
Crise do metanol e preços altos derrubam vendas de bares e restaurantes em 4,9% em setembro
As vendas em bares e restaurantes recuaram 4,9% em setembro, na comparação com agosto, num reflexo do endividamento das famílias, da carestia na alimentação fora de casa e também pela crise de contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, que afastou frequentadores dos estabelecimentos por medo de intoxicação.
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Os dados são do Índice Abrasel-Stone, relatório mensal divulgado pela Stone em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes. Com relação ao mesmo período do ano anterior, as vendas apresentaram retração de 3,9%, após uma sequência de três meses de estabilidade.
Pesquisador da Stone, o economista Guilherme Freitas avalia que o resultado de setembro reflete um "ambiente mais desafiador para a alimentação fora do lar". Ele destaca a inflação específica do setor continua pressionada, o que encarece o tíquete médio e aumenta o preço.
Dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, mostra que a alta acumulada na alimentação fora de casa no ano terminado em setembro soma 8,24%, bem acima dos 5,17% da inflação geral do país.
Metanol traz incerteza
— Apesar de o mercado de trabalho seguir em bom nível, com baixa taxa de desemprego, o ritmo de geração de vagas formais perdeu força e o endividamento das famílias segue elevado. Esse quadro limita a renda disponível para consumo e afeta especialmente itens não essenciais, como refeições e bebidas fora de casa — pontua.
Também influencia nos resultados a crise do metanol, que adicionou um "fator pontual de incerteza" para a retração observada no mês. Segundo o economista, porém, as mortes e problemas de saúde após o consumo de bebidas adulteradas, que afastou consumidores dos bares, ainda devem causar impactos nos resultados dos estabelecimentos: há um efeito de timing, já que a crise ganhou tração apenas no fim de setembro.
— A leitura de setembro captura apenas parte do impacto. O diagnóstico mais completo deve aparecer nos dados de outubro, sobretudo em São Paulo, e especialmente nas primeiras semanas do mês, quando o tema teve maior repercussão e gerou cautela entre consumidores e estabelecimentos. No entanto, o impacto tende a ser pontual e de curta duração, já que a fiscalização e as medidas de controle rapidamente restabeleceram a confiança do público — projeta Freitas.
O impacto dos casos de intoxicação por metanol também é observado por Paulo Solmucci, presidente da Abrasel. Segundo o executivo, a crise "espalhou pânico entre os consumidores", levando a queda na movimentação de alguns estabelecimentos.
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Além disso, há ainda o calendário de faturamento do setor. Isso porque, historicamente, setembro tende a ser um mês de estabilidade ou leve retração para o setor, já que é um mês sem datas comemorativas relevantes:
— Setembro já começou com um ritmo abaixo do esperado em comparação a agosto, mês em que se comemora o Dia dos Pais, data importante para o faturamento do setor.
Análise regional e anual
Dos 24 estados contemplados pelo levantamento, apenas dois apresentaram crescimento nas vendas do setor de bares e restaurantes em setembro, na comparação anual: Maranhão (2,6%) e Mato Grosso do Sul (1%).
Já entre os estados com desempenho negativo, as maiores quedas foram observadas em:
Roraima (11,5%)
Pará (9,9%)
Rio de Janeiro e Santa Catarina (7,6%)
Paraíba e Sergipe (7%)
Mato Grosso (6,9%)
Rio Grande do Sul (6,5%)
Rondônia (5,8%)
Ceará (4,9%)
Bahia (4,2%)
Alagoas e Tocantins (4,1%)
Pernambuco (3,9%)
Espírito Santo (3%)
São Paulo (2,7%)
Minas Gerais (2,4%)
Amazonas (1,6%)
Goiás e Paraná (1,1%)
Rio Grande do Norte (1%)
Piauí (0,4%)
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