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Alckmin sobre tarifaço: fator político parece estar superado

17/10/2025 21:42 O Globo - Rio/Política RJ

O fator político, que impulsionou o primeiro movimento do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, parece agora estar superado. A avaliação é do vice-presidente Geraldo Alckmin, um dia após a reunião do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para negociar o fim do impasse. Em seu último dia na Índia, numa viagem decidida após um tarifaço igual sofrido por ambos os países, Alckmin manifestou otimismo de que as conversas com os EUA avancem, principalmente diante da perspectiva de encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Trump no fim do mês.
— O Brasil é um país amigo, um grande parceiro [dos EUA] historicamente, são mais de 200 anos. E, como foi dito pelo presidente americano, houve boa química. Eu, que fui professor a vida inteira de cursinho de química orgânica, digo que a química acelera os processos — disse Alckmin, em entrevista exclusiva ao GLOBO.
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Após ter sido mencionado por Trump quando o presidente americano anunciou uma taxação extra de 40% sobre produtos do Brasil, em julho, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro ficou de fora da reunião entre Vieira e Rubio nesta quinta-feira em Washington. O assunto tampouco havia sido abordado na conversa de Lula e Trump do último dia 6. Para Alckmin, isso indica que a interferência política está começando a se tornar página virada.
— Caminha para ser superado, porque está ficando claro que a separação de poderes é a base da lei, do regime democrático. Não tem um poder que comanda o outro. Os poderes são independentes — afirmou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. — E mais, os Estados Unidos não podem reclamar, as exportações americanas para o Brasil este ano estão crescendo a dois dígitos, mais de 11%.
Após três dias de agenda intensa na capital indiana, em que foi recebido por cinco ministros além do vice-presidente do país, Alckmin se disse satisfeito com o resultado da viagem. A ideia da visita surgiu no telefonema que Lula fez ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em agosto, para falar do tarifaço. Por motivos diferentes, Brasil e Índia foram atingidos pelo mesmo nível de taxação total, 50% sobre exportações.
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Entre os itens que podem entrar na negociação, Alckmin confirmou que um deles é o possível investimento dos EUA na exploração de terras raras, minerais críticos usados para a produção de tecnologias, dos quais o Brasil está em segundo lugar entre as maiores reservas do mundo, só superadas pelas da China. O primeiro passo, já iniciado, é ter um estudo geológico para identificar o potencial do subsolo brasileiro e saber a melhor forma de “monetizar” as reservas do país, disse Alckmin.
O vice-presidente disse estar confiante, mas observou que é preciso aguardar o aprofundamento das conversas, repetindo o que disse o presidente Lula, "negociações não são um passe de mágica”. Embora a fatia do mercado americano já não seja tão significativa para o comércio exterior brasileiro como no passado, ela tem um papel importante, o que exige uma solução o quanto antes para o impasse criado pelo tarifaço, afirmou.
— As vendas para os Estados Unidos representam 12% de nossas exportações. Já foi o dobro disso na década de 1980. Mas elas continuam sendo muito importantes, porque não exportamos só commodity, mas valor agregado. Por isso é uma exportação importante que precisa ser resolvida, e acho que todos os passos estão sendo dados para resolver.
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Entre os resultados de sua visita à Índia, Alckmin destacou a iniciativa para negociar o acordo do Mercosul com o país, com o objetivo de ampliar o número de preferências tarifárias. A expectativa, segundo ele, é que o processo seja concluído em dez meses. Nesta sexta, Alckmin esteve na abertura do escritório da Embraer em Nova Délhi, que também contou com a presença do ministro da Aviação Civil da Índia, Kinjarapu Ram. No evento, foi assinado um acordo entre a Embraer e a Mahindra, um dos maiores conglomerados industriais da Índia, para comercializar no país o cargueiro militar C-390.
Em duas ocasiões durante a viagem, o vice-presidente foi questionado por jornalistas indianos sobre as novas ameaças do presidente Donald Trump de aplicar tarifas contra os países membros do Brics, do qual Brasil e Índia são membros fundadores, por considerar o grupo um ataque ao dólar. Na entrevista coletiva que encerrou sua visita, Alckmin respondeu que o Brics “não é contra ninguém, mas é a favor do livre mercado e do multilateralismo”.
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