Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Aulas de teatro abrem novas perspectivas para idosas em Niterói

13/10/2025 10:01 O Globo - Rio/Política RJ

Oficinas de teatro para a terceira idade têm transformado a rotina de um grupo de mulheres em Niterói. Longe de se tratar de aulas convencionais, a proposta se apresenta como uma atividade terapêutica, em que o palco se torna ferramenta de cuidado emocional, sociabilidade e resgate da autoestima. Criado pelo psicólogo e ator Aldo Frey, o projeto nasceu da ideia de que o envelhecimento não precisa ser sinônimo de isolamento, mas pode abrir novas possibilidades de criação, convivência e protagonismo.
Censo 2022: Niterói é a cidade com maior renda per capita do estado do Rio
'Chaves': Filho do criador do personagem não descarta novos episódios da série; megaexposição estreia no Rio
A inspiração veio de dentro da própria família de Aldo. Ele lembra que a avó paterna, Lilia Frey, foi a primeira a mostrar o poder transformador da cena. Vestida de Vovó Noel, ela animava as noites de Natal e, ao encarnar o personagem, deixava para trás as limitações da idade.
— Tenho inúmeras recordações dela, mas as festas natalinas ocupam um lugar de destaque. Naqueles momentos, ela não era mais a Dona Lilia com questões de saúde, e sim a Vovó Noel, pronta para inundar a família com seu amor e carinho. Desde cedo ficou evidente para mim o poder do teatro em dar um frescor de juventude aos idosos — conta.
As oficinas acontecem todas as sextas-feiras, na clínica Casa da Mente, em Santa Rosa. O espaço, que originalmente atende exames de polissonografia e eletroencefalograma, abriu as portas para a iniciativa, que se encerra sempre com um café coletivo. Hoje, participam sete mulheres com mais de 60 anos, acompanhadas por uma equipe de oito pessoas responsáveis pela produção dos encontros e pela preparação de um espetáculo anual. Além dos encontros das aulas, o grupo também realiza atividades externas, como ida a museus e teatros, tudo para criar laços afetivos entre elas.
Bandeira Azul 2025/2026: Três praias do Rio e uma de Niterói ganham selo internacional
A trajetória de Aldo como educador também se entrelaça com o projeto. Ele ingressou na faculdade de Psicologia decidido a usar o teatro como recurso terapêutico, após dez anos de experiência em companhias teatrais. Daí nasceram iniciativas como o grupo “Vozes da Diversidade”, que atua em instituições como a APAE e a Escola Especial Crescer, além de oficinas em escolas municipais. A versão voltada à terceira idade se tornou um dos braços mais singulares desse trabalho, ao mostrar que, mesmo em idade avançada, o exercício da expressão artística pode ser decisivo para a saúde emocional.
Entre os relatos das participantes, a experiência se confirma como um antídoto contra o silêncio e a invisibilidade social. Juséia Machado Corrêa, de 66 anos, moradora de Icaraí, destaca que encontrou no projeto não apenas a chance de realizar um sonho antigo de ser atriz, mas também de exercitar a mente e superar a timidez.
— Quando participei da primeira oficina, fiquei super animada. Queria fazer alguma coisa para exercitar a mente, porque depois da aposentadoria a gente acaba ficando mais parada. Aldo nos propõe atividades que mexem com a cabeça e o corpo: exercícios de grupo, danças, memorização de textos e até canto. Eu estou me soltando, gravando falas com muito mais rapidez. A timidez ficou para trás, e percebo que estou mais confiante. Além disso, nosso grupo é unido, a gente bate papo, sai junto depois, e essa socialização é incrível— afirma.
Perigo: Vídeo mostra dupla caminhando no telhado do Theatro Municipal; entenda
Para Aldo, o impacto vai muito além do ensaio ou da preparação de um espetáculo. O teatro terapêutico, diz ele, atua em dimensões como autonomia, memória, elasticidade e consciência corporal, muitas vezes negligenciadas no envelhecimento. O efeito é perceptível tanto na convivência familiar quanto nas relações sociais.
— Em muitos contextos, o idoso é silenciado ou descartado das dinâmicas culturais e sociais. Essa exclusão tem efeitos profundos sobre a autoestima e a qualidade de vida. Nosso trabalho é devolver protagonismo, criar redes de convivência e mostrar que envelhecer não é desaparecer. O palco precisa continuar aberto para essas vozes — resume.
Neste ano, as oficinas culminam no espetáculo Sou Invisível?, em que as participantes ocupam a cena para desafiar o etarismo com humor, poesia e coragem. Ainda sem data e local confirmados, Aldo adianta que estes detalhes estão em fase de ajustes e em breve irá divulgar o calendário do evento.
Initial plugin text

Fonte original: abrir