Maracanã: Proposta de venda seria balão de ensaio em busca de capital eleitoral, mas a discussão está inaugurada
A venda do Maracanã — e de todo o seu complexo —, incluída na lista de imóveis que a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) autorizaria o governo a negociar com entes privados, não passa de um balão de ensaio envolvendo atores na disputa por cargos nas próximas eleições. É o que dizem as fontes ouvidas pelo Globo. O governador, Cláudio Castro (PL), inclusive já bateu o martelo e disse que não pretende se desfazer do estádio, hoje administrado pelo consórcio de Flamengo e Fluminense. De qualquer forma, o assunto suscita o debate, e uma futura negociação da principal casa do futebol brasileiro é, de fato, vista com interesse por rubro-negros, tricolores e pelo mercado.
Há 75 anos, o Maracanã tem sido um grande ativo político nas mãos do governo estadual. Os envolvidos nas últimas concessões do estádio são unânimes em apontar o excesso de regalias nos contratos, que dificultariam sua viabilidade financeira. Hoje, por exemplo, o estado tem direito a sete camarotes, estacionamento, ingressos e duas mil cadeiras cativas por jogo, além de seis datas anuais.
Há quem perceba a inclusão do Maracanã na lista também como barganha política, sobretudo com a justificativa de que todo o complexo é subutilizado e deficitário — a outorga anual paga pelo consórcio é de R$20 milhões, e cada camarote é negociado por mais de R$ 1 milhão. Deputados sonham com benefícios como ingressos e cadeiras cativas.
Mas a costura de uma futura venda do complexo depende de inúmeros fatores. Por ser um patrimônio tombado pelo Iphan e destinado ao uso esportivo e recreativo, um debate com a sociedade seria necessário para mudar o escopo do equipamento, inclusive na lei.
O Flamengo é um personagem fundamental nessa movimentação. Dada a sua capacidade de gerar receita, fontes com experiência no mercado do futebol afirmam que o Maracanã depende dele e não enxergam qualquer negociação sem o envolvimento do clube, seja como comprador definitivo ou em parceria com investidores.
Gasômetro perde força
A construção de um estádio próprio do Flamengo no terreno do Gasômetro poderia transformar o Maracanã num elefante branco, caso o clube rompesse o contrato de concessão ou limitasse o uso do equipamento a poucos jogos. Porém, tal desejo faz parte da gestão passada do Flamengo. Na administração atual, de Luiz Eduardo Baptista, o Bap, o sonho do estádio próprio perdeu força. O mandatário, inclusive, não descartou o interesse numa futura compra do Maracanã ao ser interpelado pelo deputado Alexandre Knoploch (PL), relator do projeto. Bap lembrou que há um concessão em curso por mais 19 anos, e que qualquer interessado teria que conversar com o consórcio.
A notícia pegou o Fluminense de surpresa. Fontes do clube, no entanto, afirmaram que a relação com o Flamengo está bem alinhada, e o tricolor se vê dentro do jogo a depender da viabilidade dos valores. Acredita que o Maracanã está bem valorizado, mas o lucro só é viável com a presença dos clubes. O Flu também não se preocupa com uma virtual exigência do fim da concessão, pois o contrato prevê indenização aos concessionários.
Em discussão para se tornar SAF, o tricolor até poderia contar com o interesse de seu investidor, o grupo BTG, que comprou a dívida da WTorre em 2024 e tentou assumir o Allianz Parque, do Palmeiras.
Segundo levantamento da Alerj, o valor do Maracanã estaria em torno de R$2 bilhões. Prevê-se dificuldade para uma empresa privada assumir o controle do estádio pelas idiossincrasias do futebol brasileiro e por questões legais. O estádio, por exemplo, não pode mudar de nome devido ao tombamento federal, o que complicaria a venda de naming rigths.
Além disso, o regulamento da CBF determina que os clubes indiquem um estádio para seus jogos, que fica cedido à confederação para uso comercial de placas de publicidade. A Conmebol também exige a cessão para envelopamento com suas marcas. Tudo isso tem que estar previsto na matriz de risco e pode tornar o negócio inviável financeiramente. Apesar de ser a dona, a empresa não poderia utilizar o equipamento na sua plenitude.
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