'O Brasil de hoje pede um teatro que incomode': Zezé Motta abre festival com peças a preços populares no Gláucio Gill
Segunda-feira (3), às 20h, quando as cortinas do Teatro Gláucio Gill, em Copacabana, se abrirem, será dado o primeiro passo de uma comemoração marcante. Ali começa a celebração dos 60 anos da casa, que até 2 de dezembro sediará o Festival Todos no TGG — 30 Espetáculos em 30 dias, com ingressos a preços populares (R$ 20, inteira). E os primeiros passos no palco, na noite de estreia, serão de Zezé Motta, que, aos 81 anos, também está completando seis décadas de trajetória artística. Ícone da cultura afro-brasileira, a atriz e cantora apresentará o show “Atendendo a pedidos”, que cruza memória, repertório e presença.
— Para mim é um privilégio estar 60 anos em cena, cantando e atuando. É uma bênção. São 60 anos ininterruptos, sempre em atividade, exercendo o meu ofício que é cantar e atuar — disse ao GLOBO-Zona Sul.
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A lista de 30 atrações, curiosamente, vai de Z a A. Começa com Zezé e será fechada em 2 de dezembro com “Alma brasileira”, espetáculo de Camila Amado estrelado por Marco Nanini e dirigido por Amir Haddad.
Entre Zezé e “Alma”, o abecedádio de artistas inclui Mateus Solano, Silvero Pereira, Kelzy Ecard e Vilma Melo, além de companhias de diferentes gerações e estilos.
Emílio de Mello, Fernando Eiras e Enrique Diaz: equipe da peça 'In on it', que integra o festival
Alexandre Cassiano/Agência O Globo
Sob a direção do gestor e artista Rafael Raposo, o teatro vem retomando seu fôlego desde a reforma finalizada em janeiro passado, alcançando 93% de ocupação e voltando a ser um importante ponto de encontro da cena carioca. Para celebrar o aniversário, Raposo idealizou uma mostra que refletisse essa vitalidade.
— A ideia surgiu do desejo de abrigar um teatro que dialogue com a sociedade e com temas urgentes. Quisemos reunir artistas e companhias que representam o teatro fluminense e agitam a cena do Rio — explica o gestor da casa.
A curadoria do festival, diz ele, foi guiada pelo valor artístico e histórico das produções.
— São companhias e espetáculos premiados que já passaram pelo Gláucio Gill e dialogam com a sociedade contemporânea — destaca.
Com 30 montagens em 30 dias, o desafio logístico também é parte da comemoração.
— Todos os espetáculos serão montados e desmontados no mesmo dia. É uma estrutura de festival — conta Raposo.
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A equipe técnica foi reforçada para dar conta da rotina, mas o ritmo intenso já faz parte do cotidiano do teatro.
— Nossa programação é de segunda a segunda. Estamos há quase três anos nesse movimento, com duas salas, a grande e o cabaré, que conta com um espetáculo novo por mês. Agora, vamos ampliar essa dinâmica — afirma.
Segundo o gestor, o entusiasmo da equipe resume o espírito da celebração.
— Estamos vibrantes para receber esses espetáculos. Essa é a função do Gláucio Gill: levar ao público peças que dialoguem com a sociedade contemporânea — conclui.
'Atendendo a pedidos'
Zezé Motta abre festival em comemoração aos 60 anos do Teatro Gláucio Gill
Divulgação
O espetáculo “Atendendo a pedidos” começa com lembranças de 1978, quando Zezé Motta lançou o primeiro disco solo, e avança por músicas que o público aprendeu a associar à sua voz.
— Tem canções de compositores que eu gravei e que o público sempre lembra. Tem Chico Buarque, Caetano Veloso, e não pode faltar Luiz Melodia, meu saudoso amigo, irmão, parceiro. Por isso o nome do show é “Atendendo a pedidos”, tem um pouquinho de cada um, fui anotando com minha produção os pedidos... E aí saiu esse show — conta.
Em sintonia com a proposta do festival de dialogar com a sociedade contemporânea, Zezé reafirma o palco como espaço de fricção entre arte e realidade.
— É onde a arte e a realidade se confrontam. O Brasil de hoje pede um teatro que incomode, que provoque, que questione o que está naturalizado. Precisamos de um teatro que não fuja das urgências sociais, da desigualdade, do racismo, da intolerância, mas que também aponte caminhos, que celebre nossa resistência e nossa potência criadora — defende.
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O percurso, diz, é também político por afirmar presenças.
— Ser uma mulher negra no palco, hoje, é mais do que um gesto artístico, é um gesto histórico. É garantir que a nossa presença nunca mais seja exceção, mas parte natural da cena brasileira — pondera.
A democratização do acesso é outra pauta que Zezé faz questão de sublinhar. Em referência aos ingressos populares e à abertura do Teatro Gláucio Gill à comunidade, a cantora e atriz destaca:
— O teatro sempre foi um espaço de encontro. E esse encontro só é verdadeiro quando todos podem participar. Abrir as portas do Gláucio Gill é reafirmar que a arte pertence ao povo, e que é no olhar de cada pessoa, de cada espectador, que o teatro cumpre sua
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