
PGR defende retomada de inquérito sobre possível interferência de Bolsonaro na PF
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, defendeu nesta quarta-feira a retomada de um inquérito que investiga se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) interferiu na Polícia Federal (PF) durante o seu governo. Gonet quer que a PF esclareça se há uma conexão com outra investigação, sobre uma suposta estrutura paralela montada na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Esse inquérito, o primeiro aberto contra Bolsonaro após virar presidente, estava parado desde maio de 2024, quando o relator, ministro Alexandre de Moraes, questionou se Gonet concordava com um pedido de arquivamento apresentado na gestão anterior da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O procurador-geral defendeu que o inquérito volte à PF, que deve comparar os elementos coletados nessa investigação com a apuração da Abin Paralela. O objetivo é analisar declarações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, hoje senador, de que Bolsonaro queria ter acesso a informações sigilosas.
Em junho, a PF apontou a participação de Bolsonaro em um esquema de espionagem ilegal na Abin. O ex-presidente não foi indiciado, no entanto, porque ele já respondia pelo crime de organização criminosa no processo da trama golpista, pelo qual acabou condenado no STF no mês passado. Agora, cabe a PGR decidir se denuncia Bolsonaro e os 36 indiciados no caso.
O caso teve início após o GLOBO revelar, em março de 2023, a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país.
O inquérito sobre a possível interferência na PF foi aberto em abril de 2020, após Moro acusar Bolsonaro de tentar interferir na PF. A PGR, então, pediu a abertura de um inquérito para investigar os dois: Bolsonaro, pela possível interferência, e Moro por uma eventual denunciação caluniosa, caso a acusação não fosse verdadeira.
Em março de 2022, a PF encerrou o inquérito e concluiu que não houve crime de nenhum dos dois. Em setembro do mesmo ano, a então vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, solicitou o arquivamento. Lindôra era a número dois de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro para a PGR.
"Considerando as circunstâncias que permeiam o caso, a partir da análise criteriosa do arsenal probatório carreado aos autos, não há como atribuir ao Presidente da República Jair Messias Bolsonaro e ao ex-ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública Sergio Fernando Moro o cometimento de atos com repercussão criminal", alegou a vice-procuradora.
Agora, no entanto, Paulo Gonet considera que é necessário retomar as investigações. O procurador-geral afirmou que é possível extrair das declarações de Moro na época que a troca na direção-geral da PF, exigida por Bolsonaro, "possivelmente teve como real motivação a obtenção de informações privilegiadas sobre investigações sigilosas e a possibilidade de ingerências nos trabalhos investigativos que envolviam o Chefe do Poder Executivo Federal, seus familiares e aliados políticos".
"Imprescindível, portanto, que se verifique com maior amplitude se efetivamente houve interferências ou tentativas de interferências nas investigações apontadas nos diálogos e no depoimento do ex-Ministro, mediante o uso da estrutura do Estado e a obtenção clandestina de dados sensíveis", argumentou Gonet.
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