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Lula sobre encontro com Trump: 'espero que role'

25/10/2025 10:45 O Globo - Rio/Política RJ

Na Malásia, onde está em visita oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado que está confiante em uma solução para o impasse criado na relação com os Estados Unidos pelo tarifaço imposto ao Brasil. A expectativa é de que Lula se encontre neste domingo com o presidente americano, Donald Trump, na capital Malaia, Kuala Lumpur.
Em conversa com jornalistas durante o voo para a Malásia, Trump disse que as tarifas às exportações brasileiras podem ser reduzidas, “nas circunstâncias certas”. Ele deu a entender que o encontro com o presidente brasileiro irá ocorrer. Neste sábado, Lula foi recebido de manhã (noite de sexta em Brasília) pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim. À tarde, falou brevemente com a imprensa brasileira, antes da cerimônia onde receberia o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional da Malásia.
— Na verdade, eu espero que role [o encontro]. Eu vim com a disposição de que a gente possa encontrar uma solução. Tudo depende da conversa. Eu trabalho com otimismo de que a gente possa encontrar uma solução — disse Lula.
Questionado sobre as condições mencionadas por Trump para a redução das tarifas, o presidente brasileiro repetiu que as negociações estão abertas, o que já tinha dito na sexta, antes de concluir sua visita à Indonésia.
— Não tem exigência dele e não tem exigência minha ainda. Vamos colocar na mesa os problemas e tentar encontrar uma solução. Pode ficar certo que vai ter uma solução — disse Lula, que veio à Malásia para participar como convidado da 47ª reunião de cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
'Quimica'
Mais cedo, durante a cerimônia de assinatura de atos entre Brasil e Malásia, Lula dispensou o discurso escrito e optou pelo improviso, abrindo com elogios ao primeiro-ministro Ibrahim, que chamou de “amigo”. Coincidência ou não, escolheu a mesma expressão usada por Trump quando ele quebrou o gelo com o Brasil, dizendo ter sentido “química excelente” ao encontrar rapidamente com Lula na ONU, há um mês. A fala deu início à negociação entre os dois países sobre o tarifaço imposto pelos EUA, com sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras.
— Tenho na minha cabeça que a relação entre seres humanos é uma coisa muito química. Quando a gente encontra um ser humano a gente gosta ou não gosta da pessoa à primeira vista. E desde a primeira vez que eu encontrei com o nosso querido companheiro Anwar Ibrahim, que nos cumprimentamos, eu tive a certeza de que estava diante de um amigo — disse Lula, na residência oficial do primeiro-ministro.
Para Lula, a química entre os dois também tem a ver com uma história parecida entre ele e Anwar, “de alguém que como eu tinha sido perseguido, de alguém que como eu tinha sido preso”. Líder da oposição desde a década de 1990, Anwar ficou na cadeia por seis anos em dois períodos por sodomia e corrupção, acusações criticadas internacionalmente por serem consideradas perseguição política. Após indulto, tornou-se primeiro-ministro em 2022. Agora, disse Lula, “cá estamos, para causar um pouco de raiva nos nossos inimigos”.
Ao ser questionado nesta sexta, Trump disse que “provavelmente” se encontrará com Lula em Kuala Lumpur. Sobre a possibilidade de reduzir as tarifas sobre o Brasil, o presidente americano fez um aceno positivo, dizendo “sob as circunstâncias certas, claro”. Na sexta, ao concluir sua visita à Indonésia, Lula deu a entender que a negociação com os EUA poderá ir além de temas econômicos, afirmando que “não tem assunto proibido”. Citou, entre outros temas, as guerras de Gaza e Ucrânia, Venezuela e terras raras. “Qualquer assuntou”, concluiu.
Em seu discurso na Malásia, Lula voltou a falar dos conflitos armados e também de protecionismo comercial. Brasil e Israel estão no pior momento de suas relações diplomáticas, sem embaixadores nas respectivas embaixadas. Já a Malásia sequer reconhece Israel. Os dois países não mantêm relações e Anwar é um dos maiores críticos da ação militar israelense em Gaza, apelando a um boicote mundial ao Estado judeu.
— Quem é que se conforma com a duração da guerra entre Ucrânia e a Rússia? Quem é que pode se conformar com o genocídio impetrado na faixa de Gaza durante tanto tempo? — disse Lula. — Eu vim aqui dizer ao primeiro-ministro Anwar Ibrahim que nós temos a possibilidade de mudar o mundo, de fazer com que as coisas sejam melhores, de fazer com que o humanismo não seja derrotado pelos algoritmos, de dizer que o mundo precisa de paz, não de guerra, de dizer ao mundo que precisamos de livre comércio, não de protecionismo.

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