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Crédito escasso e insegurança jurídica limitam inovação no agro

30/10/2025 07:00 O Globo - Rio/Política RJ

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e o segundo maior exportador, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, mas ainda patina em pesquisa, desenvolvimento e inovação na agropecuária. As dificuldades, segundo especialistas, devem-se especialmente ao ambiente de insegurança jurídica para esse tipo de projeto e à falta de mecanismos consistentes de financiamento.
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— De maneira geral, o investimento em pesquisa e inovação no Brasil é bastante limitado. Essa é uma constante, que tem uma série de fatores, como instabilidade regulatória e as questões de segurança jurídica, mudanças frequentes de normas e uma legislação de patentes fraca, principalmente quando a gente fala em biotecnologia — afirma Thiago Falda, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bioinovação (Abbi).
Eventuais barreiras comerciais, como as tarifas de 50% sobre a importação de uma série de produtos brasileiros que o governo americano impôs neste ano e políticas que priorizam investimentos locais, uma ação defendida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, podem agravar essa situação.
Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), lembra que a maior parte do investimento em ciência no Brasil vem dos Estados Unidos:
— Por isso, a piora nas relações entre os dois países gera apreensão.
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Longo prazo
Luz diz que, apesar de a agropecuária brasileira ter grande relevância, o país é pouco atrativo para investimentos, uma situação que a crise recente nas relações com os americanos pode agravar:
— O próprio presidente Donald Trump alegou que uma das razões para a taxação dos produtos brasileiros foi a nossa legislação de patentes frágil.
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Biotecnologia é um segmento em que o Brasil pode ter bastante destaque, segundo a Abbi — e é um campo que está em franca expansão. O número de patentes em biotecnologia cresceu em média 6,3% ao ano na última década, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Wipo, na sigla em inglês).
Esses investimentos em inovação costumam ser de longo prazo. Leva anos, ou mesmo décadas, até que esses projetos comecem a gerar retornos tangíveis, avalia Karine Teixeira Borri, professora do Departamento de Administração, Economia e Sociologia da Esalq, da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea):
— Essa natureza de longo prazo dificulta ajustes rápidos em resposta a mudanças geopolíticas pontuais, como tarifas comerciais ou novas exigências regulatórias. Os projetos de pesquisa em andamento, as equipes já formadas e a infraestrutura que se cria representam investimentos estabelecidos, que não se consegue realocar geograficamente com facilidade.
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Na multinacional Basf, que investe mais de US$ 915 milhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação por ano — o que corresponde a uma fatia de 9% a 10% da receita da empresa no mundo —, a estratégia de longo prazo é global.
— Em um lançamento de um defensivo agrícola, obter uma nova molécula exige um investimento estimado de US$ 300 milhões e 12 anos de pesquisa. Hoje, estamos desenvolvendo os produtos que estarão no mercado na próxima década — conta Marcelo Ismael, diretor de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento da Basf Soluções para Agricultura na América Latina.
A companhia aplica parte desses recursos no mercado brasileiro, que segundo Ismael, tem papel estratégico para o grupo. A Basf mantém no país centros de pesquisa, estações experimentais e laboratórios que simulam as condições locais de produção.
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Para André Savino, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil, o atual cenário geopolítico exige uma estratégia de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação que seja ao mesmo tempo globalmente integrada, com adaptações específicas para cada local:
— Não se trata de escolher uma região em detrimento de outra, mas, sim, de fortalecer nossa presença e capacidade de inovação nos principais mercados agrícolas do mundo, respondendo às suas necessidades específicas.
Segundo ele, o foco não é centralizar, mas diversificar e regionalizar investimentos. Por ano, a Syngenta desembolsa US$ 2 bilhões em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em sua rede global, com uma parcela considerável destinada ao mercado brasileiro — a empresa não informa os dados específicos de cada mercado.
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