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Saiba por que influenciadoras abandonam carreira digital e retornam à CLT, segundo especialista

29/10/2025 07:31 O Globo - Rio/Política RJ

O universo digital sempre foi visto como uma rota promissora para jovens em busca de liberdade, autonomia e oportunidades de trabalhar criando conteúdo. No entanto, relatos recentes indicam que muitos influenciadores têm optado por deixar a carreira exclusiva nas redes para retornar ao mercado formal com carteira assinada (CLT).
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Gabrielle Gimenes, influenciadora paulista de 28 anos, contou à "Marie Claire" que, após cerca de um ano dedicada exclusivamente à internet, decidiu voltar ao emprego formal, mantendo a produção de conteúdo como renda complementar. "Tinha mês que não ganhava praticamente nada", relatou.
Segundo levantamento da Influency.me, entre março de 2024 e março de 2025, o número de influenciadores digitais no Brasil saltou de 1,2 milhão para 2 milhões. Mas, afinal, por que profissionais como Gabrielle optam por deixar o digital e retornar à CLT?
Rosa Bernhoeft, especialista em gestão de pessoas e CEO da Alba Consultoria, explica que o fascínio pela vida digital é compreensível e profundamente humano. "Trabalhar de casa, definir os próprios horários e ser o próprio chefe é um sonho para muitos profissionais, especialmente jovens que cresceram questionando os modelos tradicionais de trabalho", afirma.
No entanto, Rosa alerta que as redes sociais também geram uma ilusão de facilidade. "O público enxerga viagens, produtos de luxo e um estilo de vida invejável, mas não vê as horas de trabalho, a pressão constante por relevância e a instabilidade financeira que afeta a maioria dos criadores", acrescenta.
Além da flexibilidade, há um forte componente de realização pessoal. "Muitos encontram na criação de conteúdo uma forma de expressão autêntica e construção de comunidade que o trabalho tradicional nem sempre oferece. Monetizar uma paixão, seja moda, gastronomia ou fitness, é extremamente sedutor", observa.
Ainda assim, o mercado formal também tem suas vantagens, apesar de limitações como salários defasados e ambientes corporativos desafiadores. Gabrielle afirma que, além da questão financeira, sentia falta do convívio diário com colegas e da rotina estruturada de um trabalho com carteira assinada. Benefícios como férias remuneradas, 13º salário, seguro de vida e plano de saúde também influenciaram sua decisão.
Para Rosa, não existe resposta única sobre qual caminho seguir. A vida digital oferece flexibilidade e autonomia, mas também traz incertezas: instabilidade financeira, ausência de direitos trabalhistas e desgaste mental. "Em momentos de crise, o influenciador está sozinho", ressalta.
A especialista destaca que apenas 32,5% dos criadores conseguem viver exclusivamente da produção de conteúdo, uma queda em relação a 37,8% em 2023. O retorno à CLT, portanto, reflete a realidade da profissão. "A instabilidade financeira é o fator número um. Muitos relatam meses sem quase nenhum rendimento, seguidos de períodos mais lucrativos, mas sem previsibilidade. Isso dificulta o planejamento de vida", observa.
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Gabrielle confirma: "Tinha meses em que não ganhava nada e outros em que fechava R$ 5 mil com parcerias. A insegurança e a instabilidade financeira foram decisivas para repensar minha carreira digital". Ela também aponta o desgaste emocional: "Estar sempre criativa, engajada e disponível gera uma exaustão que não é visível, mas é real".
Outro ponto crítico é a falta de benefícios corporativos. "Muitos influenciadores percebem que, ao ficarem doentes ou enfrentarem emergências, não têm plano de saúde, licença médica ou qualquer rede de proteção. Como disse uma criadora: 'Não sou herdeira'. Essa frase resume bem a necessidade de segurança que todos precisamos", diz Rosa.
O retorno à CLT também está ligado à perspectiva de longo prazo. "Enquanto profissionais formais constroem experiência reconhecida e trajetória sólida, muitos influenciadores se perguntam: o que farei daqui a 10 ou 20 anos? Como ficará minha aposentadoria?", questiona.
Segundo Rosa, essa tendência demonstra amadurecimento do mercado: "A CLT, antes vista como retrocesso, hoje é percebida como escolha inteligente. É possível unir a estabilidade do emprego formal à liberdade criativa das redes sociais."

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