Bioceânica desloca eixo econômico de SP para Centro Oeste, dizem especialistas
A consolidação da Rota Bioceânica – corredor rodoviário internacional – deve redefinir o mapa logístico e produtivo do Brasil, deslocando o eixo do Sudeste para o Centro-Oeste. A análise é do economista Rodrigo Portugal da Costa, pesquisador associado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) na área de desenvolvimento regional e servidor do Ministério do Planejamento e Orçamento, em entrevista ao Campo Grande News. O corredor bioceânico ligará o Brasil, a partir de Porto Murtinho (MS), aos oceanos Atlântico e Pacífico, passando por Paraguai, Argentina e Chile. O projeto deve transformar o Centro-Oeste em polo de desenvolvimento intrarregional e conectar diretamente o Brasil aos mercados do Pacífico, especialmente da China. Essa nova configuração coincide com a inauguração do Porto de Chancay, no Peru — uma das principais iniciativas chinesas dentro da Nova Rota da Seda, projetado para ser um centro logístico regional e estratégico para reduzir o tempo de transporte marítimo entre Ásia e América do Sul. Porto Murtinho no centro da integração O território sul-mato-grossense é o epicentro dessas mudanças. “A ponte de Porto Murtinho é, sem dúvida, uma das grandes obras recentes de integração da América do Sul, melhorando a logística na fronteira e possibilitando o escoamento da produção de Mato Grosso do Sul”, afirma Portugal da Costa, que participa nesta sexta-feira (31) do 15º Encontro dos Economistas do Centro-Oeste (XV Eneoste 2025), realizado pelo Conselho Regional de Economia (Corecon-MS) e Conselho Federal de Economia (Cofecon), em Campo Grande. O pesquisador também destaca o avanço da rota rodoviária no Chaco paraguaio, parte do corredor bioceânico em fase de construção. “Do lado internacional, as obras da PY-15 no Chaco paraguaio também estão em pleno progresso”, acrescenta. Outras obras financiadas pelo Fundo de Convergência do Mercosul (FOCEM), em Ponta Porã e Amambaí, devem facilitar o fluxo fronteiriço, ainda que não integrem diretamente o corredor principal. Nesse contexto, o pesquisador avalia que a ponte de Porto Murtinho é “vital para o fortalecimento do comércio internacional do Centro-Oeste, tanto com a Ásia quanto com os países do bloco sul-americano”. Mato Grosso do Sul, segundo ele, “tem tudo para melhorar seus níveis de desenvolvimento”, impulsionado pela “densa rede rodoviária e pelo crescimento econômico produtivo, especialmente nas regiões agropecuárias e na posição central do Estado no continente”. No entanto, Portugal da Costa pondera que a soja in natura enfrenta dificuldades logísticas para atravessar a Cordilheira dos Andes. “A oportunidade está em produtos de maior valor agregado, como o óleo e o farelo de soja”, completa. Deslocamento da fronteira produtiva O economista reforça que a fronteira produtiva do Brasil vem se deslocando para o Centro-Oeste, conforme apontou estudo do IPEA publicado há cinco anos por Pedro Barros, Luciano Severo (ex-secretário do Ministério do Planejamento) e Raphael Padula (atual diretor do MCTI) entre outros. “Há urgência no aperfeiçoamento da infraestrutura logística e na coordenação de políticas públicas no território”, alerta. O estudo (2020) mapeou oportunidades de negócios com países vizinhos, possibilidades de expansão comercial e a criação de complementariedade produtiva regional. “O estudo também aponta oportunidades de adensamento das cadeias produtivas da celulose, da soja e da carne, nas quais o Brasil é um dos líderes mundiais. Mas os ganhos do corredor não serão apenas pela maior ligação com o mercado asiático, e sim pela integração intrarregional, com impacto direto em áreas historicamente periféricas, como o próprio Centro-Oeste e o Chaco paraguaio.” Investimento chinês em novas rotas Portugal da Costa não vê risco de lobby empresarial do Sudeste contra a Rota Bioceânica. “A pauta de exportação do Sudeste é distinta da pauta de Mato Grosso do Sul com a América do Sul, concentrada em produtos industriais. Além disso, é incontestável o nível de saturação do Porto de Santos. Por isso, vejo os investimentos no Centro-Oeste como complementares aos interesses do Sudeste”, afirma. Sem detalhar valores de investimento, ele aponta o “enorme interesse” da China na finalização do corredor, como parte da estratégia de acesso ao Porto de Chancay, no Peru — o hub logístico que conecta o Pacífico ao Atlântico. “Com a inauguração do Porto de Chancay, a China investe em um grande hub de transbordo de mercadorias para a América do Sul. Os portos do Pacífico, como outros no Peru e no Chile, serão pressionados por maiores volumes de comércio e, nesse caso, o corredor bioceânico será um importante meio de escoamento da produção e de circulação de pessoas e serviços entre os quatro países sul-americanos e a Ásia”, resume. Transformações econômicas do Centro-Oeste Outro participante do evento, o pesquisador Murilo José de Souza Pires, também do IPEA, analisa o papel da Rota Bioceânica na nova economia do Cerrado que
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