
'Evangélico raiz' e diálogo com conservadores: a ligação de Jorge Messias, favorito ao STF, com a religião
Principal favorito para assumir vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, tem angariado apoio no segmento evangélico, que vislumbra a possibilidade inédita de ter dois ministros crentes na Corte. Ele é descrito como um "evangélico raiz" ligado à "esquerda conservadora", e frequenta a Igreja Batista Cristã em Brasília desde 2016. O outro integrante da Corte que professa esta religião é o ministro André Mendonça, que é presbiteriano e foi escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Messias foi indicado para a AGU justamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e assumiu o cargo no início de 2023. Com apenas oito meses de cargo, ele se tornou um dos homens de confiança do presidente, e passou a figurar como um dos cotados para assumir uma possível vaga no STF. Na AGU, ele passou a buscar soluções para casos jurídicos delicados e construiu pontes com o Judiciário.
Desde então, ele vem participando das edições da Marcha para Jesus, organizada pelo bispo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, e chegou a ser vaiado ao citar o nome do petista no palco. Neste ano, contudo, em um discurso recheado de referências religiosas, ele foi aplaudido e entregou uma carta ao bispo em nome do presidente. Aos domingos, ele costuma publicar vídeos curtos em que lê salmos da Bíblia, além de também desejar “uma semana muito abençoada”.
No mês passado, o ministro também foi alvo das sanções aplicadas pelos Estados Unidos em meio tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Messias teve seu visto de entrada no país revogado pelo governo americano, e definiu a ação como "totalmente incompatível com a pacífica e harmoniosa condução de relações diplomáticas e econômicas edificadas ao longo de 200 anos entre os dois países". Em julho, ele chegou a publicar um artigo no The New York Times para criticar a falta de diálogo da gestão do republicano.
O ministro Jorge Messias e a deputada Benedita da Silva durante a Marcha para Jesus, em que menção a Lula recebeu vaias
Reprodução/internet
Interlocução com conservadores
Mesmo entre pastores mais alinhados a Bolsonaro, o nome de Messias não gera rejeição automática. O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, afirmou não ter interlocução com o ministro da AGU, mas descartou fazer campanha contra uma eventual indicação ao STF.
O ministro da AGU também tem boa interlocução com representantes mais ligados às “igrejas históricas”, como as do ramo batista e presbiteriano. Messias já foi tido por entidades como a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) como um interlocutor importante no governo Lula durante as discussões, por exemplo, do Plano Nacional de Educação.
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Caso Messias seja nomeado ao STF, será a primeira vez na história que a Corte ficaria com dois ministros declaradamente evangélicos. No ano passado, ele participou de um congresso jurídico em Sergipe ao lado de André Mendonça, e ambos mostraram um tom amistoso.
Outro que demonstrou apoio à indicação do ministro ao Supremo foi o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), um dos principais parlamentares evangélicos do Congresso. Em um vídeo publicado nas redes sociais na semana passada, o deputado afirmou que a direita conservadora não pode "torcer contra" a indicação de "um irmão na fé".
Ligação com o PT
Em 2024, Messias participou de uma série de vídeos da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, com o mote “o que pensam os evangélicos petistas”. Nos vídeos, defendeu que a laicidade do Estado é o que “garante que minha fé seja exercida com tranquilidade”.
Integrantes do PT avaliam que o ministro da AGU trabalhou para se consolidar como um “meio de campo” entre Lula e as igrejas, por conseguir manter boa relação com lideranças evangélicas de perfis políticos distintos. A possível indicação de Messias é defendida por lideranças evangélicas do partido, que estimulam acenos do presidente aos fiéis, que têm se tornado cada vez mais frequentes.
Antes de se tornar advogado-geral da União, Messias era procurador da Fazenda Nacional. Já enquanto subsecretário de assuntos Jurídicos da Casa Civil, ele ficou conhecido como "Bessias" por uma interceptação telefônica divulgada na Lava-Jato de uma conversa entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016. Na ocasião, Dilma avisou a Lula que enviaria por meio de 'Bessias' um termo de posse para que ele assinasse e, assim, se tornasse ministro da Casa Civil.
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