
Modelo francesa retorna às origens em ilha no Oceano Índico para dar visibilidade à população LGBTQIAPN+ em exposição
Raya Martigny tinha 16 anos quando deixou a Ilha da Reunião, um território francês no Oceano Índico, em busca do sonho de ser modelo em Paris. Estava na direção certa: aos 29, já trabalhou para grifes como Jean-Paul Gaultier e Martin Margiela e atuou como atriz. Sucesso que jamais eclipsou as origens. Pelo contrário. Como mulher trans, ela se viu tomada pelo desejo de voltar à terra natal, onde quer mudar o curso das coisas. “Pode ser muito difícil crescer como LGBTQIAPN+ por lá. Sem o apoio da família, muitas vezes, você se sente isolado. É quase impossível encontrar amigos sem ter carro e carteira de motorista, por ser uma região montanhosa e extensa”, diz. “Nos últimos cinco anos, criamos espaços como o primeiro centro LGBTQIAPN+ no Oceano Índico. Quero que a próxima geração sonhe alto. Quando era mais jovem, nada disso existia.”
Raya faz visitas constantes à ilha e, juntamente com o fotógrafo e namorado Édouard Richard, começou a registrar uma parte da população que lidera mudanças comportamentais ao reivindicar o direito à própria existência. O resultado são imagens com vigor suficiente para compor a exposição “Kwir, nou éxist: Nós queer existimos”, já exibida no Museu do Louvre, em Paris, e que acaba de chegar ao Rio, no Futuros — Arte e Tecnologia, no Flamengo, onde fica até 9 de novembro. Depois, segue para o Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.
Uma das imagens em exbição na mostra em cartaz no Rio
Divulgação
São 80 fotografias da efervescente população queer e crioula da Ilha da Reunião, onde a primeira parada LGBTQIAPN+ se deu apenas em 2021. “Se não lutamos pelos nossos direitos, abandonamos uma parte de nós”, diz Raya. “Muitas pessoas que deixaram o território ainda jovens por motivos semelhantes aos meus estão retornando para investir sua arte no bem-estar da comunidade.”
A mostra também já foi exibida por lá, com direito à participação da atriz brasileira Renata Carvalho, famosa por espetáculos como “Manifesto transpofágico”. Ela foi convidada para uma mesa de debates e, no Brasil, assina o texto da exibição. “A Raya abre avenidas por onde mais gente pode desfilar e conquistar seus direitos”, afirma Renata. “Ao fotografar essas pessoas, constrói memórias.”
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