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O poder do placebo na saúde mental

01/11/2025 07:00 O Globo - Rio/Política RJ

O poder do placebo é real, e agora temos mais uma evidência robusta para prová-lo. Uma revisão de pesquisas publicada na conceituada revista médica JAMA Psychiatry demonstrou que o placebo pode ser um importante aliado no tratamento de problemas de saúde mental, entre eles a depressão, o transtorno do pânico, o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) e até o TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade).
Você provavelmente vai me perguntar: se o placebo ajuda, por que estou fazendo terapia e tomando remédios? A ideia do placebo nunca foi ser um substituto para os tratamentos formais, mas sim agir como um complemento que potencializa os benefícios da terapêutica.
Historicamente, placebos ganharam má fama por terem sido associados a tratamentos sem valor terapêutico. Por décadas, eles foram usados em testes de medicamentos como um divisor de águas: se a melhora ocorresse tanto no grupo com remédio real quanto no que tomava o placebo, a pílula era considerada ineficaz. Contudo, o que se descobriu é que reagir positivamente ao placebo não significa que o medicamento é inútil, mas que parecem atuar aí componentes do campo psicológico.
Ninguém sabe com 100% de certeza como isso funcionaria, mas parece haver maior liberação de substâncias ligadas ao bem-estar (as endorfinas, por exemplo) e a ativação de áreas do cérebro relacionadas ao humor. O resultado disso, como já se sabe, é um benefício terapêutico.
Não é por acaso que uma simples consulta médica já gera melhora em que sofre. Sabemos que, ao buscar um profissional de saúde mental e ser atendido e ouvido, o paciente quase sempre sai do consultório mais aliviado, mesmo antes do tratamento. É como se a mera escuta atenciosa e acolhedora provocasse a redução de sintomas e trouxesse bem-estar.
O mesmo efeito aparece no campo das ciências do corpo, como a educação física. A escuta atenta de um personal trainer (temos dois excelentes no GLOBO, também colunistas: Marcio Atalla e Chico Salgado) gera o mesmo efeito que a de um médico, ajudando a aliviar as dores corporais que alguém traz a ele.
A indicação de um medicamento pelo psiquiatra ou médico de outra especialidade, mesmo antes de ser ingerido, também tem grande efeito placebo. O fato de o paciente enxergar o médico como alguém com conhecimento e experiência e que, portanto, sabe que vai recomendar um remédio que trará melhoras, ajuda a maximizar os efeitos da pílula receitada.
As pesquisas com placebo na área da saúde mental têm nos trazido boas novas. Penso que a melhor delas é que a resposta ao placebo é real e ajuda em muitas condições de saúde mental, como nos mostrou a revisão de estudos publicada em 2024, que envolveu mais de 10 mil pessoas.
A segunda é que, ao que parece, alguns transtornos mentais respondem melhor ao placebo do que outros. Pessoas com depressão e ansiedade são as que mais mostram melhoras, o que talvez nos ajude a pensar que, dependendo da gravidade dessas condições, talvez nem seja preciso usar remédio inicialmente.
Esses estudos trazem grandes implicações não só para nós, profissionais da saúde, mas para todos. Saber que existe uma evolução inicial, e que ela pode ser significativa em quadros de ansiedade e depressão, pode ajudar a orientar as nossas conversas. Uma abordagem mais empática já gera uma resposta placebo. E isso também nos ajuda a entender melhor a hora certa de indicar um medicamento.
No que se refere ao restante de nós que não é da área, o efeito placebo talvez nos ajude a refletir que talvez alguns dos problemas de saúde mental que enfrentamos no dia a dia, como a ansiedade, tenham componentes que não sejam biológicos e que podem estar no campo do emocional, do social e do ambiental.

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