Após 40 anos de mistério, Coreia do Norte revela interior do 'Hotel da Perdição', prédio que nunca recebeu hóspedes; imagens
Por mais de três décadas, o prédio mais alto da Coreia do Norte permaneceu envolto em silêncio e especulações. O Hotel Ryugyong, um arranha-céu piramidal de 330 metros que domina o horizonte de Pyongyang, foi concebido para simbolizar o progresso nacional — mas acabou se tornando um monumento ao mistério. Agora, após anos de espera, as autoridades norte-coreanas abriram as portas do edifício pela primeira vez, permitindo um raro vislumbre de seu interior inacabado.
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Erguido a partir de 1987, o “Hotel da Perdição”, como ficou conhecido, deveria ser concluído em apenas dois anos. O sonho, no entanto, foi interrompido em 1992, quando o colapso da União Soviética mergulhou o país em crise econômica. Desde então, a estrutura passou por longos períodos de abandono e retomadas lentas — incluindo uma pausa de 16 anos — até que, em 2011, sua fachada externa foi finalmente concluída.
O interior que o mundo não via
Interiror do hotel
Reprodução
Por dentro, o cenário é outro. Segundo o gerente Simon Cockerell, da empresa Koryo Tours, que visitou o local e falou à CNN, o interior permanece cru, com “muito cimento exposto” e andares inteiros ainda sem acabamento. Ele contou ter sido levado ao 99º andar, de onde descreveu uma vista “alarmantemente alta” sobre Pyongyang. Apesar da grandiosidade, as 360 mil pés quadrados de área interna continuam essencialmente vazias.
Durante os anos de inatividade, o governo norte-coreano deu novo uso à estrutura: uma imensa tela de propaganda. Painéis de LED foram instalados em uma das faces do prédio, tornando-o um dos maiores outdoors do mundo. Em 2018, o designer de iluminação King Yong II criou um espetáculo de luzes que exibia slogans políticos e símbolos partidários, transformando o hotel em ferramenta de exaltação nacional.
O hotel recebendo a intervenção do artista King Yong II, em 2018
Divulgação
Cassino como aposta econômica
Agora, o regime de Kim Jong Un quer transformar o Ryugyong em uma nova fonte de receita. Segundo informações divulgadas por uma estação de rádio local, o governo aprovou um projeto para instalar um cassino no edifício, com o objetivo de atrair investimento estrangeiro e impulsionar o turismo. A proposta prevê que empresários internacionais possam obter o direito de operar o cassino em troca de financiar o acabamento interno — cujo custo é estimado em 2 bilhões de dólares, cerca de 5% do PIB norte-coreano.
O custo para concluir o hotel é estimado em cerca de US$ 2 bilhões
Reprodução
A Coreia do Norte reconhece o potencial lucrativo dos cassinos voltados exclusivamente a visitantes internacionais. Atualmente, o país conta com apenas dois estabelecimentos do tipo: um no Hotel Yanggakdo, também em Pyongyang, e outro na zona econômica especial de Rason. A expectativa, segundo moradores locais, é que o novo empreendimento “revitalize” o turismo na capital.
Um futuro incerto
Apesar dos planos ambiciosos, a abertura do hotel ainda parece distante. O governo suspendeu recentemente a retomada de visitas de turistas ocidentais, interrompendo o entusiasmo que se seguiu à reabertura parcial das fronteiras em 2023, quando visitantes russos voltaram a ser aceitos.
O Hotel Ryugyong segue como um retrato fiel da Coreia do Norte: imponente por fora, enigmático por dentro. Concebido para representar prosperidade, acabou se tornando símbolo das contradições de um regime que busca projetar modernidade enquanto mantém suas portas — e seus segredos — hermeticamente fechados.
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