 
        Calor intenso desafia adaptação climática em Belém
Desde o anúncio que confirmou Belém como sede da COP30, ainda em dezembro de 2023, transmitiu-se primeiramente, dentro e fora do Brasil, a ideia de que finalmente haveria uma “COP da floresta”. De lá para cá, porém, diante do fato de que a agenda oficial do evento não terá a floresta como ponto central, a mensagem mudou para a de que será uma “COP na floresta”.
Dezessete novas confirmações em uma semana: COP30 alcança 149 países com hospedagem
'Líderes climáticos': Revista Time coloca Lula, Paes, presidente da COP30 e DJ Alok em lista dos 100 mais influentes do mundo
Não é bem assim. A capital paraense pertence à região da Amazônia, mas a maior parte dos cerca de 50 mil visitantes não verão de perto a exuberância do bioma, e sim um espaço mal urbanizado e com pouquíssimo verde fora de áreas mais nobres ou centrais, além da alta vulnerabilidade a extremos de calor e chuva.
Segundo estudo da ONG internacional CarbonPlan, a cidade que sediará a COP30 pode virar a segunda mais quente do mundo até 2050. A projeção baseia-se não só na subida da temperatura máxima, mas também na combinação de fatores como quentura e umidade, que intensificam a sensação térmica e os riscos à saúde. Ela indica que, ao longo do próximo quarto de século, Belém pode ter cerca de 222 dias anuais de calor extremo. Apenas Pekanbaru, na Indonésia, a superaria no quesito.
Embora a pesquisa use o ano de 2050 como referência, essa realidade não está tão distante. Enquanto no início do século a média de dias de calor extremo em Belém girava em torno de 50 por ano, em 2024 a cidade já enfrentou a situação em 212 dias, segundo levantamento do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) com dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
— Falar sobre adaptação climática provavelmente ficará até mais fácil justamente por causa da situação de Belém — comenta a diretora-executiva da COP30, Ana Toni. — Essa realidade, parecida com a de muitas cidades do mundo, vai ser mostrada. Isso era inclusive uma intenção do presidente Lula. As pessoas vão ver as dificuldades de adaptação.
Para Ana Toni, quem sair de Londres, Paris ou outras cidades de países desenvolvidos vai ter a oportunidade de observar visualmente e sentir os efeitos de uma cidade muito exposta às mudanças climáticas. 
— Vão encarar essa realidade e entender melhor a razão de os países em desenvolvimento clamarem pela agenda da adaptação climática.
Algo que a população local vive na pele diariamente.
— Aqui no meu bairro, como quase não tem árvores, é comum a gente ver as pessoas se escondendo do sol atrás dos postes dos pontos de ônibus — conta o professor Raimundo de Oliveira, morador do Guamá, o bairro mais populoso da capital paraense. 
Ele reclama da falta de arborização e até mesmo de mais intervenções urbanas que ofereçam sombra:
— Os moradores sentem o calor na pele. As crianças sofrem nas escolas. É um massacre — diz.
É um exemplo direto do que foi apontado pelo presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, na sua oitava carta à comunidade internacional, divulgada na semana passada e exclusivamente dedicada à adaptação climática. O texto defende que o tema ocupe o centro das estratégias de sobrevivência e estabilidade econômica.
“Sem adaptação, a mudança do clima se torna um multiplicador da pobreza, destruindo meios de subsistência, deslocando trabalhadores e aprofundando a fome. À medida que os impactos se intensificam, a inação não representa uma falha técnica, mas uma escolha política sobre quem vive e quem morre”, afirma o documento.
De acordo com Ana Toni, que tem defendido abertamente perante a comunidade internacional o fortalecimento da agenda de adaptação climática desde que assumiu a diretoria-executiva da COP30, a conferência buscará avanços definitivos no tema.
— Um primeiro legado que queremos deixar é avançar para um acordo sobre os indicadores de adaptação. Sem eles, é muito difícil fazer mapas de risco e saber exatamente o que precisa ser monitorado — afirma. — E o segundo legado é o letramento, o conhecimento sobre o tema, que nunca foi tratado de maneira tão forte em nenhuma outra COP.
Ana Toni nutre a expectativa de que as delegações oficiais de alguns países e representantes de bancos multilaterais assumam compromissos para financiar projetos de adaptação climática. 
Segundo relatório da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que organiza as COPs, 144 países já iniciaram a elaboração dos seus Planos Nacionais de Adaptação, os Naps, e 67 nações em desenvolvimento apresentaram oficialmente. O número foi encarado como um sinal de que os países estão dispostos a aproximar a agenda climática do cotidiano das pessoas ao incorporar medidas de adaptação nas políticas públicas.
Conforme explica a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, estimativas globais sinalizam que a agenda de adaptação climática precisa de investimentos anuais da ordem de US$ 310 bilhões a US$ 365 bilhões até 2025. 
— É mui
Fonte original: abrir
 
                 
                 
                 
                 
                 
                 
                