Muçulmano e socialista, fenômeno democrata deve conquistar Nova York
Ainda é difícil dimensionar o terremoto que a eleição do deputado estadual Zohran Mamdani, de 34 anos, para a prefeitura de Nova York causará na política americana se as pesquisas se confirmarem hoje. Menos por sua certeira denúncia da cidade partida, ponto de partida para sua impressionante ascensão, ainda que com projetos criticados por adversários por sua impossibilidade prática, e mais pelos simbolismos que carrega e o modo como os tratou ao se apresentar aos eleitores.
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O contraste que fez diariamente na campanha entre a metrópole curtida por ricos e turistas, da cidade real, com seus milhares de moradores incapazes de, ao mesmo tempo, pagar o aluguel nos bairros gentrificados, a creche dos filhos, o supermercado e o transporte, é pauta herdada de Bill de Blasio, alcaide da maior metrópole americana entre 2014 e 2021, sem fôlego para seguir adiante nas prévias presidenciais de 2020.
Mas Mamdami, um socialista, superou-o ao iniciar algo que, para cientistas políticas como Jonathan K. Hanson, da Universidade de Michigan, se assemelha “a um movimento”. Bonito, nascido na capital de Uganda, filho de um eminente professor da Universidade Columbia e de uma celebrada diretora de cinema indiana, indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mora com a família em uma casa de classe média no Queens. A cara de Nova York.
Popular entre os jovens
Ao usar as redes sociais de forma tão divertida quanto didática, viu seus números entre os jovens explodir. Seu exército de apoiadores voluntários, que remeteram estrategistas democratas, entre eles Donna Brazile, aos primeiros anos de um certo Barack Obama em Chicago, impulsionou-o à vitória nas primárias democratas em junho. Derrotou o candidato favorito da cúpula do partido, o ex-governador Andrew Cuomo, filho do também ex-governador Mario Cuomo, cotado para a Presidência nos anos 1980.
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O mesmo Andrew Cuomo que foi afastado do comando do estado após seguidas denúncias de assédio sexual decidiu se reapresentar aos nova-iorquinos como candidato independente. É quem aparece em segundo lugar nas pesquisas, apoiado por democratas centristas e a maioria dos eleitores de origem judaica com mais de 50 anos.
Sem medo de se mostrar do tamanho da cidade que pretende governar, Mamdani não se furtou de tratar de temas de política internacional. Classificou publicamente de genocídio a resposta militar de Israel em Gaza aos ataques terroristas de outubro de 2023. Mandou avisar a Benjamin Netanyahu que, eleito, ordenaria sua prisão caso visitasse a cidade. Muçulmano, foi acusado por adversários, inclusive no Partido Democrata, de antissemita, o que refutou em discursos sóbrios de retórica sofisticada.
Antes de se eleger deputado, Mamdani, que se especializou em Estudos Africanos, dedicou-se a ajudar imigrantes pobres a não serem ludibriados por espertalhões do mercado imobiliário local. Agora almeja comandar a cidade quando o país é gerido por um ex-magnata do setor, que o tacha de “comunista” e ameaça congelar investimentos federais na cidade se ele for eleito. Não é pouco barulho, mesmo para a cidade que nunca dorme.
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