MPF cobra do IML adoção de protocolo para apurar possíveis execuções em operação
Após a ofensiva policial mais letal da história do Rio de Janeiro, o Ministério Público Federal decidiu nesta quarta-feira (29) cobrar do Instituto Médico Legal (IML) do estado a adoção do "protocolo de identificação de vítimas de desastres" para os mais de 120 mortos na megaoperação ocorrida nos complexos do Alemão e da Penha.
Esse protocolo é adotado para investigação de mortes potencialmente ilícitas, como execuções extrajudiciais, arbitrárias ou sumárias, segundo fontes do MPF ouvidas pela equipe da coluna.
O ofício, obtido pelo blog, é assinado pelo procurador regional dos direitos do cidadão adjunto, Julio José Araújo Junior, que quer o IML garanta a “observância de quesitos mínimos nos laudos microscópicos”, como a fotografia e descrição completa de todas as lesões encontradas nos cadáveres e a identificação dos projéteis localizados nos corpos.
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O protocolo prevê, ainda, a elaboração de croquis detalhando as lesões nos corpos recuperados e o registro fotográfico de todas as características individualizantes, ou seja, aquelas utilizadas para determinar a identificação do cadáver.
Nas redes sociais, moradores dos Complexos da Penha e do Alemão que participaram das buscas por corpos na mata do entorno da região relataram terem encontrado corpos amarrados em árvores e com ferimentos a faca, com indícios de que foram executados após terem se rendido.
Imagens que circulam nas redes sociais exibem inclusive um homem decapitado entre os corpos recuperados pela população local.
Na madrugada desta quarta-feira, mais de 60 corpos foram retirados por populares de uma região denominada Vacaria, onde há uma densa mata. São cadáveres que ainda não haviam sido contabilizados pelo governo estadual até o final da última terça-feira, quando a megaoperação ocorreu.
Boa parte dos corpos foi levada à Praça São Lucas, no bairro da Penha, para a identificação por familiares. Outros foram encaminhados ainda na madrugada para o Hospital Getúlio Vargas, onde as vítimas – entre mortos e feridos – foram levados durante a operação de terça.
Segundo o último balanço oficial do governo Cláudio Castro, a incursão policial deixou 121 mortos, entre 117 suspeitos e quatro policiais – dois da Polícia Civil e outros dois do Bope, unidade de elite da Polícia Militar.
Trata-se da operação mais letal da história do Rio de Janeiro. A ação superou a do Jacarezinho, em 2021, quando 28 pessoas morreram. Outra incursão no Alemão e na Penha deixou 24 mortos em 2022. As três ocorreram sob a gestão Castro.
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