
Dor musculoesquelética, sobrepeso e sedentarismo têm relação
Entre adultos das capitais brasileiras, mais da metade 61,4% estão com excesso de peso, segundo indicativos do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), lançado pelo Ministério da Saúde. Em 2006, quando o estudo foi realizado pela primeira vez, 42,6% da população brasileira apresentava obesidade ou sobrepeso (aumento médio de 1 ponto percentual/ano).
“Além disso, 37% dos adultos do país têm prática insuficiente de atividade física e 13,1% são fisicamente inativos”, como reporta o Dr. Rodrigo Martinez, ortopedista com atuação em São Paulo (SP), citando dados publicados pela Biblioteca Virtual em Saúde. “Os números explicam a escala do problema e por que o tratamento precisa ir além da receita e da cirurgia”, afirma.
Segundo Dr. Rodrigo Martinez, as queixas musculoesqueléticas mais comuns entre adultos brasileiros são dor lombar, dor no joelho (artrose e sobrecarga patelofemoral), tendinites do ombro, tornozelo e cotovelo, além de dor cervical.
“Vivemos mais tempo sentados, nos movemos pouco e estamos mais pesados. Esse combo aumenta a carga mecânica nas articulações e reduz a capacidade do corpo de lidar com o estresse do dia a dia”, explica o especialista, que trabalha com programas que combinam ortopedia, medicina do esporte e gestão de estilo de vida para tratar dor, melhorar mobilidade e prevenir lesões.
“Não por acaso, a dor lombar é a principal causa de anos vividos com incapacidade no mundo - e o Brasil segue essa tendência”, articula.
Dr. Rodrigo Martinez lembra que o sobrepeso e o sedentarismo podem piorar quadros como dor lombar, artrose ou tendinites. “Sobrepeso não é apenas ‘peso a mais’: a cada passo, o joelho suporta forças de 2 a 3 vezes o peso corporal. Perder 1 quilo reduz cerca de quatro quilos de carga por passo no joelho. Em milhares de passos por dia, isso é enorme”, diz.
Já o sedentarismo, avança, empobrece a musculatura que deveria proteger as articulações (quadril, core, glúteos), aumentando dor e risco de recidiva. “Em artrose de joelho, perda ponderal de 5–10% melhora dor e função. Combinações de dieta e exercício tendem a superar intervenções isoladas”, diz.
No tendão, o excesso de gordura corporal soma sobrecarga mecânica e um estado inflamatório crônico de baixo grau, elevando o risco de tendinopatias (como Aquiles e manguito), como explica o ortopedista.
Como são estruturados os programas integrados?
Dr. Rodrigo Martinez destaca que, em alguns casos, a atuação conjunta entre ortopedista, médico do esporte, educador físico e nutricionista pode ser mais efetiva do que abordagens isoladas. Ele ressalta que programas multidisciplinares - ortopedia/medicina do esporte, fisioterapia, educação física, nutrição e, quando preciso, apoio psicológico - reduzem dor e incapacidade de forma clínica e funcionalmente relevantes, além de melhorar o retorno ao trabalho.
A seguir, Dr. Rodrigo Martinez explica como são estruturados os programas integrados de acompanhamento clínico voltados à dor e à performance física - em quatro pilares, com metas periódicas claras:
Avaliação e educação: triagem de “red flags”, classificação do fenótipo de dor, análise de movimento/carga e metas de atividade. Educação muda expectativas e reduz medo de se mover. Diretrizes para lombalgia e artrose colocam exercício/educação como primeira linha;
Exercício dosado: força (principalmente glúteos/quadríceps/core), aeróbio e mobilidade, progredindo em volume e intensidade de forma segura. Para lombalgia, manter-se ativo e exercícios terapêuticos são pilares;
Controle de carga e peso: ajuste de tarefas, ergonomia e metas realistas de redução de 5–10% do peso quando indicado, porque isso impacta diretamente dor e função no joelho;
Adjuvantes conforme necessidade: sono, manejo do estresse, analgesia racional, infiltrações quando bem indicadas e, em casos selecionados de obesidade com artrose de joelho, terapias antiobesidade aprovadas - o que também reduz a dor ao diminuir carga articular.
Segundo o especialista, quase todo adulto com dor mecânica recorrente, artrose inicial/moderada, tendinopatias por uso excessivo ou lombalgia persistente pode se beneficiar com esse modelo.
“Não existe ‘idade ideal’: quanto mais cedo tratamos força, mobilidade, sono e peso, menor a chance de cronificação”, frisa. “Em idosos, as respostas são excelentes quando o plano respeita limitações e comorbidades. Em jovens com sobrepeso e vida sedentária, é uma oportunidade de prevenir uma década de dor futura”, complementa o ortopedista, que destaca pontos de atenção:
Exercício (com dose e progressão): previne e trata dor lombar e artrose. Diretrizes recomendam começar por aí, antes de pensar em intervenções invasivas;
Peso importa: pequenas perdas geram alívio - 10% costuma trazer ganhos clínicos robustos em artrose de joelho;
Integração: programas que combinam educação, exercício, controle de peso, apoio comportamental e ajustes hormonais/metabólicos entregam resultados consiste
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