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Entenda como a ciência corre contra o tempo para desenvolver métodos rápidos e em escala para identificar metanol

07/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Em meio a escalada de casos de suspeita de metanol no país, universidades brasileiras se mobilizaram com iniciativas que auxiliam na detecção da substância em bebidas alcoólicas. No sábado, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) articulou para que ocorresse uma reunião virtual com o ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) e pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) que trabalham em um método capaz de identificar o metanol em minutos.
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A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores paraibanos emite luz infravermelha sobre a garrafa, e um software analisa a movimentação das moléculas dentro do recipiente, o que possibilita a identificação de substâncias suspeitas. Há ainda em desenvolvimento um canudo que muda de cor ao entrar em contato com o metanol. Em nota divulgada após a reunião com Padilha e Motta, a UEPB afirma que será feito o detalhamento técnico do projeto junto ao Ministério da Saúde e, em seguida, um plano para viabilizar na prática o uso das tecnologias desenvolvidas pelos pesquisadores.
— Existe uma série de fraudes que podem atingir as bebidas, desde rótulos que dizem o que não existe lá dentro, até adição de substâncias que não são da composição da bebida, podendo algumas delas até ser nocivas. Bebidas alcoólicas, por exemplo, podem ter adição de água ou, se o processo de preparação de bebidas não for satisfatório, presença de substâncias, como o caso do metanol. A pesquisa impregna um canudo com uma substância específica que reage com o metanol e permite a mudança de cor. Tudo ocorre por capilaridade — explica Germano Veras, doutor em Química Analítica e professor da UEPB.
O projeto, que contou com financiamento do governo estadual, começou com a análise de cachaça local, mas também pode ser aplicado a outras bebidas. Gin, vodca e uísque estão entre os destilados que pacientes relataram terem consumido. A onda de casos recentes tem como diferencial ter ocorrido em bares e outros estabelecimentos comerciais. Em geral, episódios de intoxicação por metanol costumam estar associados à ingestão de combustíveis e à população de rua, segundo o governo federal.
Um projeto mais antigo é o de pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Em 2022, cientistas do Instituto de Química, em Araraquara, desenvolveram um método capaz de identificar adulterações em amostras de gasolina, etanol e destilados. O processo funciona em duas etapas. Primeiro, é feita a adição de um sal ao líquido, que, em contato com o metanol, transforma-se em formol. Em seguida, um ácido, capaz de mudar a coloração da solução, é colocado na mistura.
— Essas etapas de reação levam cerca de 15 minutos no caso do etanol e das bebidas alcoólicas e 25 minutos no caso da gasolina. Após esse tempo, a mistura já está pronta para ser classificada — diz a química Larissa Modesto, que na época fazia mestrado na instituição e é uma das autoras do projeto.
Na época, ao anunciar o desenvolvimento do método, a Unesp destacou que o projeto poderia beneficiar “produtores de petróleo, donos de postos de combustíveis, casas de eventos e consumidores em geral”. A universidade também destacava que a adição de metanol a combustível era uma tática crescente de fraude. Em agosto, a megaoperação Carbono Oculto revelou que a substância era usada pelo Primeiro Comando da Capital para adulterar gasolina e etanol em postos. Pelo baixo custo, o metanol oferece vantagens aos fraudadores.
O método desenvolvido pelos pesquisadores da Unesp chegou a ser patenteado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), mas não chegou a se tornar um produto comercializado. A ideia dos cientistas era transformar a técnica em um kit que reduziria os custos da detecção do metanol. Segundo a universidade, os métodos tradicionais podem custar R$ 500, enquanto a nova técnica custaria R$15. Outra vantagem do processo é identificar com precisão o teor do metanol presente no líquido.
Desde a última quinta-feira, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) passou a oferecer à população a análise de bebidas alcoólicas pelo Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear. Os interessados devem agendar a análise por email e oferecer uma amostra de 5ml da bebida. O resultado sai em poucos minutos.
— Colocamos essa amostra em um porta amostra, que vai dentro do equipamento de ressonância magnética nuclear. Nesse equipamento, a gente consegue diferenciar o que é etanol do que é metanol. A diferença química disso é muito pouca, mas dentro do corpo isso dá uma diferença muito grande — disse o professor Kahlil Salome, vice-coordenador do laboratório.
O estado do Paraná tem dois casos confirmados de intoxicação, com outros dois ainda em análise. No momento, o país soma 225 ocorrências, sendo que um total de 16 foram confirmadas como causadas pelo meta

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