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Órgãos contaminados com HIV: caso completa um ano ainda com poucas respostas

11/10/2025 08:30 O Globo - Rio/Política RJ

Há um ano o país tomou conhecimento de um escândalo nunca antes visto no Sistema Único de Saúde: seis pacientes foram transplantados com órgãos infectados com HIV após erros em exames laboratoriais que apontaram falsos negativos. O responsável pelos exames foi o laboratório PCS Labs Saleme, sediado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e que fazia há meses todos as testagens em doadores de órgãos. Hoje, seis sócios e funcionários do estabelecimento respondem por lesão corporal gravíssima e associação criminosa em um processo que ainda está em andamento. Em paralelo, investigações sobre possíveis irregularidades na contratação da empresa pelo governo federal seguem em aberto e sem respostas.
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Contrato milionário
A investigação da Polícia Civil e do Ministério Público, na esfera criminal, concluiu que os exames apresentaram falsos positivos porque os donos do laboratório queriam economizar no controle de qualidade da máquina que analisava as amostras de sangue. Enquanto isso, a empresa tinha firmado um contrato de quase R$ 10 milhões com a Fundação Saúde para prestar os serviços ao Programa Estadual de Transplantes (PET) e outras unidades estaduais.
Quando o escândalo foi divulgado — cerca de um mês após os pacientes serem avisados sobre o erro — Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público abriram investigações para apurar se houve irregularidades na contratação do laboratório, que já tinha prestado serviços sem licitação. Um dos sócios, Walter Vieira, é parente do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que tem grande influência na secretaria estadual de Saúde. O parlamentar sempre negou qualquer relação com o caso ou com a contratação da empresa.
Operação da Delegacia Especial de Crimes Contra o Consumidor no Laboratório PCS Saleme
Rafael Campos/Divulgação
Após um ano, as investigações ainda não foram concluídas. Uma sindicância interna do governo estadual apontou diversas falhas no processo de testagem, mas nenhum responsável.
Este ano, alguns pacientes infectados aceitaram um acordo do laboratório intermediado pelo MPRJ. O valor não foi divulgado. Além da indenização, ficou assegurado um programa contínuo de acolhimento e acompanhamento médico, psicológico e social a pacientes e seus parentes.
Desde a revelação do escândalo, o Rio realizou 1.542 transplantes. Os testes são realizados agora pelo Hemorio, instituição de referência da rede pública estadual. Cada amostra é checada três vezes por equipes médicas e de enfermagem, antes da liberação do órgão para transplante.
A secretaria estadual de Saúde diz que “os pacientes e suas famílias vêm recebendo assistência de saúde multidisciplinar” e que “todo o processo de coleta, análise e identificação das amostras para transplantes foi aperfeiçoado e automatizado”.

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