
'Guerra psicológica': Trump tenta fraturar regime Maduro ao confirmar missão secreta da CIA e ameaçar ataques dentro da Venezuela
O presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu ao confirmar a repórteres, na quarta-feira, que deu autorização para a CIA realizar missões secretas contra alvos na Venezuela, onde Washington lidera uma campanha aberta de fritura contra o líder chavista, Nicolás Maduro. Analistas ouvidos pelo GLOBO apontam que apesar do aparente contrassenso na exposição de uma ação que deveria ser encoberta, a tática de Trump foi desenhada para estimular dissidências e impulsionar uma guerra psicológica sobre lideranças do regime venezuelano, com intuito de fraturar a unidade chavista e potencialmente levar a uma queda de Maduro.
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A discussão pública sobre uma possível incursão terrestre na Venezuela — os EUA já têm 10 mil soldados na região e aviões e navios de guerra — cumpre um papel estratégico no plano do governo Trump para lidar com o regime de Maduro, plano este que considera particularidades do governo e das elites venezuelanas, além das realidades caribenha e sul-americana, segundo o professor Ricardo Salvador De Toma-García, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais.
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— O regime de Maduro e as elites governantes de Caracas não operam dentro de uma lógica guiada por valores nacionalistas, questões de honra ideológica ou motivos religiosos, como em outros casos pelo mundo. Eles são guiados por autopreservação, manutenção de seus privilégios ilícitos e sua impunidade — afirmou o analista venezuelano. — A intenção ao evidenciar operações de inteligência é estimular delação e traição. Eles buscam identificar e cooptar indivíduos dispostos a trair o grupo, seja em troca de proteção, dinheiro ou imunidade.
Desertores do regime chavista frequentemente ofereceram colaboração aos EUA nos últimos anos em troca de benefícios. Em junho, o ex-diretor de Inteligência venezuelano Hugo "Pollo" Carvajal, que foi uma figura poderosa durante a Presidência de Hugo Chávez Hugo Chávez (1999-2013), ofereceu-se para colaborar com a Justiça americana ao se declarar culpado de acusações de narcotráfico e narcoterrorismo. Em um caso de autoridade de grande importância, o juiz Christian Zerpa, do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), desertou para os EUA em 2019, a fim de denunciar desmandos de Maduro — o oficialismo venezuelano afirmou à época que Zerpa fugiu do país porque era acusado de assédio sexual.
— A assimetria de forças entre os EUA e a Venezuela já permitiria que o presidente americano falasse de seus planos sem tanta necessidade de dissimulação, mas há um caráter de guerra psicológica, de pressão política, que é uma tentativa de criar divisões dentro do governo Maduro, sobretudo dentro das Forças Armadas — apontou o cientista político Maurício Santoro, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil. — O cenário ideal para os EUA seria se houvesse ali uma dissidência no âmbito dos militares venezuelanos, e eles depusessem Maduro sem precisar ter qualquer tipo de operação militar para isso.
Poderio militar americano no Caribe
Editoria de Arte
Provocação e preparação
A estratégia de pressionar a Venezuela a fim de provocar uma mudança interna não é particularmente nova. Mesmo no primeiro mandato de Trump, quando John Bolton era assessor de segurança nacional, anotações sobre um suposto envio de 5 mil soldados americanos a partir da Colômbia vazaram — no que foi apontado como uma tentativa de guerra psicológica, para estimular movimentos internos.
Para Parsifal D'Sola, diretor da Fundação Andrés Bello, todo o deslocamento militar no Caribe visa claramente pressionar Maduro a forçar sua saída do poder.
— A narrativa sobre as drogas funciona como uma legitimação para a opinião pública americana. Nesse contexto, as "operações da CIA" se encaixam plenamente na lógica política e estratégica do governo Trump — explica ao GLOBO.
Mas a declaração atual ganha um peso diferente, avalia Toma-García, pela diferente conjuntura, sobretudo a presença militar intensa na região.
— A situação é diferente porque se observa uma articulação de dispositivos militares autorizados a utilizar força letal para neutralizar uma organização denominada [pelos EUA] como narcoterrorista — explicou o professor, apontando para o afundamento de embarcações por navios e drones americanos em águas venezuelanas, e o sobrevoo de bombardeiros B-52 da Força Aérea americana na zona de proteção aérea do país.
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As ações americanas, na avaliação de Santoro, indicam que a Casa Branca superou divergências sobre a abordagem a ser assumida com a Venezuela, e apontam que uma intervenção militar será realizada. Mesmo quando alas do governo tentavam arrancar de Caracas con
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