Com Trump em visita à Ásia, aumentam especulações sobre nova reunião com Kim Jong-un
Na carregada agenda do presidente dos EUA, Donald Trump, na Ásia, que inclui acordos, diálogos (especialmente com a China) e visitas a novos líderes aliados, a Casa Branca não descarta a inclusão de mais uma reunião: com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Nas últimas semanas, a possibilidade — defendida até pelo próprio Trump — ganhou corpo, mas apesar de palavras até certo ponto afáveis de Pyongyang, o americano pode encontrar um interlocutor diferente daquele com quem conversou em 2018 e 2019.
— Estou aberto a isso. Seria muito bom encontrá-lo — disse Trump nesta segunda-feira, a bordo do Air Force One, a caminho do Japão, uma de suas escalas na Ásia. — Nada foi decidido ainda, mas se ele (Kim Jong Un) quiser se encontrar, eu também gostaria. Se ele quiser se encontrar, eu estarei na Coreia [do Sul].
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As discussões começaram a transparecer através da imprensa americana em setembro, quando membros da Casa Branca confirmaram que um encontro estava sendo discutido dentro do alto escalão do governo. Um entrave é a ausência de contatos formais entre Washington e Pyongyang — a Coreia do Sul, que desde a posse do presidente Lee Jae-myung busca melhorar seus laços com o vizinho do norte, diz que se uma reunião de fato acontecer, ela não precisa da participação de Seul.
Na semana passada, antes de embarcar pelo tour asiático, que o levou à Malásia, Japão e Coreia do Sul, Trump confirmou a intenção de se encontrar com Kim, lembrando do bom relacionamento que mantinha com ele — no final de seu primeiro mandato, ambos chegaram a trocar cartas.
Mesmo amizades sinceras costumam ter limites, especialmente na política internacional. Em setembro, já em meio aos rumores sobre um encontro, Kim Jong-un disse ter boas memórias de Trump, com quem se encontrou três vezes em 2018 e 2019, deixando claras suas linhas vermelhas:
— Se os EUA abandonarem sua obsessão vazia com a desnuclearização e quiserem buscar uma coexistência pacífica com a Coreia do Norte com base no reconhecimento da realidade, não há razão para não nos sentarmos com os EUA — declarou Kim.
Imagem mostra líder da Coreia do Norte com o premier chinês, o secretário geral do Partido Comunista do Vietña e o russo Dmitry Medvedev
STR / KCNA VIA KNS / AFP
Nos seis anos que se passaram desde o aperto de mãos entre Trump e Kim na divisa entre as duas Coreias, Pyongyang avançou no desenvolvimento de seu programa nuclear, com novas e menores ogivas, mísseis mais poderosos e com alcance de milhares de quilômetros, com o apoio direto de um algoz dos EUA, a Rússia.
Em junho, um painel de especialistas independentes afirmou que Moscou já transfere tecnologia militar e financia ao menos parte do programa nuclear local como “pagamento” pelo apoio norte-coreano à invasão da Ucrânia. Enquanto Trump se encontrava com líderes mundiais na Malásia e Japão, a chanceler da Coreia do Norte, Choe Son-hui, seguia para Moscou, para reuniões com diplomatas e com o presidente Vladimir Putin.
— Se um encontro com Kim Jong-un acontecer, Trump se gabará e dirá que é ele quem pode resolver os problemas da Península Coreana também, então ele tem algo a ganhar. Mas os EUA teriam algo substancial para dar a Kim Jong Un em troca? — questionou Chung Jin-young, ex-reitor da Escola de Pós-Graduação em Estudos Internacionais Pan-Pacíficos da Universidade Kyung Hee da Coreia do Sul, em entrevista à rádio pública americana PBS.
Líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, ao lado do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, durante cúpula em Cingapura
SAUL LOEB/AFP
Em suas últimas declarações, Trump pareceu aberto à flexibilização das demandas de Washington. Antes de embarcar para a Ásia, ele reconheceu que a Coreia do Norte é uma potência nuclear (“Eles já têm muitas armas nucleares”, disse a jornalistas), repetindo o que disse em seu discurso de posse.
Com a exceção da África do Sul, durante o regime do Apartheid, jamais um país abriu mão de suas armas nucleares, e especialistas acreditam que a saída seria oferecer o alívio das sanções em troca de ações como o congelamento do número de ogivas, ou limites ao desenvolvimento de mísseis balísticos. De acordo com a Associação para o Controle de Armas, a Coreia do Norte tem 50 ogivas operacionais, além de material para construir mais 90 ogivas.
— Temos sanções. Isso é um grande negócio para começar. Poderia ser algum tipo de incentivo para fechar um acordo — disse Trump a bordo do Air Force One.
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Apesar dos rumores, não há sinais de que a reunião acontecerá. Citados pelo New York Times, funcionários da Casa Branca dizem que não há nada previsto. A Coreia do Norte está em silêncio, e uma porta-voz da Presidência sul-coreana considerou a hipótese “muito improvável”, ao mesmo tempo
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