
Guto Ferreira revela ‘segredos’ da reação do Remo: "Impulsionam o clube a ser ainda mais gigante"
"Tenho a preferência de ganhar, apenas isso". Foi com esta frase direta que o técnico do Remo, Guto Ferreira, iniciou sua conversa com a reportagem de O Liberal. Após uma sequência positiva de vitórias na última semana, o treinador falou pela primeira vez com o Núcleo de Esportes na última sexta-feira (17), véspera da partida crucial contra o Athletic-MG.
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No centro da entrevista estava a pergunta que mais ecoa nas arquibancadas: o que, de fato, levou o Leão Azul à boa fase? Para Guto, o trabalho da comissão técnica tem se concentrado mais na recuperação dos aspectos emocionais do elenco do que em grandes revoluções táticas.
"Sobre a mudança da equipe, penso que envolve uma série de fatores. O primeiro foi a mudança de atitude. Mostramos aos jogadores qual era o caminho e que eles tinham essa capacidade dentro deles, porque já haviam caminhado nessa direção no primeiro turno. Tinham se desviado um pouco, mas já tinham mostrado firmeza. Por isso, não foi tão difícil."
Conhecido pelo estilo pragmático e por ter vasta experiência no futebol nacional — com passagens por Internacional, Bahia, Ceará e Goiás —, o nome de Guto foi a primeira opção da cúpula azulina para conduzir o time na Série B após a demissão de António Oliveira. Acostumado à Segundona, ele comandou o Cuiabá até a 21ª rodada deste ano.
Apesar de nunca ter treinado uma equipe do Norte do país, Guto parece estar se apaixonando, aos poucos, pelos encantos da Amazônia. E a razão é clara:
"Como eu disse, essa cultura, esse amor, essa fé... eu imaginava que existissem, mas não com tanta energia. Acho que isso impulsiona o Remo a ser o que é — e pode impulsionar o clube a ser ainda mais gigante do que já é."
A força da fé e o entendimento do torcedor
Treinador do Remo se emociona a falar do Círio de Nazaré (Igor Mota/ O Liberal)
A boa fase do Remo nos gramados gera satisfação, mas, na avaliação do técnico, nada o impactou mais profundamente que o Círio de Nazaré. Guto conta que assistiu à Trasladação, a segunda procissão mais importante da Quadra Nazarena, da sede do clube e teve todas as expectativas superadas.
"Pelo que a gente tem visto, mesmo de fora, só temos coisas boas a dizer [do Círio]. Tenho comentado muito em outras entrevistas quando perguntam a mesma coisa: o sentimento, a energia. Mas é algo inexplicável. E não estou falando apenas do momento da procissão. Cheguei por volta de 16h45, entrei na avenida e ela já estava tomada. O simples fato de passar ali já dava arrepio", descreve.
Segundo Guto, a força e a fé presentes no Círio são essenciais para entender a essência do povo paraense e, consequentemente, do torcedor remista:
"A partir daí, comecei a entender o que vejo depois por parte dos torcedores, essa expectativa, essa paixão. E olhando para trás, percebo o que antes eu não compreendia, quando via os jogos do Remo ou de outros clubes de Belém: essa energia é cultural, é do paraense, é do belenense. E isso é fantástico."
Reta final na busca pelo acesso
Guto Ferreira, treinador do Remo, dá entrevista a O Liberal (Igor Mota/ O Liberal)
Guto sabe que pode contar com a energia diferenciada vinda da torcida para buscar o acesso à Primeira Divisão. No entanto, o que precisa ser feito dentro de campo? Segundo ele: equilibrar as emoções. Isso vale, diz o treinador, para os momentos bons e os ruins que o Leão Azul ainda pode viver na competição.
"Agora é controlar a empolgação e seguir firme, com essa força que cresce a cada jogo. Temos seis partidas pela frente e precisamos vencer quatro. Antes, era mais difícil: eram oito em dez. Hoje, são quatro em seis. Mas não podemos achar que ficou fácil. A dificuldade aumenta, porque, conforme você sobe, passa a ser vidraça. Ao mesmo tempo em que há mais respeito, também há mais estudo dos adversários, mais precaução. E cada vez menos podemos errar", reforça.
Guto chegou ao Remo no final de setembro e estreou no banco de reservas na 29ª rodada, diante do CRB-AL, em casa. Nas primeiras quatro partidas, o treinador acumulou quatro vitórias e fez com que o Leão pudesse sonhar com o acesso à Primeira Divisão, fato que não ocorre há 32 anos.
Por conta disso, Guto salienta a necessidade de um "elenco fechado", não só em relação ao número de atletas, mas focado em um único objetivo. Uma filosofia que, segundo ele, avança para os demais profissionais do clube.
"São muitas coisas estudadas, não só por mim, mas também pelo departamento e pela direção de futebol. Aqui, todos têm papel importante: o pessoal da recuperação, do controle de carga, a imprensa, o faxineiro, a cozinha, o copeiro, o massagista... todos. Cada um buscando fazer o seu melhor. Mas eu não me vejo como alguém que constrói algo sozinho. A gente é apenas uma peça dentro de uma engrenagem — talvez a que aparece mais, mas uma peça", explica, reconhecendo a importância coletiva.
O futuro no Baenão
Guto Ferreira fala que modificou aspectos emocionais da equipe (Igor Mota/ O Liberal)
Com contrato até o final
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