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Jovens e comerciantes iranianos desafiam proibição do Halloween

31/10/2025 20:10 O Globo - Rio/Política RJ

Apesar da proibição oficial, jovens iranianos e estabelecimentos comerciais em Teerã encontraram maneiras de celebrar o Halloween, que tem ganhado popularidade no país nos últimos anos. Um café promovia uma festa com luzes baixas, DJs e decorações de fantasmas e abóboras; outro planejava sessões de espiritismo. Noites de filmes de terror e tutoriais de maquiagem assustadora também estavam programadas. No entanto, os responsáveis pelos locais afirmaram que os eventos não tinham relação direta com o Halloween.
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A república islâmica impôs, no início desta semana, a proibição oficial de celebrar o festival, considerando-o uma tradição estrangeira e não muçulmana.
Um café popular no norte da capital cancelou seu evento “de acordo com uma diretiva de autoridades judiciais”, mas divulgou no Instagram que todas as sessões de espiritismo com um DJ popular estavam completamente reservadas.
Desafiando restrições
O Halloween tem atraído cada vez mais a atenção dos jovens iranianos. Com a economia do país em recessão, e o poder de compra reduzido pela inflação e pela desvalorização da moeda, pequenos negócios aproveitaram o festival como oportunidade de vendas.
Nesta semana, a câmara de guildas, órgão estatal que supervisiona empresas privadas de varejo e serviços, notificou os comerciantes de que qualquer cerimônia ou venda de acessórios de Halloween estava proibida para “preservar normas culturais, religiosas e sociais”. O descumprimento da diretiva poderia levar ao fechamento do estabelecimento pela polícia.
Apesar da proibição, redes sociais e contas comerciais exibiram conteúdos de Halloween, incluindo lentes de contato coloridas, extensões de cílios em forma de aranha, tutoriais de maquiagem e oficinas de biscoitos. Um guia turístico organizou um acampamento de Halloween em uma floresta misteriosa, com fogos de artifício, música ao vivo e jogos em grupo.
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Segundo informações do jornal Financial Times, muitos estabelecimentos adotaram estratégias discretas para atrair clientes.
— Ainda teremos um DJ, vamos reduzir a iluminação e colocar algumas decorações de Halloween. Mas nossa equipe não usará as fantasias especiais planejadas — diz o proprietário de um café no norte de Teerã.
Outro café no centro da cidade manteve o programa de música ao vivo, permitindo que clientes tirassem fotos com decorações mínimas.
Contexto social e cultural
Desde a guerra contra Israel, em junho, o governo iraniano relaxou restrições sociais: mulheres podem deixar de usar o hijab obrigatório, andar de motocicleta e donos de cães podem levar seus pets em público. No entanto, o governo mantém uma postura desfavorável a rituais ocidentais, vistos como símbolos de “invasão cultural”.
Muitos jovens optaram por festas privadas, e partes de Teerã exibiam atmosfera vibrante com música pulsante e clima festivo.
— Estou trabalhando na véspera de Halloween, mas acho que a maioria das pessoas que celebra não se importa com o significado da festa. Elas só precisam de uma desculpa para serem felizes — diz Mohammad, taxista.
Hamid, confeiteiro, relata que produziu 30 bolos de Halloween em um único dia.
— Qual é a graça do Halloween? Os jovens estão ansiosos para celebrar datas ocidentais — afirma o confeiteiro. — Para muitos, Halloween, Dia dos Namorados e Natal são até mais importantes que o Dia das Mães e o Dia dos Pais nacionais.
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Alguns especialistas apontam que a popularidade crescente de rituais ocidentais ocorre devido à desvalorização das tradições locais.
— Quando tradições locais são negligenciadas, elas acabam sendo substituídas por estrangeiras — explica Masoumeh, professora.
Fatemeh Mohajerani, porta-voz do governo, sugere que o país poderia valorizar seus festivais nacionais.
— Impor restrições é uma opção, mas a educação cultural é a solução melhor. Retornar aos nossos próprios festivais nacionais e religiosos pode ser muito mais eficaz — diz.
Para Fariba Nazari, socióloga, os jovens iranianos se sentem divididos entre a propaganda religiosa dominante e uma visão nacionalista do Irã antigo.
— De um lado, tem quem afirma que apenas normas religiosas são aceitáveis; do outro, quem idealiza o Irã pré-islâmico, que a maioria dos jovens conhece pouco. Muitos não se identificam com nenhum desses extremos — aponta.
Comércio e celebração
Apesar da proibição, lojas exibiam decoração laranja e preta e vendiam pilhas de abóboras, fantasias, máscaras e outros acessórios assustadores.
— Sempre há uma proibição. Mas quem se importa? Sou empresário e preciso continuar vendendo enquanto houver demanda — afirma Nasser, lojista.
Entenda: sinal d

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