
Viral no TikTok, extrema-direita 'flopa' nas eleições autárquicas de Portugal
Viral no TikTok, extrema-direita 'flopa' nas eleições autárquicas de Portugal.
Cortesia
As eleições autárquicas deste domingo (12) em Portugal aguardavam uma resposta: será que o hype em torno do Chega, partido de extrema-direita liderado por André Ventura, se transformaria em poder real nas prefeituras — num país acostumado ao bipartidarismo entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD)?Depois do salto impressionante nas legislativas de maio, quando o Chega conquistou 58 deputados e 23% dos votos, esperava-se que a onda digital se traduzisse em poder local.Ventura, embalado pelo sucesso, chegou a prever vitórias em até 30 autarquias. O resultado, porém, frustrou a expectativa: o Chega conquistou apenas três — Albufeira (distrito de Faro), Entroncamento (Santarém) e São Vicente (Madeira). A estratégia, simplesmente, "flopou" no campo que mais importava.O contraste foi "hard". Em 2021, o partido, criado em 2019, não havia conquistado nenhuma prefeitura e contava só com 19 vereadores. Agora, chegou a 134 — um crescimento notável, mas insuficiente para romper o domínio dos partidos tradicionais. Com 11,86% dos votos, o partido ficou em um modesto sexto lugar, muito atrás de gigantes como o PSD (136 autarquias) e o PS (127), além de independentes (20), da coligação CDU — comunistas e verdes — (12) e do CDS (4).
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Para entender o fracasso, é preciso entender o jogo. Diferente do Brasil, as autárquicas em Portugal testam a força territorial dos partidos. O eleitor recebe três cédulas (boletins) e vota para a Câmara Municipal (o executivo), a Assembleia Municipal (o legislativo) e a Junta de Freguesia (um poder de bairro). Crucialmente, vota-se em listas partidárias, não em candidatos individuais. O modelo privilegia a estrutura partidária e a reputação construída no contato direto — não apenas o meme.Soma-se a isso a própria atmosfera da campanha. Ao olhar de um brasileiro acostumado ao calor das campanhas, a disputa portuguesa pode parecer discreta. Há o uso de outdoors (cartazes de propaganda), algo proibido no Brasil, mas falta o “calor” do corpo a corpo e o barulho das ruas — a disputa é mais fria, baseada em redes locais de influência, não em espetáculo nacional.É neste cenário que o "efeito TikTok" não se confirmou. O Chega apostou pesado na plataforma, onde 80% dos jovens portugueses da Geração Z (15-24 anos) estão ativos. O estudo "Digital 2024" mostra que o TikTok já tem 3,45 milhões de utilizadores adultos no país — e que, para 40% dos jovens, ela já é a principal fonte de notícias. O fenómeno é global: no Brasil, por exemplo, pesquisa da FGV revelou que 64% dos jovens já usam o TikTok como principal ferramenta de busca — substituindo o Google por um feed de vídeos.O problema está no DNA da plataforma. No TikTok, quem produz conteúdo viral geralmente não é um jornalista com responsabilidade social, mas um criador focado em engajamento. Para prender a atenção, o algoritmo prioriza o apelo emocional em detrimento do rigor jornalístico. Ele foi desenhado para te oferecer mais do que você já acredita, eliminando a pluralidade e reforçando vieses de confirmação. É uma máquina de criar bolhas ideológicas.A extrema-direita soube explorar melhor essa estética. Usa recursos do entretenimento — insights rápidos, trilhas sonoras manipuladas, linguagem apelativa e temáticas de conflito — para empacotar sua mensagem. Ventura explorou bem esse ecossistema: vídeos curtos e narrativas sobre supostos subsídios a imigrantes (de Bangladesh, Índia, Paquistão, África e Brasil), associando-os à crise de habitação e ao turismo predatório.Mas a fórmula que funciona na timeline não garantiu votos nas freguesias. As eleições autárquicas são de proximidade, decididas por gerações mais "velhas" — dos Millennials (25-40) aos Boomers (60+) — que ainda valorizam o conhecido que “resolve problemas”.Assim, a viralização digital não se traduziu em conversão política. A tentativa de transformar curtidas em votos — como já fizeram Giorgia Meloni na Itália ou Donald Trump nos EUA — esbarrou numa velha lição da política: o algoritmo faz barulho, mas quem ganha eleição é quem conhece a rua. O Chega gerou barulho no feed, mas o eleitor cobrou trabalho na freguesia.
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