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Especialistas apontam caminhos para efetividade de recém-criado Escritório de Combate ao Crime após megaoperação no Rio

03/11/2025 07:30 O Globo - Rio/Política RJ

Na semana passada, ainda sob o impacto da megaoperação policial com 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o governador do Rio, Cláudio Castro, anunciaram a criação de um Escritório de Combate ao Crime Organizado. A intenção é agregar, nas esferas estadual e federal, ações de combate ao tráfico de drogas. Ouvidos pelo GLOBO, especialistas de diferentes matizes e que já atuaram na coordenação de políticas públicas para a segurança concordam, em sua maioria, que se trata de um avanço importante. Mas apontam caminhos para que os desdobramentos da medida se tornem conquistas reais, como a retomada de territórios hoje sob controle do Comando Vermelho (CV) e de outros grupos criminosos. Entre as propostas apresentadas estão ações que não se limitem às divisas do Rio, o foco da Polícia Federal no combate à entrada de fuzis no Brasil e o debate sobre alterações no Código Penal.
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Com o novo escritório, a ideia é unir dois serviços que já exercem funções semelhantes: o Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), do governo federal e que tem entre os objetivos desarticular facções criminosas que atuam dentro e fora dos presídios e combater o tráfico de drogas, armas e munições; e o Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), do governo fluminense.
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Ex-secretário de Segurança Pública do Rio (de 2007 a 2016), José Mariano Beltrame prevê que os desafios devem começar já no planejamento de operações a partir de informações que eventualmente forem obtidas e processadas por essa integração.
— A situação é complexa e exige uma integração de fato, com qualidade, até porque a atual evolução dos negócios do crime organizado no processo de lavagem do dinheiro requer investigações profundas. Os resultados encontrados podem impor intervenções policiais em locais distintos: da Avenida Vieira Souto (em Ipanema) a comunidades de baixa renda e difícil acesso — afirma Beltrame, ao lembrar que o Primeiro Comando da Capital (PCC), nos últimos anos, investiu em uma série de empreendimentos, como empresas de ônibus em São Paulo.
Risco iminente
Se integração efetiva é fundamental, obstáculos na política podem ser entraves ao novo escritório, como apontou ontem o colunista Lauro Jardim. A medida é vista com ceticismo nos bastidores tanto do governo Lula quanto no de Castro.
— Não vai dar certo porque ali não há uma relação de confiança — resume um petista graduado a Jardim.
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No Planalto, adiantou o colunista, a aposta é de médio prazo: fazer uma versão Rio de Janeiro da Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto a partir de investigações da PF e da Receita Federal e que mirou os negócios do PCC.
Sociólogo e ex-secretário adjunto de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais entre 2003 e 2007, Luís Flávio Sapori também prevê dificuldades para a união anunciada. Segundo ele, para a integração dar certo, será importante a participação de diferentes órgãos na governança, incluindo informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério Público e das polícias estaduais e federal.
— Se essa estrutura de governança não for apresentada de forma clara em no máximo dez dias, a proposta tende a ficar apenas no discurso das boas intenções. O presidente, o governador e o Ministro da Justiça devem se impor como autoridades políticas para que haja uma integração efetiva desses dados. Tradicionalmente, sempre houve uma dificuldade entre instituições de partilhar dados por questões corporativistas — avalia Sapori.
Coronel da reserva, Mário Sérgio Brito Duarte, que comandava a PM do Rio em 2010, quando o Complexo do Alemão foi ocupado para instauração de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), enxerga o discurso de integração entre os setores de inteligência com mais descrença. É uma falácia, diz ele, ao argumentar que União e estados devem atuar de forma colaborativa.
— Esses sistemas já trabalham de forma colaborativa há mais de 30 anos. Não é propriamente uma novidade. A prioridade é a Polícia Federal evitar a entrada de fuzis no país. E que haja o espírito de colaboração, com vontade política, independentemente de posições ideológicas — diz ele, ao defender ainda penas mais rigorosas para bandidos que forem pegos portando armas “de guerra, como fuzis”. — O foco é que o criminoso tenha medo da lei, saiba que a pena pode ser mais rigorosa — conclui.
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