
Um apelo dos médicos: peguem leve com os suplementos
No início deste ano, um homem de 49 anos consultou a cardiologista Danielle Belardo com dor no peito. Há algum tempo, ele vinha tratando seu colesterol alto não com a estatina sugerida pelo médico, mas com suplementos de berberina e arroz vermelho fermentado. Ele ouvira dizer que eram mais naturais.
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Os suplementos não melhoraram sua condição — longe disso. Belardo descobriu que ele não só ainda tinha colesterol alto, como também enzimas hepáticas elevadas e doença arterial coronariana tão grave que ele precisava de cirurgia cardíaca.
Ela o encaminhou para o procedimento e ele começou a tomar dois medicamentos para reduzir o colesterol, incluindo uma estatina. Ela também o aconselhou a parar de tomar os suplementos. Algumas semanas depois, os problemas no fígado foram resolvidos.
Em um momento em que as pessoas estão comprando e tomando grandes quantidades de suplementos, alguns médicos e nutricionistas estão tentando convencer os pacientes a irem com calma.
Em seu consultório em Pasadena, no estado da Califórnia, nos EUA, Belardo costuma adotar uma postura rígida, "retirando" suplementos regularmente. No ano passado, ela convenceu um paciente a parar de tomar 132 deles, incluindo alguns para "desintoxicar" os rins e o fígado.
Marily Oppezzo, professora de medicina no Centro de Prevenção e Pesquisa da Universidade de Stanford e nutricionista registrada, disse que incorpora a poderosa Marie Kondo, especialista em organização, perguntando aos pacientes quais deles despertam "alegria real e comprovada".
Uma grande variedade de gomas, pílulas e pós são categorizados como suplementos, incluindo vitaminas e minerais, compostos como creatina e produtos à base de ervas como ashwagandha e kava.
Quase todos os médicos afirmam que alguns deles têm sua importância; mulheres se beneficiam do uso de ácido fólico, por exemplo, quando estão tentando engravidar. Algumas pessoas têm deficiências de vitaminas ou minerais que os suplementos podem ajudar a resolver.
Mas os suplementos também podem apresentar efeitos colaterais, que às vezes deixam os pacientes "chocados" ao saber, de acordo com Mitra Rezvani, médica do Westchester Medical Center, em Nova York.
Muitos são apenas desconfortáveis — problemas estomacais, por exemplo. Mas alguns são mais sérios. Um artigo no The New England Journal of Medicine estimou que os suplementos são responsáveis por 23 mil atendimentos de emergência por ano.
As maneiras como os médicos abordam a questão podem variar. Rezvani já pediu a pacientes que listassem tudo o que estavam tomando e explicassem o porquê, o que ajuda a iniciar uma discussão sobre o que deveriam reconsiderar.
Jen Gunter, obstetra e ginecologista de São Francisco, por sua vez, tenta não pressionar demais.
— A pior coisa que você pode fazer é fazer com que o paciente sinta que não pode falar com você. Ainda assim, quando vejo mais um paciente tomando suplementos probióticos, sempre penso: bem, se eles funcionassem, não estaria vindo me ver — afirma.
Consequências
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) regula os suplementos de forma muito superficial, fazendo a monitoração com menos rigor do que os medicamentos e não aprovando sua segurança ou eficácia antes de chegarem ao público. Foi descoberto que suplementos são rotulados incorretamente, tanto em termos de ingredientes quanto de concentração. E alguns não se misturam bem com certos medicamentos ou entre si.
No Brasil, as novas regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autarquia responsável pelos produtos, obrigam a apresentação de um Relatório de Estudo de Estabilidade, documento que serve para comprovar a manutenção das propriedades do suplemento ao longo de todo o prazo de validade escrito no rótulo. Esse documento deve ser entregue à Anvisa durante o registro, que também é obrigatório.
Além disso, o rótulo precisa conter a recomendação de uso do produto, especificando a quantidade e a frequência diária de consumo sugerida; restrições de uso; e a lista de ingredientes. Por outro lado, como nos EUA, não são feitos ou requeridos testes que comprovam a eficácia dos suplementos vendidos no país.
Devido ao que alguns chamam de "oeste selvagem" do mercado, pode ser difícil prever efeitos colaterais adversos. Pieter Cohen, professor associado de medicina na Escola Médica de Harvard que estuda suplementos, teve uma paciente de 45 anos que desenvolveu erupções cutâneas nas pernas e costas após começar a tomar um suplemento antienxaqueca. Cohen sugeriu que ela parasse de tomar o suplemento, e as erupções cutâneas desapareceram.
Para Gunter, um motivo de preocupação são os suplementos ayurvédicos, alguns dos quais contêm chumbo, arsênio e mercúrio. Outros médicos estão atentos a sinais de danos ao fígado relacionados aos supleme
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