
Como o novato Porto Vitória trabalha para colocar o Espírito Santo no mapa do futebol brasileiro
Hoje, às 15h, na Gávea, o Flamengo estreia na Copa do Brasil Sub-20. Mais um jogo para os meninos do Ninho, crias de uma das bases mais fortes e bem estruturadas do país. Do outro lado, estará o modesto Porto Vitória, um clube-empresa do Espírito Santo, que sonha deixar de ser apenas uma sombra do eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais no futebol brasileiro e se firmar como um dos grandes formadores de talentos do país.
A viagem de mais de oito horas até o Rio é mais uma oportunidade de visibilidade para os garotos, que foram finalistas do estadual da categoria deste ano e campeões em 2024. O favoritismo é todo rubro-negro na partida que vale a classificação à segunda fase. Mas surpresas sempre podem acontecer.
Meninos da base do Porto Vitória
Divulgação/Bruno Aguiar/Porto Vitória
E não seria tão surpreendente aos olhos do Flamengo, que conhece bem os frutos do trabalho de base do Porto Vitória. Nos últimos dois anos, ele ganhou praticamente todas as competições capixabas desde o sub-11 ao sub-20. O clube carioca já contou com o talento do zagueiro Natan, revelado no time do Espírito Santo, com passagens pelo Bragantino, Napoli-ITA e atualmente no Bétis. Todas as transações renderam cerca de R$ 12 milhões aos cofres da equipe, sendo pouco mais de R$ 1 milhão do mecanismo de solidariedade da Fifa por ser o formador.
Atacante na base do Fla
O “menino dos olhos” do Porto Vitória também faz parte da base do rubro-negro. Há dois anos, Guilherme Queiroz trocou os treinos na Associação Esportiva Siderúrgica Tubarão (AEST) e os jogos no Camp Nou, na Barcelona capixaba, pelos campos do Ninho do Urubu. Ele é um dos atacantes do sub-15 do Flamengo, ao lado do conterrâneo José Eduardo. O Porto Vitória mantém 20% dos direitos econômicos do garoto.
—É um centroavante nato, mais de 1,80m, longilíneo — diz o ex-zagueiro Silvério Santos, diretor geral da base do Porto Vitória, que procura biotipos semelhantes nas triagens, mas reforça que o talento prevalece. — As bases de hoje se preocupam muito com tática, posicionamento em campo, e os garotos não fazem o mano a mano.
Silvério Santos, diretor geral da base do Porto Vitória
Divulgação/Bruno Aguiar
Há décadas no futebol, Silvério tem uma visão bem pragmática do projeto iniciado pela tradicional família Coelho há 11 anos, com capital inicial de R$ 15mil. Atualmente, o custo mensal do clube é de R$ 1 milhão, incluindo o time profissional, criado em 2022, e ainda é deficitário.
— Futebol não se faz sem dinheiro. Nossa meta é formar e vender jogador. Mas sabemos que os grandes talentos são poucos, dois, três, no máximo. Conversamos com eles sobre isso — afirma o diretor, que, recentemente, perdeu o coordenador da base, o professor Paoli, para o Botafogo.
Para impulsionar o crescimento do clube, os executivos fecharam parceria com Rafaela Pimenta, agente de jogadores como Haaland, do Manchester City, por intermediação do ex-jogador capixaba Maxwell, lateral de sucesso no PSG e na seleção. A ideia é criar uma “embaixada” na Europa para apresentar os talentos do Porto Vitória e captar investimentos.
Clube da comunidade
O planejamento de um clube bem estruturado e financeiramente estável anda de mãos dadas com o propósito social, que impacta a região. Além de formar atletas, o clube oferece acompanhamento escolar, conta com apoio psicológico e de assistência social como forma de inserção dos atletas vindos das classes menos favorecidas.
O clube, por exemplo, doa cestas básicas para as famílias dos jogadores em situação mais precária. Os parentes dos jovens das classes mais abastadas também se reúnem numa rede de solidariedade.
—Nem todos viram jogadores, mas todos saem daqui melhores cidadãos — reforça o presidente do clube, Vinícius Coelho, que tem contato direto com as famílias e as orienta para que os filhos não se percam pelo caminho. — Muitos pais recebem propostas para levar os filhos daqui com 12, 13 anos. A decisão é sempre deles, mas eu converso sobre as dificuldades de uma mudança desse tamanho na vida da família, e nem sempre o garoto está pronto.
O presidente do Porto Vitória, Vinícius Coelho, no Estádio Kleber Andrade, em Cariacica
Porto Vitória/Divulgação
A fila por um lugar na base do Porto Vitória só cresce. Hoje, a maioria dos atletas é do estado, mas já há quem venha de Minas, interior de São Paulo e do Rio pela fama do clube. Aos poucos, o time vai ganhando espaço no coração dos capixabas.
Um programa tem sido fundamental: um dia do Porto Vitória em alguns colégios da região. Os alunos recebem a visita do mascote, de membros do clube, participam de gincanas e recebem prêmios relacionados ao verde e branco. Há até uma incipiente torcida organizada.
Isolado no Sudeste
Único representante do Espírito Santo com o certificado de clube formador da CBF, o Porto Vitória se vê também como um projeto de reconstrução — esportiva, social e simbólica — de um estado que durante décadas viu seu talento desperdiçado pela falta de estrutura e de visibilidade. Até hoje nenhum time cheg
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