Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Terreiros repudiam profanação de cadáver atribuído ao Candomblé

28/10/2025 20:28 A Tarde - Política

Em um ato de urgência e defesa da fé, líderes de terreiros de Umbanda e Candomblé de Salvador e Lauro de Freitas se reuniram na tarde desta terça-feira, 28, na Casa do Benin, no Pelourinho. O encontro foi convocado pela Yalorixá Jaciara Ribeiro, coordenadora estadual do GT de Mulheres de Axé da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO-BA).O objetivo foi estabelecer um protocolo de ética e uma frente de repúdio ao vídeo da sacerdotisa Mãe Iara D'Oxum, que fez apologia a supostos rituais envolvendo vilipêndio de cadáver, uma prática criminalizada pela Constituição.O debate contou com a presença de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a expectativa de um diálogo com o Ministério Público para a elaboração de um documento oficial e um protocolo de coibição.Contradições do vídeoPara Mãe Jaciara, referência nacional na luta contra a intolerância religiosa, o vídeo representa um retrocesso e uma distorção grave das práticas do Candomblé.“As redes sociais têm feito de retrocesso para a nossa religiosidade. De exposição, de barbáries que estão sendo expostas, que não conduz com a nossa religiosidade. Tem pessoas que estão achando que é do Candomblé, mas não é. Eu sinto que é uma nova religião com alguma essência do Candomblé, porque quem é de Candomblé não faz isso”, afirmou a Yalorixá.
































































Yalorixá Jaciara Ribeiro




|  Foto: Divulgação









A fala de Mãe Iara D'Oxum, que menciona "troca de cabeça" e "violar um túmulo para tirar uma cabeça fresca de um corpo", foi classificada por Jaciara como um crime e uma perversidade, por promoverem uma narrativa que alimenta o preconceito contra as religiões de matriz africana.“O que ela fala de troca de cabeça e o que ela diz de violar um túmulo para tirar uma cabeça fresca de um corpo, é muito violento, porque já está na Constituição que isso é um crime. Mas embora ela diz que faz, ela faz uma apologia ao crime. De qualquer forma, ela pode trazer outras consequências para a nossa liberdade de culto. [...] Ela foi muito perversa de trazer algo que não é real. Ela criou esse ritual que não é do Candomblé,” enfatizou Jaciara Ribeiro.Posicionamento de Mãe IaraApós a repercussão, a equipe jurídica de Iaraci Santos Brito, conhecida como Mãe Iara D'Oxum, divulgou uma nota oficial. O advogado Tiago Marback afirmou que o vídeo foi publicado em resposta a uma seguidora e tinha como intenção “valorizar os ritos sagrados do culto afro-brasileiro”.O comunicado reconhece, no entanto, reconhece que o tom não foi o melhor: “Mãe Iara encontra-se profundamente abalada com a repercussão do vídeo e reconhece que a forma que utilizou determinadas palavras foi infeliz, uma vez que abriu margem para inúmeras interpretações, não refletindo a sua verdadeira intenção.”A sacerdotisa também declarou que seguirá “firme no propósito de educar, dialogar e combater qualquer forma de intolerância religiosa”, reiterando o compromisso com a legalidade e o respeito à diversidade cultural.
Ver esta publicação no Instagram Uma publicação partilhada por Mãe Iara D' Oxum (@maeiaradeoxum)Medo da intensificação da intolerânciaApesar do esclarecimento, os líderes religiosos expressaram receio de que o vídeo reforce estereótipos violentos e coloque os praticantes das religiões de matriz africana em maior risco. A Yalorixá Jaciara fez questão de reafirmar os fundamentos da fé:“Não cultuamos o diabo. Não matamos criancinhas. Não bebemos sangue. Cultuamos a força da natureza, os Orixás, a divindade", completou.Uma religiosa presente, que preferiu não revelar a identidade, ressaltou o perigo político e social do conteúdo.“Ela entrega de bandeja, para uma nação que é extremamente violenta para a gente, uma política contra o nosso povo. É como se a gente profanasse os túmulos que são da fé e religião para fazer troca de cabeça, isso não fazemos. Não é nosso, das religiões de matrizes africanas. Um culto que profana, que fere a constituição. [...] A gente corre mais risco a partir daquele vídeo,” desabafou.Os líderes esperam coibir a continuidade de tais exposições, que, segundo eles, mancham e criminalizam indevidamente uma fé baseada no culto à natureza e ao respeito.

Fonte original: abrir