Megaoperação no Rio: Rede de atendimento assiste famílias no IML e destaca dificuldades
Pelo terceiro dia, famílias das dezenas de mortos na megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na última terça-feira, aguardam por informações e tentam reconhecer e liberar os corpos, todos levados para o Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio. No meio da tarde desta sexta-feira, integrantes da Rede de proteção de Atenção a pessoas Afetadas pela Violência do Estado (RAAVE) se organizaram para levar café e suco para quem aguardava para fazer o reconhecimento e a liberação dos corpos.
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Dejany Ferreira dos Santos, coordenadora técnica, ao lado de Guilherme Pimentel, conta que a pressão das famílias, em especial das mães que perderem seus filhos na ação policial e das que integram a rede, para mudanças no atendimento. Uma das principais queixas era de como os corpos eram apresentados às famílias durante o reconhecimento e por alguns estarem fora das geladeiras, dado o alto número, uma vez que os óbitos passaram de 120.
— Estamos aqui todos esses dias para prestar auxílio às famílias, incluindo atendimentos psico-sociais. Se não tiver pressão dos militantes dos Direitos Humanos, de grupos sociais, da Defensoria Pública, seria pior do que aconteceu. E vamos continuar até o processo terminar. O objetivo, nesse momento, é prestar esse acolhimento, as primeiras orientações, e garantir o sepultamento digno para todo mundo — destacou a coordenadora.
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Entre os serviços, está o de translado dos corpos, de mortos que são oriundos de outros estados ou municípios fluminenses. Uma das famílias que estavam no IML na tarde desta sexta-feira tentava resolver a ida do corpo de um parente para Cabo Frio, na Região dos Lagos.
— O nosso trabalho aqui é mitigar algo que já foi dado, já foi feito. É uma tentativa de reparação de toda essa violência. O trabalho em rede com as instituições chegaram aqui juntar para auxiliar essas famílias diante desse horror, que foi o que a gente teve aqui. Teve gente que teve a cabeça decapitada, e a mãe reconhecer o corpo sem cabeça. Outros casos com a pele esverdeada, por não estar na geladeira. Não conseguimos dizer, hoje, se há espaço para todos os corpos, e é algo que precisa ser revisto, tendo em vista que o que aconteceu aqui não foi nenhum acidente da natureza, não foi nenhum acidente que passou, foi o próprio Estado o gerador disso, dessa brutalidade, dessa violência. E as famílias são revitimizadas quando chegam num espaço assim. Tem algo desse horror que precisa ser dito — destaca Dejany.
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De acordo com a RAAVE, o número de mortos tende a subir, uma vez que moradores relatam terem vistos novos corpos em área de mata no Complexo da Penha, região que na última quarta-feira foi marcada pelo recolhimento de dezenas de mortos na área conhecida como Vacaria, trecho mais isolado. Hoje, o Governo do Estado contabiliza 121, dos quais quatro policiais e, mesmo ainda sem o reconhecimento dos 117 restantes, diz serem de criminosos. Para Dijany, o dado total já ultrapassou 130.
— Tem uma questão da gratuidade que não tem direito a velório, e isso é uma violação, uma violência diante de algo que é da nossa cultura. Nós necessitamos fazer o velório, passar aquele momento ali com aquele ente, aquele familiar. Vivenciamos algo muito difícil que foi a pandemia (de Covid-19), em que houve uma impossibilidade de velar para depois enterrar — aponta a coordenadora da RAAVE.
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A equipe da RAAVE destaca que não teve acesso permitido ao prédio do IML para prestar apoio e acolhimento às famílias. Também nesta sexta-feira, primeiro as famílias passam por uma triagem no Detran, prédio ao lado do IML, e só depois, até dois parentes podem entrar no IML para fazer o reconhecimento do corpo. Os demais esperam por notícias na calçada, separados pelo muro baixo gradeado.
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— Eles não fazem esse trabalho, e quando chega uma rede que tem muitas mães, que estão acolhendo, dando esse abraço, verificando, trocando, falam que não dá, que não pode, que é preciso sair. Estão impedindo de dar o mínimo de dignidade nesse momento de tamanha dor. Não pode negar o luto, que é a perda do ente querido. Que nesse momento não interessa quem seja, a família está enlutada — conta Dejany. — Tem ainda a violência de como ocorre essa perda. Muitas mães falaram: "se chegou perto o suficiente para cortar na faca, por que não prendeu?"
Instantes depois, uma integrante da RAAVE foi ao pátio do IML pedir por apoio médico. Uma mulher, par
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