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Pets no lugar de filhos: decisão se torna cada vez mais comum

09/11/2025 17:36 O Globo - Rio/Política RJ

Perfis no Instagram dedicados exclusivamente a eles. Creches onde passam o dia, como se fossem crianças na escola infantil, e hotéis que os recebem quando os tutores viajam. Terapia e adestramento para problemas de comportamento. Roupas para cada tipo de clima, sapatos para passear e fantasias — muitas fantasias. Camas e móveis personalizados; às vezes, quartos inteiros. Festas de aniversário com bolos de carne magra, cortes de pelo da moda e sessões de fotos profissionais.
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São apenas alguns exemplos que mostram como os animais de estimação ocupam um papel cada vez mais central na vida humana — e como a relação entre eles se tornou menos “dono e pet” e mais “pai e filho”. De fato, muitos jovens hoje escolhem ter cães ou gatos em vez de filhos.
— Outro dia eu estava na rua e vi um casal com um carrinho e pensei: que bonitinho, devem ter um bebê. Quando paramos no semáforo, aproveitei para espiar — e levei um susto. Não havia bebê nenhum, era um cachorrinho — conta Magdalena Vionnet, 80 anos, de Palermo, Buenos Aires, entre a incredulidade e a angústia. —Na rua se veem mais carrinhos para cães do que para bebês. Juro, é ridículo — acrescenta a psicóloga Mariana Kerestezachi, 45.
Embora existam países e cidades onde a tendência de ter animais em vez de filhos — e tratá-los como tais — seja mais evidente (como Tóquio, Milão, Los Angeles e Miami), trata-se de um fenômeno global com milhares de adeptos, especialmente entre as novas gerações. As razões vão desde a rejeição a compromissos duradouros até o amor pela liberdade individual, passando pelo estresse econômico e a consciência ambiental.
— As famílias multiespécies estão se tornando cada vez mais comuns — observa Yulieth Cuadrado, terapeuta especializada em neuropsicologia. Segundo uma pesquisa da Growth from Knowledge (GfK), junto com México e Brasil, a Argentina está entre os países com maior número de animais por família.
Mais liberdade e menos compromisso — sem abrir mão do afeto
— Há não muito tempo, a realização pessoal passava por ter uma grande família com muitos filhos. Hoje, as ideias de felicidade e bem-estar estão muito mais ligadas à realização individual, ajustada às necessidades de cada um — analisa Cuadrado.
Nesse contexto, adotar um cachorro, gato ou outro animal doméstico surge como uma forma de preservar a individualidade sem renunciar à satisfação de cuidar, criar e amar outro ser.
— Os animais não exigem tanta atenção quanto os humanos. O cuidado é mais simples e permite uma vida muito mais flexível — reflete Nicolás Andersson, 31 anos, psicólogo. Ele e a namorada, de 34, têm certeza de que não querem ter filhos — não desejam ver suas vidas pessoais em segundo plano. São tutores de dois buldogues franceses, Odín e Floki, “como filhos, mas com menos responsabilidade”.
— O amor é o mesmo, só que não precisamos trocar fraldas, acordar às sete para levá-los à escola ou abrir mão dos fins de semana, como nossos amigos com filhos — diz. — O mandamento de ter filhos já não é tão forte quanto antes — hoje temos mais poder de escolha.
Na mesma linha, Lucía Bandol, 36, afirma que nunca se viu como mãe, seja pelo parto, seja pelas renúncias envolvidas:
— Sempre soube que não queria ter filhos, e sempre me disseram que isso ia mudar — que eu não me sentiria completa como mulher. Mas os anos passaram e tenho cada vez mais certeza: não quero. Não estou disposta a colocar meu corpo em uma gestação, nem a abrir mão do trabalho para me dedicar à maternidade.
Lucía, que tem dois gatos — Magnum e Silvestre —, acredita que não é preciso querer ser mãe para desejar amor.
— Temos uma necessidade quase instintiva de dar e receber afeto, além do que existe no casal ou em nós mesmos — reflete.
— Cuidar e proteger são habilidades instintivas do ser humano — explica Cuadrado. — Dar e receber amor é uma necessidade que traz múltiplos benefícios ao bem-estar. Ela observa que muitos pacientes relatam um efeito recorrente ao conviver com animais: a calma. —Quando olhamos para nossos pets, falamos com eles ou os acariciamos, o cérebro libera oxitocina — neurotransmissor essencial na construção de vínculos, na redução do cortisol e na regulação emocional.
Segundo o National Institutes of Health (NIH), os animais de estimação podem reduzir o estresse, melhorar a saúde do coração, fortalecer habilidades sociais e emocionais e estimular a responsabilidade.
— Eu poderia viver sem animais, mas eles me fazem feliz. São empáticos, ajudam a manter os pés no chão. Acredito nos sentimentos deles e no vínculo que criam conosco — e esse amor, para mim, é mais do que suficiente — conclui Bandol.
O fator econômico em um mundo incerto
A questão financeira também pesa na escolha de muitos jovens.
— Ter filhos é caro, e ganhar dinheiro é difícil — diz Ignacio Martínez Larrea, 20 anos. Dos seis amigos dele, cinco pen

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