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Em votação apertada, premier da França sobrevive a moções de censura após suspender reforma da Previdência

16/10/2025 13:04 O Globo - Rio/Política RJ

O primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, sobreviveu nesta quinta-feira a duas moções de censura na Assembleia Nacional, após anunciar a suspensão da polêmica reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron. Lecornu, reconduzido ao cargo por Macron na semana passada após renunciar, manteve-se no cargo por uma margem apertada de votos no Parlamento.
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Na primeira votação, apresentada pela esquerda radical do partido A França Insubmissa (LFI), 271 deputados votaram pela queda do governo — apenas 18 votos a menos que o necessário para alcançar a maioria absoluta de 289, entre os 577 parlamentares com mandato vigente. Uma segunda moção, proposta pela direita ultranacionalista Reunião Nacional (RN), liderada por Marine Le Pen, obteve apenas 144 votos.
— Mãos à obra — afirmou Lecornu ao sair do Parlamento, pedindo para o poder "andar um pouco".
Na última terça-feira, Lecornu havia anunciado a suspensão da reforma previdenciária de 2023, uma das principais bandeiras do presidente francês e pivô de massivos protestos no país. A medida aumentaria gradualmente a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos — processo que, agora, ficará congelado até 2027, ano da próxima eleição presidencial.
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— A suspensão anunciada da reforma da Previdência não passa de um engano, uma armadilha, um subterfúgio — criticou a deputada do LFI Aurélie Trouvé, durante o debate parlamentar.
A proposta foi suficiente para conter parte da rebelião entre os socialistas, que decidiram não apoiar as moções de censura. Mesmo assim, sete deputados do Partido Socialista romperam com a orientação da legenda e votaram pela derrubada do governo.
O líder socialista Olivier Faure advertiu que "se o governo não cumprir suas promessas", em especial a suspensão da reforma, o partido poderá aprovar uma nova moção de censura “rapidamente”.
Orçamento e impasse político
O plano orçamentário apresentado por Lecornu prevê 30 bilhões de euros (R$ 160 bilhões, na cotação atual) em cortes para conter uma dívida pública recorde de 3,4 trilhões de euros (cerca de R$ 18 trilhões), equivalente a 115,6% do PIB francês. A suspensão da reforma previdenciária, segundo Lecornu, deverá ser formalizada como emenda ao orçamento de 2026, que o Parlamento votará até o fim do ano.
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O dilema para os socialistas, porém, é claro: apoiar um orçamento de austeridade em troca da suspensão de uma medida impopular, ou rejeitá-lo e arriscar-se a perder o que chamam de “primeira vitória” política sobre Macron.
— Lançamos um apelo solene à resistência popular e parlamentar para que continuem lutando contra esses orçamentos cruéis, e afirmamos que Lecornu, assim como Macron, está com os dias contados — declarou Mathilde Panot, presidente do grupo LFI na Assembleia Nacional. — Mais cedo ou mais tarde, o presidente terá que sair. Por isso, reapresentamos uma moção de impeachment.
"Os debates vão começar"
A concessão feita por Lecornu é vista como sinal de enfraquecimento político de Emmanuel Macron, que não pode disputar um terceiro mandato. O partido conservador Republicanos, que tem seis ministros no atual gabinete, criticou a suspensão da reforma, mas decidiu não apoiar a censura.
A líder da ultradireita, Marine Le Pen, reagiu à decisão do partido, dizendo que "os republicanos não se venderam a Macron: se deram".
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Apesar de liderar as pesquisas para a eleição presidencial de 2027, Le Pen permanece inelegível após ser condenada por desvio de verbas públicas destinadas a assessores de seu partido no Parlamento Europeu. Na quarta-feira, o Conselho de Estado manteve a decisão que a impede de disputar cargos públicos até, pelo menos, o julgamento de seu recurso em janeiro.
— Os debates tinham que começar e, como vocês viram, eles vão começar — resumiu Lecornu ao deixar a Assembleia.
(Com AFP)

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