Ex-procuradora-geral do Exército de Israel é presa por vazamento de vídeo que expôs suposta tortura de detento palestino
A ex-procuradora-geral das Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês), major-general Yifat Tomer-Yerushalmi, foi presa no domingo, dias depois de renunciar ao cargo e admitir ter autorizado o vazamento de um vídeo que mostra supostos maus-tratos contra um detento palestino em uma base militar no sul do Estado judeu.
Acordo: Hamas entrega mais três corpos, e Israel inicia processo de identificação
Entrevista: ‘Netanyahu enfraquece Israel e compromete a integração regional’, afirma escritor israelense
O escândalo, que já havia provocado forte repercussão dentro e fora de Israel, se agravou após a ex-procuradora desaparecer por várias horas no domingo, levando a uma operação de busca policial em praias ao norte de Tel Aviv. Ela foi localizada viva na região de Herzliya e, em seguida, detida. Nesta segunda-feira, segundo o jornal israelense Haaretz, um tribunal prorrogou sua prisão preventiva por três dias, alegando risco de obstrução da Justiça e possível interferência nos processos.
Tomer-Yerushalmi é investigada por fraude, quebra de confiança, abuso de poder e divulgação de informações sigilosas. O ex-procurador-chefe militar, coronel Matan Solomesh, também foi detido sob as mesmas suspeitas. Ainda de acordo com o Haaretz, mensagens obtidas pela polícia mostram que Tomer-Yerushalmi instruiu uma policial a repassar o vídeo a um jornalista do Canal 12, descrevendo o material como uma “boa história”. O vídeo foi exibido em agosto de 2024 e o mostra o momento em que soldados israelenses cercam o detento com escudos antimotim e o agridem violentamente.
Initial plugin text
De acordo com a rede britânica BBC, cinco reservistas foram acusados de abuso agravado e de causar lesões corporais graves ao detido. Eles negaram as acusações. Adi Keidar, um dos advogados dos soldados israelenses, afirmou que seus clientes foram submetidos a "um processo legal falho, tendencioso e completamente manipulado".
Os soldados, segundo a acusação, "atuaram com grande violência contra o detento" e provocaram "lesões graves", incluindo costelas quebradas, um pulmão perfurado e uma fissura anal. O caso ocorreu na base de Sde Teiman, usada como centro de detenção para prisioneiros de Gaza após o início da guerra em outubro de 2023.
A divulgação das imagens reacendeu o debate sobre abusos cometidos contra palestinos detidos desde o início do conflito. Relatórios da ONU e de organizações de direitos humanos já haviam apontado o uso sistemático de tortura, violência sexual e maus-tratos em prisões israelenses, acusação rejeitada por Tel Aviv.
A decisão de Tomer-Yerushalmi de permitir o vazamento dividiu o país. Ainda segundo a BBC, políticos de direita classificaram o ato como “traição” e “difamação” das Forças Armadas, enquanto setores progressistas consideraram a divulgação um gesto de transparência que corrobora com "vários relatos de abuso contra detidos".
Após ataques: Exército de Israel diz que 26 de 104 mortos em bombardeios de terça eram combatentes, sendo 75% civis
O ministro da Defesa Israel Katz afirmou que ela “não era digna de vestir o uniforme do Exército”, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que o episódio representou “o ataque de relações públicas mais grave sofrido por Israel desde sua fundação”.
Enquanto isso, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, ordenou que Tomer-Yerushalmi fosse mantida em confinamento solitário e sob vigilância reforçada, citando preocupação com sua segurança após o desaparecimento.
(Com AFP)
Fonte original: abrir