São Paulo Fashion Week chega à 60ª edição unindo gerações de estilistas
O ano era 1995 e o Brasil tinha acabado de entrar num novo tempo com o lançamento, em 1994, do Plano Real. Enquanto Fernando Henrique Cardoso dava partida no seu primeiro mandato, o Brasil criativo estava pronto para emergir novamente. Foi exatamente essa energia contida que veio à tona um pouco antes, em 1993, no Phytoervas Fashion, fruto da collab entre o produtor Paulo Borges e a empresária Cristiana Arcangeli, fundadora da marca de beleza homônima. Ali surgiram novos estilistas que moldariam a identidade da moda brasileira, como Alexandre Herchcovitch, Walter Rodrigues e Ronaldo Fraga.
Coleção de verão 2026 de Patricia Viera: desfile na SPFW
Ze Takahashi/ FOTOSITE
Atento ao entorno — a Semana de Moda de Paris nasceu em 1973 e, em 1994, centralizou todos os desfiles no Carrossel do Louvre —, Paulo percebeu a necessidade de um calendário oficial para a moda brasileira (até então, existiam iniciativas isoladas, como o Grupo Moda Rio, na década de 1970). Em 1996, ele lançou o MorumbiFashion Brasil, mesma época em que Eloisa Simão organizou a Semana BarraShopping de Estilo, embrião do Fashion Rio (2002). O evento paulista, em 2001, desvinculou-se do shopping e virou São Paulo Fashion Week. No mês passado, chegou à 60ª edição em grande estilo, juntando, numa celebração histórica, veteranos, como o próprio Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho, Patricia Viera e Ronaldo Fraga, com marcas da nova geração, como Meninos Rei, Dendezeiro e Santa Resistência. “A formação educacional e profissional, que eu falava há três décadas virou realidade”, diz Paulo, em entrevista exclusiva por chamada de vídeo.
Grifes que atravessaram as três décadas, superando o sobe e desce de planos financeiros, e marcas jovens caminharam em passarelas espalhadas pela capital paulista. A carioca Patricia Viera, da grife que leva seu nome, falou sobre a nova fase na qual tem a filha Andrea Viera como diretora criativa. “Vou fazer 70 anos. A etiqueta não pode envelhecer comigo”, justifica a designer, que se inspirou em Londres para criar vestidos floridos e de poá com plissados para o verão 2026. Quem também brilhou foi Ronaldo Fraga, que traduziu em roupas a obra musical de Milton Nascimento. “Sou abusado, né? Há muitos caminhos, mas escolhi o lugar da infância onde o artista se forja”, comenta, refletindo sobre os 30 anos da SPFW: “Muito mais do que roupa, o evento falou da gente, da diversidade brasileira”. Gloria Coelho, por sua vez, fez um desfile num trem em movimento e analisou o momento atual. “Comparo a Revolução Industrial à Inteligência Artificial. Nossa estampa, extraída de um quadro elisabetano, não seria possível sem ela”, explica.
Desfile de Alexandre Herchcovitch na SPFW N60
Ze Takahashi/ FOTOSITE
Resultado da evolução em sinergia com o Zeitgeist (espírito do tempo), a SPFW abraçou a representatividade. “Quase um terço de integrantes do line-up são do Norte e do Nordeste”, comemora Paulo Borges. “Incentivo a nova geração a pesquisar o que já foi feito para não cair na cilada de que já sabe tudo”, observa. Nessa vanguarda, está a soteropolitana Meninos Rei, dos irmãos Céu e Junior Rocha. “O que nos define é a ancestralidade e a elegância”, afirma Céu.
Desfile da Meninos Rei na SPFW
Ze Takahashi/ FOTOSITE.
Para Paulo, o futuro já começou. “No início da jornada, dizia que seriam necessários 30 anos para formarmos um mercado. Agora só projeto os próximos cinco”, diz. “O futuro é agora. Vamos bater ainda mais forte em questões como sustentabilidade e ESG. O tempo está passando diferente: cinco anos hoje equivalem a trinta.”
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