“Quis acabar comigo”: mulher denuncia ex por espancamento, estupro e cárcere
“Ele quis acabar comigo porque sabe o quanto eu sou vaidosa.” A frase dita por Beatriz Lima, 31 anos, sintetiza o terror que viveu nas mãos do ex-namorado, estudante de medicina acusado de estupro, lesão corporal e cárcere privado. O caso foi registrado na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e está sob investigação da Polícia Civil. Segundo o boletim de ocorrência, o crime aconteceu entre a noite de segunda-feira (27) e a tarde de terça-feira, em uma casa no bairro Vilas Boas, em Campo Grande. Beatriz contou que encontrou o ex por volta das 18h e aceitou acompanhá-lo até o imóvel. O que parecia um reencontro pacífico se transformou em uma madrugada de violência. Durante a noite, o homem iniciou uma discussão por ciúmes e passou a agredi-la com socos no rosto, cabeça e abdômen. “Ele me bateu até eu cair. Depois usou um cinto para me enforcar, querendo que eu confessasse uma traição que nunca existiu”, relatou. Após as agressões, Beatriz diz que foi forçada a manter relação sexual contra a própria vontade e foi mantida em cárcere até a tarde do dia seguinte. Para conseguir escapar, ela fingiu ter se rendido ao agressor. “Eu disse que o amava, que tinha aprendido a lição e que precisava ir até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para parar o sangramento”, contou. Assim que foi deixada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Tiradentes, Beatriz pediu ajuda. Ela foi encaminhada à Santa Casa de Campo Grande, onde exames confirmaram uma fratura na cavidade óssea do crânio, mas sem necessidade de cirurgia. A Polícia Militar foi acionada e registrou a ocorrência. Beatriz já havia sofrido agressões do mesmo homem no fim do ano passado. “No dia 26 de dezembro, ele fez algo parecido, mas foi menos grave. Conseguiu inverter a situação e eu, com medo, continuei com ele.” Ciclo de violência e perseguição - O relacionamento começou em 2024, quando Beatriz trabalhava na empresa do pai do agressor. “No início, ele parecia gentil e atencioso. Como muitas mulheres, acreditei que tinha encontrado alguém em quem podia confiar”. Mas a máscara caiu. “Vieram as explosões, o controle, os ciúmes e as ameaças. Eu tentei acreditar que ele mudaria, mas a violência só cresceu.” Beatriz conta que chegou a pedir medida protetiva, mas a perseguição se intensificou. “Ele me vigiava, invadia minhas redes, me ligava de madrugada para me xingar, me seguia na rua. Eu mudei de endereço, bloqueei contatos, evitei sair de casa. Nada adiantava”. Nesta semana, o medo se materializou no pior episódio. “Fui espancada, enforcada com um cinto e tive o rosto fraturado. Ele me obrigou a gravar vídeos dizendo mentiras e me violentou enquanto eu estava ensanguentada. Foi desumano.” Além da dor física, o trauma psicológico ainda pesa. “O mais revoltante é que, mesmo com boletim, laudos e medida protetiva, ele ainda está solto. Eu tento me recuperar, escondida, com ajuda de amigos, enquanto ele continua livre”. Beatriz afirma que o ex tem acesso fácil a armas de fogo e teme por sua segurança. “Eu não tenho privilégios nem recursos como ele e a família têm. Tenho só a verdade e a coragem de falar, por mim e por tantas outras mulheres que ainda sofrem caladas”. Beatriz reforça que sua luta é por justiça, por isso decidiu falar abertamente, sem se esconder. “Eu não sinto ódio; só quero que a lei seja cumprida. Nenhuma mulher deveria ser espancada, abusada e ainda precisar implorar para ser protegida.” Enquanto aguarda uma resposta da Justiça, Beatriz tenta se reconstruir. “Conto minha história porque sei o quanto é difícil quebrar o silêncio. Quero que nenhuma outra mulher viva o que eu vivi. Tenho certeza de que isso não ficará impune”. Números – Mato Grosso do Sul já registrou 32 casos de feminicídio somente em 2025, segundo dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Os números seguem em crescimento. No Estado, já são 16.573 registros de violência doméstica. A orientação das autoridades é para que qualquer tipo de violência seja denunciada. Em Campo Grande, a Deam funciona na Casa da Mulher Brasileira, localizada na Rua Brasília, nº 85, Jardim Imá. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Fonte original: abrir