Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

UFJF investiga caso de mineira que teria vivido 60 anos sem comer, beber ou dormir; estudo analisa sobrevivência apenas com hóstias

07/11/2025 13:49 O Globo - Rio/Política RJ

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) investiga cientificamente o caso de Floripes Dornellas de Jesus, conhecida como Lola, uma mulher mineira que teria passado mais de 60 anos sem comer, beber ou dormir, sobrevivendo apenas com a comunhão diária. Reconhecida pela Igreja Católica como Serva de Deus, ela morreu em 1999, e seu caso, descrito como inédia eucarística, agora é estudado pelo Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da instituição.
Lola viveu em Rio Pomba (MG) e ficou paraplégica ainda na adolescência, após cair de um pé de jabuticaba. O acidente mudou o rumo de sua vida. Segundo relatos de familiares e religiosos, ela passou as décadas seguintes acamada, alegando não sentir fome, sede nem sono. Testemunhas afirmam que, por mais de seis décadas, a única forma de “alimentação” que recebia era uma hóstia consagrada, durante a comunhão diária.
O estudo da UFJF nasceu do interesse do Nupes em examinar com rigor científico fenômenos espirituais relatados pela fé popular. “Nosso compromisso é com a investigação aberta e cuidadosa, sem assumir conclusões prévias”, explica o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, coordenador do núcleo ao UOL. A pesquisa, aprovada pelo Comitê de Ética da universidade, reúne entrevistas, registros médicos e documentos históricos sobre a vida de Lola, coletados junto a familiares, médicos e membros da comunidade religiosa local.
Floripes Dornellas de Jesus, conhecida como Lola, é reconhecida pela Igreja Católica como Serva de Deus
Reprodução redes sociais
Apesar do caráter religioso do relato, o enfoque do estudo é totalmente científico. A equipe busca compreender se há possíveis explicações fisiológicas, psicológicas ou psicossomáticas para a suposta ausência de alimentação e sono. Entre as hipóteses levantadas estão distúrbios alimentares com motivações espirituais, como um quadro de anorexia nervosa religiosa, além da possibilidade de autoengano coletivo ou erro de observação ao longo dos anos.
O psiquiatra Alexander Moreira-Almeida ressalta que, à luz da ciência atual, não existem mecanismos conhecidos que permitam a sobrevivência humana sem ingestão de calorias, proteínas e vitaminas por tanto tempo. “É preciso extrema prudência e rigor metodológico. O que queremos é compreender o fenômeno, e não desacreditar nem confirmar nada”, afirma. Para isso, a equipe multidisciplinar inclui médicos de diferentes áreas, entre eles o gastroenterologista Julio Chebli, ex-reitor da UFJF, e o médico Cláudio Bomtempo, que acompanhou Lola por cinco anos.
O caso de Floripes Dornellas de Jesus remete a registros históricos de outros fenômenos semelhantes, conhecidos na tradição católica como inédia eucarística. No entanto, o suposto jejum de Lola é um dos mais longos já documentados, o que o torna especialmente intrigante para a ciência.

Fonte original: abrir