
Na rota dos “nóias”, bairro encolhe, reforça segurança e sonha com porta aberta
A arquitetura do Jockey Club, bairro onde as ruas paralelas na vertical têm nomes de flores, mostra o desejo de manter as portas abertas, seja nos comércios ou moradias. Mas a cada entrevista os moradores reafirmam a necessidade de aumentar a segurança por causa “deles”, numa menção ao fluxo de dependentes químicos, que perambulam até a Vila Nhanhá, a “cracolândia” de Campo Grande. O Jockey Club fica localizada na região urbana do Anhanduizinho, que reúne grandes bairros, como Aero Rancho, Parati, Piratininga, Pioneiros, Alves Pereira e Centenário. Os números do Perfil Socioeconômico de Campo Grande, elaborados com dados dos Censos 2010 e 2022, mostram que o Jockey Club “encolheu”. Em 2010, a população era de 7.587 pessoas. Doze anos depois, o bairro aparece com 5.886 habitantes. Acuados por esse grande problema social, que se torna de segurança pública porque os usuários furtam para conseguirem drogas, a solução é espalhar câmeras, ter cachorro no quintal e, até mesmo, deixar um recado impactante na porta de casa. No último cenário, está Mario de Souza, 58 anos. No muro da residência, fica a placa: “Existe vida após a morte? Pule o muro e descubra”. A plaquinha comprada na internet foi escolhida pela frase “de respeito”. Ele conta que já teve até a câmera de vigilância furtada. Há 32 anos no bairro, Mario viu a tranquilidade se diluir. Enquanto que o ponto positivo vai para o atendimento na Unidade Básica de Saúde da Família “Dr Jorge David Nasse – Jockey Club”. “O médico, o doutor Gerson é nota 10, muito atencioso e sempre de bem com a vida”. A situação na saúde pública só não é melhor porque há meses faltam remédios na unidade. Na casa de Aridio da Silva Junior, 64 anos, que se mudou para o bairro por amor, afinal ali vivia a família de sua esposa, o muro permanece baixo, emoldurado com flores cor de rosa, e de portões abertos durante a entrevista na varanda, enquanto o balançar das árvores na calçada garantiam um refresco no forte calor da última sexta-feira (dia 17). Com a família envelhecendo, a opção foi morar todos juntos, são cinco pessoas no imóvel. “Para poder cuidar um dos outros. A nossa ideia é ficarmos juntos. Emocionalmente isso é bom e financeiramente também. É uma família que se cuida muito”. Sobre o bairro, ele conta que ainda gosta do Jockey Club, mas avalia que já foi melhor. “A questão das pessoas que ficam circulando por aqui, muito pedintes. Isso acaba inibindo as pessoas. Na hora de dormir, a gente se preocupa. Ficar na rua tomando tereré é um convite para um cara chegar e te assaltar”. O morador que se recusa a doar comida, por exemplo, acaba “punido” com riscos no carro. Com várias placas de vende-se e aluga-se, ali não se avista muitas betoneiras ou materiais de construção, indicativos de bairros em expansão imobiliária. O perfil é residencial, com setores de serviços, como oficina mecânica e academia, ao lado das moradias. O bairro também tem fábricas de salgado. Nas portas “comerciais”, nada ali é mais tradicional do que a Mercearia Cacimba. Aberto há quase cinco décadas para Emiliano Nunes de Almeida, 74 anos, vender sorvete de “máquina americano”, o local só recebe grades quando anoitece e segue atendendo até às 21h. Durante o dia, Emiliano fica sentado na entrada do comércio, que vende uma diversidade de “secos e molhados”, perto da Escola Municipal Padre José Valentim. Logo se destacam os baleiros, onde ficam os produtos que adoçaram muitas infâncias, como o docinho de banana, a maria mole “sorvete seco” e o de abóbora. O baleiro maior tem 47 anos. Ao lado de um menorzinho, eles são chamados, carinhosamente, de “pai e filho”. “Cheguei em 1977 e estou aqui até hoje. A rua aqui era tudo de chão. O colégio ocupava só a metade. Vi passar gerações por essa escola. O bairro é muito bom, perto do Centro”, diz o comerciante. Nas quase cinco décadas, ele só desistiu do fiado. “Faz uns cinco anos. Ficaram R$ 2 mil, nesses picadinhos, e não recebi nenhum tostão. Aí eu aprendi a falar a palavra não”. Na Avenida das Primaveras, ainda há imóveis de madeira, como o de Olívia Isolina do Nascimento, 67 anos. Nas cores alviverde, a charmosa casa se destaca em meio a paleta de tons mais pálidos. Ela conta que não é palmeirense, mas gostou da combinação do verde e branco. Há 45 anos no bairro, Olívia rememora que a casa já foi de vários familiares. “O bom de morar aqui é que é tudo perto”. Desde 2024, o bairro conta com a base do Gemop (Grupamento Especializado de Motopatrulhamento) da Guarda Civil Metropolitana. “Embora nossa base esteja aqui no Jockey Club, nós atendemos a cidade inteira”, diz o comandante Fernando Nogueira Ele afirma que a região é conhecida por ter muitos usuários de drogas, mas que o enfrentamento da situação vai além da segurança pública. A exemplo do entorno da antiga rodoviária de Campo Grande. “Alguns ficam agressivos, ameaçadores. A gente orienta o pessoal a circular, mas cinco minutos depois estão de volta. E pela lei
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