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Presidente do Panamá denuncia pressão dos EUA contra a China: 'Eu só aspiro ao respeito'

17/10/2025 01:45 O Globo - Rio/Política RJ

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, denunciou hoje pressões dos Estados Unidos sobre funcionários panamenhos para reduzir a presença de empresas chinesas em seu país.
Desde antes de assumir o cargo, em janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçava recuperar o canal do Panamá sob o argumento de que a via interoceânica está sob controle de Pequim.
Agora, segundo Mulino, funcionários da embaixada dos Estados Unidos no Panamá ameaçaram retirar os vistos de entrada de funcionários panamenhos que favoreçam a presença de empresas chinesas no país.
— Eu tenho essa informação, de várias pessoas, de que há uma funcionária por aí da embaixada ameaçando retirar vistos, isso não é coerente com uma boa relação que eu aspiro manter com os Estados Unidos — disse Mulino durante sua coletiva de imprensa semanal. — Eles são livres para conceder ou retirar vistos de quem quiserem, mas não ameaçando que, se você não fizer isso, eles retiram o visto.
Mulino respondeu dessa forma a um jornalista que lhe perguntou sobre pressões da embaixada dos Estados Unidos sobre ministros, deputados e advogados panamenhos para prejudicar empresas chinesas no Panamá.
Embaixador dos EUA responde
Horas depois, o embaixador dos Estados Unidos no Panamá, Kevin Marino Cabrera, defendeu o direito de revogar vistos, sem negar nem confirmar as ameaças denunciadas por Mulino.
"Revogamos e negamos vistos de acordo com nossas leis e regulamentos, independentemente da profissão ou posição do indivíduo no governo", disse em uma mensagem enviada à AFP.
O embaixador indicou que desde setembro o Departamento de Estado tem "uma nova política de restrição de vistos" para os centro-americanos que em seus países "atuam intencionalmente em nome do Partido Comunista Chinês".
A presença chinesa no Panamá remonta à metade do século XIX, quando cidadãos do gigante asiático chegaram para trabalhar na construção da ferrovia interoceânica.
O Panamá mantém relações diplomáticas com a China desde 2017, ao romper com Taiwan. Desde então, empresas chinesas ganharam licitações para realizar várias obras de infraestrutura, como um porto para cruzeiros e uma nova ponte sobre o canal do Panamá.
— Os contratos que existem com empresas chinesas por parte do Estado são muito conhecidos e muito poucos e não podem ser eliminados, por mais que sejam os Estados Unidos — afirmou o presidente panamenho. — Eu só aspiro ao respeito, não me ocorreria ir ao estado da Califórnia para falar sobre os problemas do estado da Califórnia ou dos Estados Unidos dentro do seu território.
Em junho, o governo de Trump cancelou o visto do ex-presidente panamenho Martín Torrijos (2004-2009), junto com outros políticos e ativistas, por criticar um acordo que permite o envio de militares americanos ao país centro-americano.
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O Brasil hoje importa etanol anidro em momentos em que a demanda interna é alta e a produção local não consegue atendê-la. A reclamação dos americanos é que a taxação brasileira, de 18%, é elevada. Os EUA taxam em 2,5% o etanol brasileiro. No mercado de etanol, produzimos a partir da cana-de-açúcar e os americanos a partir milho, os dois países são os maiores produtores do mundo.
Um presidente de entidade setorial que tem dialogado com autoridades brasileiras e americanas sobre a negociação comercial afirma que o assunto está na mesa, juntamente com o interesse americano por um eventual acordo sobre terras raras e minerais críticos para a transição energética.
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— Ocorre que eventualmente abastecemos o mercado deles e vice-versa. O nosso etanol tem valor de produção mais baixo e é menos poluente. O que o Trump alega é que tarifa do Brasil tem tarifa mais alta para o etanol americano que o Brasil importa. Essa é seria a reclamação de mais fácil resolução porque pode-se fazer uma regulação de cotas de importação a uma tarifa mais baixa via Câmara de Comércio Exterior, pelo próprio MDIC — afirma Leandro Barcelos, sócio da consultoria 7IBS.
Na área de minerais, os Estados Unidos pleiteiam a garantia de fornecimento firme, se não preferencial, por meio de um acordo com o Brasil para a aquisição dos chamados minerais estratégicos, a exemplo de lítio e nióbio, bem como acordos envolvendo as chamadas terras raras, um conjunto de minerais importantes para a transição energética e usados, por exemplo na fabricação de baterias, turbinas eólicas e telas de LED.
Hoje, a rigor, empresas americanas já podem investir no setor no Brasil, embora parcela relevante dos investimentos na área no país hoje ser feita por empresas chinesas. Não há, atualmente, tratamento preferencial a empresas americanas.
Uma possível proposta aventada por executivos é um acordo comercial setorial, ou seja, com escopo só para a mine

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