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Edith Piaf versão século XXI, Zaho de Sagazan mescla 'chanson' francesa e batida eletrônica 

13/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

O salão do L’Olympia, em Paris, estava lotado no mês passado quando a cantora pop francesa Zaho de Sagazan, de 25 anos, interrompeu seu show para fazer um breve discurso.
— Eu costumava achar que ser excessivamente emotiva era uma fraqueza — disse ela, no palco. — Mas, cada vez mais, vejo isso como uma força, e acho que você também deveria.
Foi uma espécie de carta de intenções para a cantora, cuja obra consiste em canções de tirar o fôlego sobre não bancar a descolada. Sob aplausos da plateia, dividida entre jovens e outros mais experientes, ela então se lançou na faixa-título de seu álbum de 2023, “La Symphonie des Éclairs” — mistura de chanson tradicional francesa e batidas eletrônicas que ela compôs principalmente na adolescência.
Nos últimos dois anos, Zaho tornou-se a estrela em ascensão da música pop francesa contemporânea, reimaginando um gênero antiquado associado a cantores como Edith Piaf e Jacques Brel para um público mais jovem e voltado para a dança. Essa abordagem lhe rendeu cinco Victoires, o equivalente francês ao Grammy, incluindo o prêmio de artista feminina deste ano.
Após uma longa sequência de shows esgotados pela Europa, seu público provavelmente aumentará ainda mais em breve. Ela lançou uma nova versão orquestral de seu álbum semana passada e está entrando em turnê por grandes casas de shows europeias, incluindo a Filarmônica de Berlim e o Grand Palais em Paris.
Os arranjos orquestrais arrebatadores do álbum combinam com as emoções intensas das canções.
— Gosto de estar no centro da tempestade — disse a cantora em uma entrevista em Paris, explicando que sua música é uma expressão dos sentimentos intensos que ela sentia desde a infância.
É uma qualidade, disse ela, que compartilha com a maioria de seus fãs
— Acho que se há uma coisa que os une é a hipersensibilidade.
Elogios da crítica
“La Symphonie des Éclairs”, que ganhou disco de platina na França, oferece abordagens liricamente lúdicas sobre temas tipicamente adolescentes: paixões, turbulências emocionais e lutas com a imagem corporal. Embora as músicas de Zaho sejam construídas em torno de sua voz grave e piano (como na chanson tradicional), ela incorpora elementos de techno e new wave.
Críticos elogiaram a inteligência de suas composições. Um crítico do jornal Le Figaro escreveu que sua canção “Les Dormantes”, sobre um relacionamento tóxico, abordou um “assunto delicado” com “graça” e “sensibilidade”. A emissora France Inter a descreveu como “a voz da nova geração”.
Suas interpretações modernas da música tradicional a tornaram uma embaixadora atraente da cultura francesa. Ela foi selecionada para cantar uma música de Piaf na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Paris de 2024 e ganhou atenção on-line este ano com um cover espontâneo de “Modern love”, de David Bowie, que apresentou no Festival de Cinema de Cannes. Tirando os sapatos, ela dançou expressivamente de meias diante de uma plateia de estrelas de cinema em smokings e vestidos longos.
Nascida em Saint-Nazaire, na Costa Oeste da França, ela se lembra de sentir, quando criança, que sua intensidade era um fardo para a família quando começava a chorar.
— Eu estragava todos os jantares — disse ela.
Zaho encontrou uma válvula de escape na música quando começou a aprender a tocar o piano da família. Logo começou a compor músicas e postar trechos no Instagram.
Enquanto se formava em administração de empresas em Nantes, ela conheceu Pierre Cheguillaume, músico de uma banda chamada Inüit, que concordou em coproduzir um álbum com suas músicas.
Com o tempo, começou a apresentar as novas músicas em festivais e conseguiu largar o emprego como assistente em uma casa de repouso.
Zaho estimou ter feito cerca de 500 shows ao vivo nos últimos anos.
— A única maneira de ser boa no palco é fazer bastante — disse ela.
O corpo fala
No palco, disse ela, tenta oferecer ao público uma mistura de performance intimista e uma experiência catártica mais parecida com uma noite na balada. No L’Olympia, os 20 minutos finais foram de pouca cantoria, enquanto Zaho instruía sua banda a lançar um set estendido de música techno e, em seguida, dançava em direção à plateia.
Ela disse que a trajetória de seus shows, que transitam amplamente do chanson para a música eletrônica, espelhava sua própria jornada de uma adolescente desconfortável para uma adulta e artista mais confiante.
— É como se já tivéssemos falado o suficiente sobre emoções, chorado o suficiente— disse ela. — Agora vamos nos soltar, vamos deixar nosso corpo falar, e vamos dançar.

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