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Embaralha o relógio biológico? Eclipse solar ‘engana’ aves e as faz cantar como se o Sol nascesse outra vez

15/10/2025 14:23 O Globo - Rio/Política RJ

O que acontece com os animais quando a luz do Sol simplesmente desaparece? Durante o eclipse solar total de 8 de abril de 2024, que cruzou a América do Norte do México ao Canadá, cientistas observaram uma reação curiosa: várias espécies de aves começaram a se comportar como se o amanhecer tivesse acabado de chegar.
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A pesquisa, publicada nesta semana na revista Science e conduzida por cientistas da Universidade de Indiana e da Universidade Wesleyan de Ohio, investigou como a súbita escuridão de cerca de quatro minutos — provocada pela Lua cobrindo completamente o Sol — influenciou os ritmos naturais das aves, fortemente guiados pela luz. “A luz é uma das forças mais poderosas que moldam o comportamento das aves, e até mesmo uma ‘noite’ de quatro minutos foi suficiente para muitas espécies agirem como se fosse manhã novamente”, explicou Liz Aguilar, doutoranda e principal autora do estudo, segundo a Reuters.
Durante o fenômeno, 14 unidades de gravação instaladas em Bloomington, Indiana, captaram mais de 100 mil vocalizações. As gravações foram analisadas com ferramentas de aprendizado de máquina, capazes de identificar as espécies e suas reações. Paralelamente, cerca de 1.700 voluntários em toda a América do Norte contribuíram com mais de 11 mil observações por meio de um aplicativo criado pelos pesquisadores, o SolarBird, permitindo que cidadãos comuns participassem do estudo em tempo real.
De acordo com a Reuters, o levantamento documentou 52 espécies na região de Bloomington, das quais 29 apresentaram mudanças significativas no comportamento vocal. As aves conhecidas por emitir coros mais intensos ao amanhecer foram as que mais reagiram ao eclipse. Os tordos-americanos, por exemplo, aumentaram em até seis vezes a frequência de seus cantos durante e logo após o período de totalidade. Já as corujas-barradas vocalizaram quatro vezes mais do que o habitual, aproveitando a semelhança entre a luz do eclipse e os níveis do amanhecer.
Nem todas as espécies, porém, se deixaram enganar pela falsa noite. Os wrens da Carolina — famosos por serem especialmente barulhentos nas primeiras horas do dia — mantiveram seu comportamento normal. “Faria menos sentido se todas as espécies reagissem da mesma maneira. Cada uma tem seus próprios padrões de atividade, necessidades energéticas e sensibilidades à luz”, afirmou Aguilar.
O coautor do estudo, Dustin Reichard, professor de biologia na Universidade Wesleyan de Ohio, reforçou à Reuters que a pesquisa amplia o conhecimento sobre os mecanismos biológicos que orientam o comportamento animal. “Sabemos que as mudanças na luz são os sinais mais importantes usados pelos organismos vivos para cronometrar seus ritmos diários. Este evento natural nos deu uma oportunidade única de ver isso acontecendo fora do laboratório.”

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