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Está consumindo muita notícia ruim sem se aprofundar? O que é doomscrolling, a prática tóxica que danifica o cérebro

29/10/2025 12:59 O Globo - Rio/Política RJ

Chega um momento em que você percebe que passou vinte minutos lendo manchetes sobre guerras, crises, catástrofes ou escândalos, sem ter aprendido nada de novo. Essa vontade de continuar rolando a tela — mesmo quando seu corpo implora para você parar — tem um nome: doomscrolling.
O termo combina doom (destino) e scrolling (rolagem ) e descreve a tendência de consumir compulsivamente informações negativas ou alarmantes. Fazemos isso por curiosidade, ansiedade ou pela sensação de que precisamos nos manter informados, mas o que parece ser informação, na verdade, ativa circuitos cerebrais semelhantes aos de um vício.
Como o cérebro funciona com o hábito de rolar a tela sem parar
O cérebro humano possui uma tendência à negatividade: ele processa informações ameaçadoras com mais intensidade do que informações positivas. Em contextos digitais, onde abundam manchetes criadas para chamar a atenção, essa tendência é amplificada e desencadeia uma resposta automática de alerta. Estudos de neurociência (Harvard Medical School) explicam que, quando consumimos notícias negativas, a amígdala é ativada e libera cortisol, o hormônio do estresse, enquanto o córtex pré-frontal — responsável pelo controle racional — reduz sua atividade.
Ao mesmo tempo, um estudo conduzido pelo University Hospitals demonstrou que cada nova notícia ou postagem desencadeia uma pequena liberação de dopamina, a mesma substância envolvida nos mecanismos de recompensa. Em outras palavras, mesmo que a experiência seja desagradável, o cérebro a associa a algo novo e deseja mais. Com o tempo, esses circuitos são reforçados pela repetição: quanto mais você navega pelas notícias, mais automático se torna o gesto de abrir o celular e procurar conteúdo negativo (Freedom Research Lab).
Rolagem compulsiva de conteúdo negativo
Uma análise publicada na revista Personality and Individual Differences examinou mais de 800 adultos e descobriu que o hábito de rolar a tela constantemente em busca de notícias negativas está associado a maior ansiedade, depressão e menor bem-estar subjetivo. Outro estudo, da Universidade de Oklahoma, observou que pessoas com alta intolerância à incerteza são mais propensas a adotar esse padrão de consumo, enquanto a resiliência psicológica atua como um fator de proteção.
Por outro lado, um estudo de 2024 sobre os efeitos cognitivos do tempo excessivo em frente às telas descobriu que a exposição constante a estímulos fragmentados prejudica a atenção sustentada e a memória de trabalho , um fenômeno que alguns pesquisadores já estão associando ao conceito popular de deterioração cerebral.
Enquanto isso, um estudo publicado no Journal of Media Psychology alertou que pessoas que passam mais de uma hora por dia consumindo notícias negativas relatam um aumento de 30% nos sintomas de ansiedade em comparação com aquelas que verificam as notícias apenas uma vez por dia.
Como isso afeta a saúde mental
Além do que acontece no cérebro, o hábito de rolar a tela sem parar (doomscrolling) deixa uma marca clara em como pensamos, sentimos e nos conectamos com o ambiente ao nosso redor. Pessoas que o praticam frequentemente descrevem uma mistura de exaustão emocional, irritabilidade e uma sensação constante de estarem em alerta.
Esse estado de alerta crônico pode levar ao que os psicólogos chamam de fadiga informacional: uma sobrecarga mental que dificulta o processamento de novas informações ou a distinção entre o relevante e o trivial.
Diversos estudos indicam que essa exposição constante à negatividade alimenta o pensamento catastrófico e uma visão distorcida do mundo. Quando as notícias mais visíveis são tragédias, conflitos ou escândalos, o cérebro acaba assumindo que toda a realidade opera segundo essa lógica. Essa percepção aumenta a ansiedade e pode levar a um ciclo de desconfiança ou desesperança que, paradoxalmente, nos impulsiona a buscar ainda mais informações.
Também são observados efeitos comportamentais: dificuldade em desconectar, distúrbios do sono e uma redução acentuada no bem-estar subjetivo. Não se trata apenas de estresse; é um tipo mais profundo de exaustão emocional, em que a mente se sente sobrecarregada e o corpo inquieto.
Alguns estudos chegam a associar o hábito de rolar a tela constantemente em busca de notícias ruins a uma menor capacidade de aproveitar as experiências cotidianas, já que a atenção permanece fixada na próxima atualização ou no próximo alarme.
O que você pode fazer para quebrar o ciclo?
Defina horários específicos para se informar. Limitar o consumo de notícias a horários específicos do dia reduz a exposição constante.
Evite ler notícias negativas antes de dormir. A excitação emocional noturna interfere na qualidade do sono.
Selecione suas fontes. Seguir veículos de mídia confiáveis ​​e evitar sites sensacionalistas reduz o viés de negatividade.
Alterne com conteúdo positivo ou educativo. Equilibrar seu feed ajuda a recalibrar sua percepção do mundo.
Pratique fazer pausas sem telas. Ler em papel, caminhar ou

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