
Do PET ao gramado: empresa paraense transforma garrafas em uniformes sustentáveis para clubes
Foi em 2014, ano em que o Brasil respirava futebol com a Copa do Mundo, que a ideia de transformar garrafas PET em tecido chamou a atenção do paraense Cinaldo Luís, dono da Golkiper. A marca produz camisas para clubes paraenses, como a Tuna Luso, o Caeté e Àguia de Marabé, equipes que disputam o Campeonato Paraense. Além de potencializar o trabalho regional, a produção tem um viés muito importante: a sustentabilidade.
“Em 2014, aconteceu a Copa do Mundo aqui no Brasil e o material do uniforme foi feito à base de garrafa PET. Isso me chamou muita atenção, e aí fui buscar algumas empresas que pudessem fazer esse material”, contou Cinaldo.
A curiosidade virou pesquisa, que logo se transformou em um negócio. Na época, o custo para produzir esse tipo de material ainda era muito alto, mas a vontade de apostar em algo sustentável falou mais forte.
“Descobrindo que, para se fazer 1 kg de tecido, precisava-se de aproximadamente 25 garrafas PET grandes, chegamos à conclusão de que, em cada camisa, seriam necessárias cinco garrafas. E, logicamente, a cada camisa hoje são cinco garrafas PET a menos no meio ambiente. A partir daí, começamos a fazer um trabalho e a entender nossos personas e, aos poucos, fomos inserindo o produto no esportivo e no ciclismo”, explicou o empresário.
(Divulgação)
Hoje, a empresa atua com três fornecedores de tecidos ecológicos, em duas regiões do Brasil - no Sudeste, em São Paulo, e no Sul, em Santa Catarina -, além de uma terceira parceria em Buenos Aires. A sede principal da empresa fica localizada em Bragança, no nordeste paraense.
Processo de produção e impacto
Transformar as garrafas PET em tecido envolve pelo menos quatro etapas. A primeira é a reciclagem. Depois, elas são prensadas e trituradas. Em seguida, passam pelo processo de derretimento e fiação. Só depois de todos esses processos o produto vai para a máquina que faz a tecelagem, para então ser colorido, amaciado e receber os componentes de proteção UV.
Apesar de o processo parecer trabalhoso, o resultado é um impacto positivo gigantesco no meio ambiente. Segundo Cinaldo, cerca de 320 mil garrafas PET são recicladas por ano com a produção de camisas.
(Divulgação)
“O impacto ambiental é grande. Eu posso dizer que, pela quantidade que nós produzimos, retiramos aproximadamente 320 mil garrafas PET por ano através da confecção de tecido. Imagina quantos caminhões seriam necessários para encher com essa quantidade”, destacou.
No futebol
Aos poucos, as equipes estão mais engajadas em ações ambientais. A Golkiper produz uniformes para clubes como Águia de Marabá, Tuna Luso, ABC-RN, CSA-AL, além do Caeté e do Maranhão-MA, com quem está fechando contrato. Segundo Cinaldo, as peças são feitas com essa tecnologia e têm sido bem recebidas pelos clubes.
“Com a COP30, principalmente, e a preocupação com o meio ambiente, essa preocupação em deixar uma herança para os nossos netos, os clubes estão aderindo muito bem e até fazendo campanhas”, destacou o empresário.
A camisa do Círio de Nazaré da Tuna Luso, por exemplo, foi uma produção da Golkiper, com o tecido sustentável.
Custo e marca
Segundo o CEO da Golkiper, a principal diferença entre os tecidos tradicionais e o feito de garrafas PET está no custo, em torno de 12% a 15% maior. Mas a qualidade é tão boa quanto, além do viés sustentável, que valoriza ainda mais produto.
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“A gente não vende só a camisa, vendemos o conceito - o conceito de você poder vestir um produto 100% sustentável. Porque a nossa empresa não só produz camisas de garrafa PET, mas também utiliza energia ecogreen. Temos 480 placas solares e conseguimos produzir muito mais do que consumimos. Todo o nosso produto, desde a energia até o final, é ecossustentável”, afirmou Cinaldo Luís.
Cinaldo montou uma empresa que hoje tem cerca de 60 funcionários e produz de 7 a 20 mil peças por mês, entre vários materiais, e vende para todo o país. Cada peça que sai da confecção carrega não apenas estilo e conforto, mas também uma história de responsabilidade e transformação. Em um momento em que as discussões climáticas estão mais fortes e o Pará está no centro desse debate, iniciativas que visam deixar um legado de respeito ao meio ambiente, de incentivo à economia local e de inspiração para outros projetos que buscam um planeta mais limpo também se destacam. E inserir isso no futebol, o esporte mais popular do mundo, garante a visibilidade e a credibilidade que o tema merece.
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