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Lula alertará Trump sobre riscos de ação precipitada na Venezuela, dizem integrantes do governo

17/10/2025 23:35 O Globo - Rio/Política RJ

Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que, ao se reunir com o presidente americano, Donald Trump, Lula fará um apelo direto: que os Estados Unidos “não façam besteira na Venezuela”, alertando que qualquer medida precipitada poderia gerar um grande problema para toda a região.
A data e o local do encontro ainda não foram definidos. O mais provável é que os dois líderes se reúnam na Malásia, no fim deste mês, à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Segundo integrantes do governo, o Brasil observa com atenção as movimentações de política externa de Washington ligadas à crise venezuelana. Embora uma intervenção militar direta seja considerada improvável neste momento, há preocupação com algum tipo de ação simbólica de alto impacto.
Como manter dez mil homens embarcados no mar do Caribe por tanto tempo é uma pergunta frequente entre diplomatas brasileiros, diante da ofensiva americana cujo objetivo seria derrubar o regime de Nicolás Maduro, inclusive com o uso da CIA (agência de inteligência americana). A percepção é de que os EUA poderiam recorrer a demonstrações de força com forte valor político, mas sem uma operação militar de grande porte, como a chegada de tropas a Caracas.
Benefícios bilaterais
O governo brasileiro também acompanha com cautela a possibilidade de países da região adotarem uma postura leniente diante de eventual ação americana, em troca de benefícios bilaterais. Lula já se manifestou sobre o tema, e o Planalto busca identificar com precisão as intenções de Washington e se há contatos diretos entre os governos da Venezuela e dos EUA.
De acordo com interlocutores, a Venezuela abriu canais de diálogo com os americanos, refletido, por exemplo, na renovação das licenças da Chevron para exploração de petróleo no país. Há ainda discussões sobre como o petróleo venezuelano poderia ser utilizado como alternativa diante de uma crise energética mais ampla. Por ora, o Brasil adota cautela e evita manifestações formais adicionais, considerando que “a voz do Planalto já foi manifestada”.
Pessoas familiarizadas com o assunto alertam que uma ação precipitada na Venezuela poderia ter efeitos negativos em toda a região, favorecendo inclusive grupos de narcotráfico que atualmente enfrentam restrições em seus países de origem. O Itamaraty busca compreender até que ponto Trump pretende avançar na Venezuela e quais seriam as consequências para a estabilidade regional. O plano americano envolveria operações secretas da CIA e uma mobilização militar crescente na região.
Interlocutores destacam ainda que os argumentos apresentados pelos Estados Unidos — de que medidas contra a Venezuela estariam relacionadas ao combate ao narcotráfico e ao terrorismo — são considerados frágeis. Mais de 90% da droga que entra nos EUA vem do Pacífico, e apenas 4% a 5% sai do Caribe, o que coloca em dúvida a justificativa americana, afirmam. Para Brasília, intenções éticas ou morais, mesmo bem-intencionadas, podem ser mal implementadas e gerar efeitos negativos, especialmente em um país vizinho ao Brasil, com uma crise econômica e social que se prolonga há décadas.
Além disso, a sociedade venezuelana, marcada por forte cultura armamentista, compartilha traços do modelo americano, o que aumenta a preocupação brasileira sobre qualquer escalada militar ou intervenção externa. Segundo esses interlocutores, a presença de armas pessoais e a longa tradição de instabilidade tornam qualquer ação precipitada ainda mais arriscada para a região.
Lula e Maduro não se falam desde julho de 2024. O líder venezuelano foi declarado vencedor da eleição presidencial, sem apresentar provas de que realmente teria vencido o candidato oposicionista, Edmundo González.

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