
Dólar global e política ditam o ritmo do mercado
Dois fatores dominam o radar dos investidores daqui para o fim do próximo ano: a trajetória do dólar frente às moedas globais e a corrida presidencial. Qual deles vai realmente comandar os mercados?
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João Braga, fundador da Encore Capital, acha que algumas mudanças estruturais ocorridas nos últimos anos estão fazendo os mercados colocarem o foco cada vez mais no curto prazo. E isso, na situação atual, tem dado protagonismo ao dólar global para mexer nos preços de ativos brasileiros.
— Diria que, disparado, o que mais tem feito preço na última semana não é o Tarcísio, não é o Lula — afirma ele, referindo-se à disputa eleitoral do ano que vem, que muitos acreditam que poderá se afunilar entre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. — É só o dólar — afirma Braga, referindo-se à tendência da moeda americana para cima ou para baixo, de acordo com as notícias sobre a economia americana e de outros países com moeda de reserva.
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E ele acrescenta:
— O estrangeiro é tão grande em relação ao nosso mercado que faz preço para cima e para baixo.
Uma das “placas tectônicas” que movimentaram o mercado recentemente foi o aumento da presença dos fundos quantitativos — que usam modelos matemáticos, estatísticos e algoritmos computacionais para tomar decisões de compra e venda no mercado, em vez de depender da intuição ou do julgamento humano direto.
Real valorizando
Na situação atual, afirma Braga, a cotação do dólar em nível global tem um papel muito importante nas decisões de investimento desses fundos quantitativos:
— E esses fundos estão derrubando a Bolsa agora por um motivo só, uma variável só, que é dólar, forte ou fraco.
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O investidor nacional, argumenta, também está com foco maior no curto prazo. Os fundos multimercados, que tiveram uma onda de saques devido à concorrência de papéis com incentivos tributários, são avaliados pelo desempenho diário e não podem se dar ao luxo de novas perdas de cotistas.
— Todo mundo vira curto-prazista — afirma ele.
E o grupo de investidores que investe de olho no retorno das ações no longo prazo — o chamado value investing — também perdeu relevância relativa no mercado, devido a maior presença de investidores estrangeiros e fundos multimercado.
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— Ficou muito pequeno em relação a quem investe na Bolsa — diz.
De fato, é possível perceber uma correlação do mercado brasileiro com o valor do dólar global. Como tendência geral, a moeda americana vem perdendo valor em relação às demais moedas fortes do mundo. O real se valorizou, a Bolsa subiu — tudo isso apesar da fragilidade fiscal no Brasil e da perspectiva de desaceleração no crescimento, com a Selic nas alturas.
Mas, há duas semanas, houve uma reversão na tendência de desvalorização do dólar. Foi temporária, mas interessante para analisar a dinâmica dos mercados. O dólar ganhou força em virtude de incertezas sobre como as lideranças políticas da França e do Japão vão equacionar os seus problemas fiscais. O real se desvalorizou, e houve uma corrida de investidores estrangeiros para encerrar posições no Brasil também na Bolsa e no mercado de juros.
Quando o ambiente no exterior não é tão favorável, os investidores passam a focar mais nos temas domésticos.
— Aqui no Brasil, o grande tema já começa a ser a eleição — afirma o CEO da BGC Liquidez, Erminio Lucci. — E a gente vem acompanhando que, no fim do mês passado e no início deste mês, a popularidade do presidente Lula vem crescendo.
Para antecipar os ventos, é bom saber o que pensa a média do mercado sobre as eleições — o economista John Maynard Keynes dizia que o mercado se assemelha a um concurso de beleza, no qual o investidor não escolhe pela própria opinião, mas de acordo com o que os outros vão achar mais bonito.
Efeito oposição
No evento, o diretor de investimentos da Guepardo Investimentos, Octávio Magalhães, disse e repetiu uma leitura que está se tornando predominante no mercado: se um candidato de direita ganhar as eleições, será melhor para a economia e para os preços de ativos.
— Um governo de oposição, independentemente de qual candidato vença, é um governo que vai agir rapidamente — afirma. — Na cabeça do mercado financeiro, um (novo) governo do PT primeiro tromba na parede para depois resolver.
Segundo essa visão, na hipótese de um novo governo Lula, haveria limites maiores do que no atual. Primeiro, porque os mercados exerceriam uma espécie de ação disciplinadora, com alta de
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