambul reinam com a mesma naturalidade com que o Bósforo divide a cidade em dois continentes. Eles podem ser vistos em muralhas de pedra bizantinas, cadeiras de cafés, lojas de roupas ou entre barracas de especiarias. Não são animais abandonados: são gatos comunitários, livres e cuidados por todos.
Havia até gatos famosos, como Gli (que significa “união por amor”), que vivia na imponente Mesquita de Santa Sofia. Acariciada por Barack Obama durante sua visita a Istambul em 2009, tornou-se uma atração a mais e ganhou até conta no Instagram, aberta por um guia turístico.
A relação dos turcos com os gatos é histórica. Na tradição islâmica, são valorizados por sua limpeza. Diz-se que o Profeta Muhammad tinha um gato chamado Muezza, a quem respeitava e protegia. Eles eram sempre bem-vindos em mesquitas e lares.
História e tradição felina
A importância dos gatos também está ligada à história portuária de Istambul. Durante séculos, mantiveram ratos afastados em navios, mercados e armazéns de grãos. Em vez de erradicá-los, a cidade os acolheu como aliados. Com o tempo, tornaram-se habitantes reconhecidos do tecido urbano.
Diferente da Europa medieval, onde gatos eram perseguidos e considerados satânicos, Istambul nunca participou de massacres em larga escala. “A percepção negativa dos gatos na Europa medieval nunca foi vista na Istambul bizantina ou turca. Esses animais eram vistos como criaturas de Deus, como membros da família”, explica Vedat Onar, veterinário e zooarqueólogo da Universidade Mugla Sitkı Kocman.
A conexão da região com o Egito e o mundo islâmico garantiu que os gatos fossem tratados com afeição. “Isso se estende além dos gatos, abrangendo todos os animais. Durante o período otomano, eles permaneceram parte da vida cotidiana, em casas e ruas. Nunca foram maltratados. Embora não existam mais os 'Mancacı' — vendedores ambulantes que alimentavam animais vadios — as pessoas ainda cuidam dos gatos nas ruas”, completa Onar.
Essa relação única foi capturada no documentário Kedi (2016), que mostra a convivência especial entre felinos e humanos na Turquia.
Coexistência que inspira
Perguntados sobre o amor aos gatos, moradores de Istambul respondem com carinho: “Acho que eles são parte de nós”, diz Gamze Birdal, estudante de arte de 21 anos. “Nós amamos animais e eles nos amam de volta”, acrescenta Osmar, funcionário de hotel de luxo.
Para Yonca Özturk, de 17 anos, os gatos aj
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