
Quatro dias após renúncia, Macron nomeia, mais uma vez, Sébastien Lecornu como primeiro-ministro da França
Menos de uma semana após renunciar ao cargo, Sébastien Lecornu foi — mais uma vez — anunciado como o novo primeiro-ministro da França nesta sexta-feira, em uma nova tentativa do presidente Emmanuel Macron para tentar recolocar seu governo nos trilhos e afastar, ao menos temporariamente, a pressão da oposição por novas eleições parlamentares e até por sua saída antecipada do cargo.
"O presidente da República nomeou Sébastien Lecornu como primeiro-ministro, e o encarregou de formar um governo", diz a mensagem do Palácio do Eliseu, reiterando que Macron lhe deu "carta branca", mas sem dar detalhes sobre as longas conversas entre os governistas.
A resposta do mais uma vez indicado não tardou mais que alguns instantes.
"Aceito — por dever — a missão que me foi confiada pelo presidente da República de fazer todo o possível para dotar a França de um orçamento para o final do ano e resolver os problemas cotidianos de nossos compatriotas", escreveu Lecornu no X. "Precisamos pôr fim a esta crise política que está exasperando o povo francês e a esta instabilidade que prejudica a imagem e os interesses da França."
Ele também delimitou algumas prioridades a curto prazo, especialmente "a restauração das nossas finanças públicas", confirmando que não abandonará a agenda fiscal de Macron. A política de cortes de gastos públicos e as dificuldades em torno do Orçamento derrubaram dois primeiros-ministros desde o final do ano passado — Michel Barnier e François Bayrou — e Lecornu, que tinha como principal tarefa aprovar a pauta orçamentária de 2026, renunciou na segunda-feira, após menos de um mês à frente do cargo.
Ex-ministro da Defesa e um jovem aliado (39 anos) do presidente, conhecido por ser discreto e leal, Lecornu foi uma aposta de Macron para apaziguar os ânimos na Assembleia Nacional, onde o governo ficou em minoria após as eleições legislativas do ano passado, convocadas às pressas por Macrone consideradas um dos maiores erros do presidente desde sua chegada ao poder. Contudo, a escolha do Gabinete, com praticamente os mesmos nomes que já ocupavam pastas nos governos anteriores, desagradou as duas principais forças de oposição na Assembleia Nacional, a França Insubmissa (LFI), de esquerda, e o Reagrupamento Nacional(RN), de extrema direita.
Na segunda-feira, Lecornu se viu sem condições de permanecer no cargo e renunciou.
— As condições não estavam reunidas para que eu exercesse minha função como primeiro-ministro — disse Lecornu, denunciando "apetites partidários" de facções que, segundo ele, forçaram sua renúncia.
Não está claro como Lecornu poderá mudar seu destino na nova tentativa de formar um Gabinete e, especialmente, aprovar um Orçamento que enfrente problemas como a elevada dívida pública do país (115,6% do PIB) — a terceira relação dívida/PIB mais alta da União Europeia, atrás apenas da Grécia e da Itália, e próxima ao dobro do limite de 60% permitido pelas regras do bloco europeu.
Pelas primeiras reações, não há qualquer sinal de trégua vinda dos campos de oposição.
No X, Manuel Bompard, coordenador da LFI, disse que o governo Macron mostrou novamente "o dedo do meio" aos franceses, Jean-Luc Mélenchon, líder da sigla, ironizou dizendo que "cada volta do carrossel, o pompom permanece no mesmo lugar", e o deputado Éric Coquerel afirmou que uma moção de censura será apresentada na segunda-feira — o Partido Socialista também afirmou que não fechou qualquer tipo de acordo para salvar Lecornu no plenáriuo.
O clima é o mesmo na extrema direita. Jordan Bardella, líder do RN, disse que seu partido censurará "imediatamente" o novo/velho premier.
"O governo Lecornu II, nomeado por Emmanuel Macron, que está mais isolado e desconectado do que nunca no Palácio do Eliseu, é uma piada de mau gosto, uma vergonha democrática e uma humilhação para o povo francês", acrescentou na rede social X.
Marine Le Pen, presidente do RN e considerada inelegível pela Justiça, foi além ao externar um sentimento cada vez mais presente entre os parlamentares de todos os cantos do espectro político.
"As manobras continuam; a censura, portanto, é essencial, e a dissolução é mais inevitável do que nunca", escreveu no X.
Em atualização
Fonte original: abrir