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Luiz Fernando Guimarães fala de filhos e de envelhecer: 'Tem dia que acordo com 50 anos, aí depois do almoço fico com 100'

19/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Conhecido pelo jeito bem-humorado, elétrico, por vezes nervoso, mas sempre agitado, Luiz Fernando Guimarães recebeu um desafio inédito em sua carreira: interpretar um morto. O ator é protagonista da comédia “Quem é morto sempre aparece”, de Rodrigo Van Der Put e Ju Amaral. Produção do Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo, o longa estreou sexta-feira com exclusividade no Telecine.
Na trama, Luiz Fernando interpreta um milionário que é encontrado morto pelo porteiro de seu prédio (Augusto Madeira) e um trambiqueiro (Marcus Majella). Endividada, a dupla vê a chance de tentar enriquecer às custas do falecido e decide carregá-lo por todos os lados aplicando pequenos golpes. O filme marca a volta do ator ao cinema após 12 anos. O lançamento coincide com um momento especial na vida de Luiz Fernando, que possui outros projetos na TV e no teatro. O ator apresentou ao lado de Susana Vieira o especial “Falas da vida”, exibido quinta na TV Globo e já disponível no Globoplay, em que apresentou uma perspectiva bem-humorada sobre o envelhececimento. Em novembro, ele entra em cartaz nos palcos cariocas na peça “Curto-circuito”, com direção de Gustavo Barchilon e texto de Gustavo Pinheiro, colunista do GLOBO.
Luiz Fernando Guimarães em entrevista ao GLOBO em seu apartamento, no Rio, em outubro de 2025
Leo Martins / Agencia O Globo
Luiz Fernando recebeu O GLOBO em seu apartamento no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, para uma conversa sobre os novos projetos, envelhecimento, carreira e família. Perto de completar 76 anos, ele fala ainda sobre como a paternidade mudou sua vida com a chegada dos filhos Dante e Olívia, de 14 e 12 anos, adotados em 2020 pela ator e pelo marido, Adriano Medeiros, com quem vive há mais de 20 anos. A seguir, os pontos principais da conversa.
Morto-vivo
“Foi um dos personagens mais difíceis da minha vida. Eu jamais faria um morto desmaiado, porque sou muito ativo. Eu tive que permanecer imóvel, senti como se eu tivesse sido embalsamado. Foram cenas intermináveis. Me levavam para todos os lados, me colocavam de patins. Foi um trabalho em que ultrapassei meus limites de forma maravilhosa. De todos os meus personagens, fazer um morto foi o mais difícil. Eu sou muito agitado.”
“Quem é morto sempre aparece”, de Rodrigo Van Der Put e Ju Amaral
Divulgação / Helena Barreto
Envelhecimento
“Temos essas nomenclaturas que a sociedade coloca. É o idoso, o velho, o da melhor idade… e ninguém sabe exatamente qual é o melhor. O ‘Falas da vida’ tem um humor incrível e uma super sinceridade em falar sobre o tema do envelhecimento, do etarismo. Foi incrivel reencontrar a Susana (Vieira) depois de tanto tempo. Tínhamos trabalhado juntos em “Minha nada mole vida” (2006). Falamos sobre as vantagens e desvantagens de envelhecer. Tem coisas muito divertidas quando você tem uma certa idade. Os cabelos se descontrolam. No nariz, na orelha, na sobrancelha, não existe mais direção. Você para de pagar passagem de ônibus, mas por outro lado as dores musculares... A quantidade de médicos que você passa a frequentar. São muitas as contradições que cercam a vida da gente. Eu tenho 75 anos, mas não me sinto com 75. Meu filho brinca que estou velho. Estou, mas me sinto bem, tem dias que acordo com 50 anos, aí depois do almoço eu fico com 100. Gosto de ter a idade que eu tenho, não voltaria no passado.”
Fonte de juventude
Da esq. para a dir.: Adriano Medeiros, Olivia, Luiz Fernando Guimarães e Dante
Acervo pessoal
“As crianças me reconectaram com meu eu mais alegre e divertido. Elas exigem de você um companheirismo, jovialidade. Os filhos fazem você olhar para a própria infância. Quando meu filho fala que não quer ir pra escola, eu falo que também não queria. Ninguém quer. Mas tem que ir. Os meus estão na fase de porta fechada, numa idade que não querem muita conversa. E eu entendo, também tenho meu momento de porta fechada, mas às vezes temos que insistir no diálogo. Nos damos muito bem, são muito poucos os conflitos. A minha coisa de pai é gostar de abraçar. O menino não gosta muito, mas a menina gosta. Outra coisa é que os filhos nos dão vontade de viver mais para ver eles crescidos. Eu nunca tive medo da morte, mas hoje a morte significa desaparecer da vida deles, então me cuido e quero estar mais presente.”
Fernandas
“Acompanhei incessantemente a trajetória da Nanda (Fernanda Torres) com ‘Ainda estou aqui’. Eu conversava com ela diariamente pelo telefone. Nós fomos juntos no Oscar em que ‘O que é isso, companheiro?’ concorreu (em 1998). Antes do Globo de Ouro, ela me disse: ‘Eu não vou ganhar, não tem como ganhar dessas louras lindas’. Eu disse, você vai ganhar. O filme é muito lindo que nos lembra aquele momento horroroso da ditadura militar. Passei por situação parecida, meu irmão foi preso e exilado, então fiquei muito impactado. É um filme que veio num momento oportuno para o Brasil. Não podemos esquecer, não dá para vacilar. Eu estava no sítio no dia da premiação, tentei assistir pelo celular, mas acabei dormindo

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