
Trump volta a apostar na Argentina após fracasso do resgate de seu primeiro mandato. Entenda
Em 2018, Donald Trump quis ajudar um velho amigo. Ele conhecia Mauricio Macri desde os tempos do mercado imobiliário, quando jogavam golfe juntos — provavelmente sem imaginar que um dia se tornariam presidentes dos Estados Unidos e da Argentina.
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O primeiro governo de Trump incentivou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a aprovar um resgate recorde de US$ 50 bilhões, com o objetivo de conter o colapso cambial na volátil economia latino-americana.
Sete anos depois, Macri trabalha para a entidade mundial do futebol, a FIFA; o FMI ainda não recuperou seu dinheiro; e Trump está novamente na Casa Branca — recebendo outro líder argentino que enfrenta dificuldades por motivos semelhantes e que está em extrema necessidade de recursos.
Donald Trump e Mauricio Macri durante uma reunião bilateral na Cúpula de Líderes do G-20 em Buenos Aires, em 2018
Bloomberg
Em uma reunião nesta terça-feira com seu homólogo Javier Milei, o presidente dos Estados Unidos deve anunciar formalmente uma injeção de US$ 20 bilhões, projetada para ajudar seu aliado a vencer as eleições legislativas do dia 26 deste mês.
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Na semana passada, o Tesouro americano chegou até a começar a comprar o enfraquecido peso argentino — que agora está sendo negociado em torno de 1.350 pesos por dólar, uma queda estratosférica em relação à taxa de câmbio de cerca de 25 pesos em 2018.
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Esses números ilustram o risco da aposta de Trump, em seu segundo mandato, na Argentina — cuja economia entrou em colapso pouco depois de receber o empréstimo do FMI durante seu primeiro governo.
À medida que a recessão se aprofundava e a inflação disparava, Macri sofreu uma derrota esmagadora nas eleições presidenciais de 2019. Pouco depois, a Argentina anunciou o mais recente de uma longa série de calotes da dívida soberana.
Indo para o inferno
Milei agora enfrenta muitos dos mesmos fatores que afundaram Macri — incluindo o temor dos investidores de que o poderoso e esquerdista movimento peronista possa voltar ao poder e reverter as políticas econômicas.
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O líder libertário argentino conseguiu equilibrar o orçamento do país e reduzir a inflação para cerca de 30%, após um pico de quase 300%. No entanto, ele também criou problemas no mercado ao gastar bilhões para sustentar o peso, que, segundo a maioria dos investidores, está supervalorizado.
Se Milei precisa de um resgate dos EUA agora, não é por falta de recursos anteriores vindos de Washington. O FMI, sob pressão da equipe de Trump, concordou em conceder outro crédito de US$ 20 bilhões tão recentemente quanto em abril. Na verdade, foram os erros políticos não forçados de Milei — além de uma oposição revigorada — que o colocaram em uma situação delicada antes das eleições de meio de mandato na Argentina.
Analistas afirmam que, embora outra linha de ajuda dos EUA talvez não seja suficiente para reverter a sorte de Milei, ela pode ao menos ajudar a conter a perda de apoio entre eleitores cansados da austeridade e ainda à espera de uma recuperação no emprego, nos salários e no crescimento.
— Sem essa ajuda, a moeda estava indo para o inferno — disse Mariel Fornoni, diretora do instituto de pesquisas Management & Fit, de Buenos Aires. — Isso teria atingido os preços, apagando os ganhos de Milei em relação à inflação, que eram seu ponto forte.
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Mariel afirmou que um pacote de resgate dos EUA “não soará muito bem para os argentinos, que já viveram muitos resgates e suas consequências” — mas ao menos poderá manter a economia estável até o dia da eleição.
De chapéu na mão
É claro que há algumas diferenças importantes entre o mais recente resgate de Trump à Argentina — que envolve dinheiro público dos EUA — e a versão de 2018 do FMI.
Naquela época, uma seca histórica destruiu as exportações agrícolas, a fonte mais valiosa de dólares da Argentina para acumular reservas e pagar dívidas. A economia de Milei, por outro lado, teve uma boa safra neste ano. Foi sua derrota esmagadora em uma eleição da província de Buenos Aires, no mês passado, que provocou pânico nos mercados quanto às suas perspectivas políticas.
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O socorro americano a Milei tem objetivos que vão muito além do desafio das eleições legislativas. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, vê uma Argentina bem-sucedida como um modelo para outros países da América Latina — Bolívia, Colômbia, Chile — que atualmente têm líderes de esquerda no
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